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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Protecionismo é perverso para a América Latina
RICHARD LAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"
Na política, a distância
mais curta entre dois pontos nem sempre é uma linha reta. Isso talvez seja uma espécie
de clichê, mas é uma explicação
prática para os defensores do livre comércio no governo de
George W. Bush que se vêem
obrigados a defender as tarifas
sobre o aço e a nova lei agrícola.
Infelizmente, o desvio pode ser
especialmente tortuoso e arriscado para a América Latina, onde o protecionismo norte-americano, ainda que temporário,
talvez tenha consequências lastimáveis.
As oportunidades de exportação perdidas para produtores
agrícolas como o Brasil e a Argentina são parte do problema.
Mas as verdadeiras perdas devem ser políticas.
Qualquer que seja a lógica eleitoral que a justifique, a disposição de Bush de apaziguar os interesses dos operários siderúrgicos ou fazendeiros norte-americanos não beneficiou em nada
os políticos latino-americanos
que lutam pelo processo de liberalização.
"As medidas solapam aqueles
que são favoráveis a políticas
abertas, porque criam um sentimento de que os EUA pregam
uma coisa e fazem o oposto", diz
Rubens Barbosa, embaixador
brasileiro em Washington. "O
Brasil demitiu 100 mil operários
em sua indústria siderúrgica e
agora vemos os EUA tomando
medidas para proteger a siderurgia deles."
Alejandro Foxley, senador e
antigo ministro das Finanças do
Chile, concorda. "As medidas
foram devastadoras para aqueles que acreditam em livre comércio. Torna-se cada vez mais
difícil resistir às pressões [protecionistas] internas. Muita gente
diz que é ridículo que estejamos
jogando um jogo de que ninguém mais participa", diz.
De fato, as medidas podem até
aumentar o risco de que alguns
países rejeitem as reformas pró-mercado e embarquem em novas experiências populistas.
As iniciativas norte-americanas certamente não poderiam
vir em momento pior, com populistas ao velho estilo, como
Alan Garcia, ex-presidente e hoje líder da oposição do Peru,
ocupando boas posições nas
corridas eleitorais. Como diz
Foxley, "pode-se sentir a reação,
o reforço das alternativas populistas e até mesmo certas tentações autoritárias".
A situação política é especialmente sensível no Brasil, onde o
rápido avanço de Luiz Inácio
Lula da Silva nas pesquisas de
opinião vem sendo a mais marcante característica de uma virada acentuada à esquerda nos
meses que antecedem as eleições de outubro.
Determinar se Washington se
preocupará caso a "dinâmica da
dívida" brasileira escape ao controle é ainda outra questão. O
surto protecionista foi acompanhado pelo que se pode descrever como um descaso maligno
para com a região.
Depois dos ataques de 11 de setembro e da guerra no Afeganistão, nem o desastre econômico
na Argentina nem a crise política na Venezuela (apesar da controvérsia quanto à posição do
governo Bush durante o golpe
malsucedido do mês passado
contra o presidente Hugo Chávez) atraíram grande interesse
do governo ou do Congresso.
"A América Latina não tem influência suficiente para se fazer
sentir", diz Jim Moran, deputado democrata que apóia a criação de laços mais estreitos com a
região e é ferrenho adversário da
lei agrícola e das tarifas sobre o
aço. "As coisas estão mal e podem piorar ainda mais, sem que
ninguém aqui sinta que haverá
consequências sérias caso ignoremos a América Latina", acrescenta o deputado.
Tradução de Paulo Migliacci
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