São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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ESTRESSE

Investimento externo cai, remessa de dólar cresce, negócios são poucos, mas mercado não vê razão forte para outro dia ruim

Calmaria cede, dólar sobe, BC intervém

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O investimento estrangeiro no país começa a cair, os investimento externo na Bolsa entrou no vermelho pela primeira vez no ano, cresce a remessa de lucros e dividendos para o exterior, embora o déficit externo do país nos últimos doze meses tenha melhorado. Na falta de notícias decisivas e em dia de poucos negócios, o mercado criou o fato negativo. Após o ensaio de tranquilidade de segunda, os indicadores financeiros voltaram a se deteriorar.
O dólar subiu 1,55%, para R$ 2,823, segundo maior valor neste ano. O risco-país voltou a ser o segundo maior do mundo. O indicador medido pelo JP Morgan subiu 7%, para 1.631 pontos, e está atrás apenas da Argentina.
A Bovespa caiu 0,5% e, nos 20 primeiros dias de junho, a instituição perdeu R$ 769,347 milhões em investimentos estrangeiros.
Analistas tiveram dificuldades em encontrar boas explicações para a nova piora dos indicadores ontem. Todos concordam que o mercado está bastante volátil e o volume de negócios é bastante reduzido. Assim, qualquer pequena operação de compra de dólar, por exemplo, afeta fortemente a variação da cotação da moeda americana no fechamento do dia.
A divulgação de queda dos investimentos diretos no país ontem foi apontada por analistas como um dos motivos para justificar a volta do pessimismo.
"O mercado não quer olhar para dados positivos, como os números da balança comercial ou o ajuste das transações correntes", diz Guilherme da Nóbrega, do banco Fibra. "Não sei o que pode ocorrer para o quadro melhorar."
Ele avalia que a queda de investimentos já ocorre há vários meses e que o cenário mundial não é favorável ao fluxo global de capitais. Logo, esses números não deveriam causar tanto nervosismo.
"O mercado está muito vulnerável", afirma Helio Osaki, da Finambras. "Ele pode ficar positivo com qualquer boa notícia, mas é claro que está mais fácil ele cair muito com um fato negativo."
Voltaram a circular rumores em relação ao futuro político do país. Dizia-se que Anthony Garotinho (PSB) desistiria de disputar a presidência para se aliar a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Garotinho desmentiu o boato, mas a avaliação, em princípio, era que a aliança fortaleceria a candidatura de Lula. O mercado havia se animado, anteontem, com um melhor desempenho de José Serra (PSDB) nas pesquisas. A vitória do candidato do governo agrada ao mercado por representar a continuidade da atual política econômica.
O nervosismo atual dos investidores é atribuído por muitos analistas à possibilidade de Lula, um candidato da oposição, vencer as eleições. Os investidores não querem títulos da dívida pública brasileira de longo prazo, pela incerteza em relação ao futuro governo. O Banco Central passou a trocar esses títulos por outros de prazo mais curto, o que concentrou os vencimentos da dívida no final deste ano. Daí o temor em relação ao governo brasileiro dar um calote no pagamento da dívida.
O BC interveio no mercado ontem ao vender US$ 300 milhões leilões de linha externa. Nessa operação, ele vende a moeda e se compromete a recomprá-la em prazo de até dois meses.
A instituição já vendeu diretamente ao mercado US$ 345 milhões desde 13 de junho, quando anunciou um minipacote econômico para acalmar o mercado. Mesmo assim, o dólar subiu 4,1% nesse período. Foram três vendas de dólares, a maior delas, de US$ 275 milhões, em 20 de junho.



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