São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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RANKING

Relatório de banco dos EUA mostra que companhias de outros países da AL têm dívidas maiores do que as do Brasil

Empresa nacional deve menos que mexicana

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O banco norte-americano Merrill Lynch, que diz a seus clientes onde investir ou não o dinheiro, deu ontem a boa notícia da semana. Levantamento da instituição mostra que as empresas brasileiras estão entre as menos endividadas na América Latina.
Entretanto um alerta foi dado: há 10 companhias no país, entre as 37 analisadas, com taxa de endividamento acima de 40%. Esse índice corresponde ao valor do débito total da empresa dividido pelos seus ativos.
No ranking do banco, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países com a menor taxa de endividamento na América Latina. Hoje, as dívidas (de curto, médio e longo prazos) equivalem a 22,2% dos ativos totais das empresas no país (engloba desde equipamentos e terrenos até o valor da marca da companhia no mercado). É uma taxa elevada, mas inferior ao índice apurado em outros países.
No México, essa taxa chega a 29,7% e, na Argentina, a 65%. Dessa forma, pode-se dizer que de cada US$ 100 que as companhias argentinas têm em ativos, US$ 65 estão comprometidos para pagamento de futuros débitos. Nesse ranking, o Brasil perde para a Colômbia (13,8%) e a Venezuela (17,1%). A média entre os sete países latinos analisados pelo banco está em 26,4%.
O fato de uma empresa estar endividada não é necessariamente ruim. As empresas podem captar empréstimos para bancar novos investimentos. Nos EUA, por exemplo, o índice de endividamento supera 37% -taxa maior do que a apurada em quase todos os países latinos. A questão é até que ponto as companhias têm caixa necessário para arcar com a despesa.
Além disso, é preciso ver se não há risco de explosão das dívidas -caso grande parte dos débitos esteja em moeda norte-americana. Se isso ocorre, e há forte valorização do dólar, a dívida cresce. E esse cenário força as empresas a buscar novos empréstimos para pagar os antigos débitos.
Para tentar definir quem apresenta situação mais delicada, a instituição elaborou um ranking que mostra quais são as dez companhias com taxa de endividamento (débito dividido pelo ativo) que supera 40% no Brasil. Nessa lista estão grupos como Net, Klabin, Usiminas e Light.
Estimativa do Merrill Lynch para este ano mostra, por exemplo, que apenas 32% das vendas da Klabin serão pagas em dólar.
No caso da Usiminas, essa taxa cai para 17%. De acordo com o relatório, "CSN e Gerdau são os principais perdedores no ano, com uma grande proporção de seus custos fixados em dólares", mas com parte da receita em reais. A Embratel também é lembrada: estima-se que terá 99% dos débitos em dólar no final do ano, informa o relatório.
Além dessas questões, o banco fez considerações a respeito do quadro eleitoral. Os técnicos acreditam "que já se torna evidente a melhora do candidato José Serra (PSDB) nas pesquisas eleitorais".
O banco ressalta, ao mesmo tempo, consequências positivas para a candidatura do PT à Presidência, como o crescimento no tempo de exposição de Luiz Inácio Lula da Silva nas campanhas veiculadas na TV. Isso ocorre com a entrada do PL (Partido Liberal) na coligação PT/PC do B.
Para o banco, o atual momento de instabilidade no Brasil, entretanto, favorece o candidato do governo "pois os eleitores, em momentos de crise, tornam-se mais conservadores e preferem adotar a política da continuidade".



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