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LUÍS NASSIF
A operação dos C-bonds
Ainda não estão claros os motivos que levaram o Banco Central a recomprar títulos da dívida externa nas últimas semanas, o que foi classificado de "uma forma boa" de gastar as reservas internacionais. Nem são convincentes as
explicações dadas pelo presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, em sua entrevista ao programa "Roda Viva".
O mercado de C-bonds é estreito, de baixa liquidez, sujeito a
movimentos especulativos. Seus
atores cabem em uma mesa pequena no happy hour do Oak
Room, onde costumam se reunir
para o martíni diário. Por isso
mesmo, conseguem operar o
mercado da forma como quiserem.
Armínio deu três explicações
para a operação.
A primeira é que se deveria
aproveitar o barateamento dos
papéis de curto prazo para quitar dívidas e reduzir a pressão
sobre o novo presidente. Equivale ao bombeiro desviar-se do incêndio que lavra na floresta para
molhar algumas árvores mais à
frente, que poderão futuramente
estar sujeitas ao fogo.
A segunda é que a recompra
abriria espaço para a rolagem de
títulos privados. De que maneira? A lógica é que, se o sujeito
tem uma determinada exposição ao Brasil, ao recomprar os títulos públicos ele substituiria para papéis privados brasileiros.
Com o risco Brasil a mais de
1.500 pontos, é mais fácil comprar papéis da Colômbia conflagrada. A operação serviu apenas
para que eles saíssem da posição
Brasil.
A terceira é que o BC não pode
deixar ao léu quem apostou a favor do Brasil. Ao recomprar os
C-bonds de curto prazo, o BC
não inverteu sua queda, mas
tentou minimizar o prejuízo dos
investidores. Ora, quem está
saindo da posição Brasil não está apostando a favor. São os
mesmos três ou quatro bancos
que, em qualquer momento de
turbulência, potencializam a crise. Aliás, são os mesmos que estão atuando quase solitariamente no mercado, já que os
bancos mais técnicos e/ou mais
conservadores preferem se afastar em momentos de loucura.
Na audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação
da Câmara, Armínio manteve
em segredo a data e o valor total.
Operações desse tipo comportam
sigilo. Mesmo assim, o BC precisará comprovar que havia uma
lógica de interesse nacional na
operação e que essa estratégia é
eficaz. Afinal, está se gastando
água no deserto.
Não há nenhum motivo para
desconfiar da isenção do BC.
Mas operação desse tipo cheira à
chantagem tipo "se o BC me ajuda a sair dessa, eu ajudo o BC".
Agradecimentos
Com o risco de parecer imodesto, mas para não correr o risco de
parecer ingrato, gostaria de agradecer às homenagens de que a coluna foi alvo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, dos
bravos militantes do Teatro Popular Olho Vivo, da Escola de
Samba Camisa Verde e -com
um pouco de atraso da minha
parte- da Associação dos Juízes
Federais, do Tribunal Regional
Federal de Brasília e do Movimento Pela Qualidade do Estado
do Rio de Janeiro.
Menos que a personalização, o
que importa é a comprovação de
que é possível, em um mesmo espaço, conviverem a bandeira da
modernização e dos valores culturais de nosso povo, a busca de novos paradigmas da globalização e
a defesa dos direitos individuais e
do aprimoramento das instituições democráticas clássicas.
Previ
A SPC (Secretaria da Previdência Complementar) até pode ter
razão legal para intervir na Previ.
Mas não se pode perder de vista
que a participação de representantes dos trabalhadores no Conselho da Previ impediu a continuidade de operações duvidosas,
além de ter sido fundamental para legitimar o grande acordo entre o fundo e seu patrocinador, o
Banco do Brasil. Governança corporativa supõe compartilhamento de gestão. Não está certo jogar
a banheira com a criança dentro.
Sensus
A empresa de pesquisas Sensus
entra em contato para explicar o
descompasso entre seus resultados e o de outras instituições ao
apontar queda de José Serra nas
pesquisas quando outras empresas apontavam alta e, agora,
apontar alta.
Segundo a empresa, a pesquisa
anterior ocorreu especificamente
na semana em que houve o caso
Lunus, a tentativa de imputar a
responsabilidade da devassa da
empresa de Murad a FHC e Serra
e o caso Ricardo Sérgio. Houve
reação dos eleitores de maior renda do centro-sul e um movimento
dos nordestinos em direção a Lula.
Foi a única pesquisa divulgada
na ocasião, por conta do compromisso com a Confederação Nacional dos Transportes. O Datafolha
não quis fazer a pesquisa de campo, por considerar que a amostragem estaria contaminada. E a
pesquisa do Ibope para o Bank of
America não foi divulgada.
Essa a razão da discrepância.
Posteriormente, o medo da crise e
a indicação de Rita Camata levaram à inversão dos votos a Serra.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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