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VINICIUS TORRES FREIRE
Recordar é viver
Há críticas ao "atraso" e ao "excesso de tranqüilidade do BC" ao reagir a inflação, mas mercados foram mais lerdos
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O CHEIRO de queimado difundido pela prévia do IPCA e o
tom até tranqüilo do Relatório de Inflação, divulgados ontem,
suscitaram alguma irritação nos povos do mercado. O IPCA-15 sugere
que, mantida a presente balada, a inflação "oficial", o IPCA do mês
"cheio", deve fechar o ano por volta
de 6,5%, o teto da meta. Ou mais.
Na prática, nas taxas básicas de juros de mercado, a reação não chegou
a ser estridente -o DI para janeiro
de 2010 subiu um pouco, para 14,8%
ao ano, embora já tenha flutuado em
torno de 14,9%. É também nessas taxas de juros que o mercado projeta
suas opiniões "reais" a respeito do
custo do dinheiro e de qual será o piso da íngreme escada dos juros dos
negócios "reais". As taxas continuam horríveis, de qualquer modo,
embora tenham parado de projetar
uma deterioração adicional do cenário para inflação/juros -por ora.
Mas vários participantes do mercado reclamavam ontem que o BC
reagiu tardiamente à inflação e, pior
ainda, estaria ficando atrasado de
novo, dada a piora nos indicadores
recentes de inflação. Pode ser, pode
não ser, mas, antes de lapidar o BC
(lapidar no sentido de atirar pedras),
seria bom lapidar os instrumentos
de previsão e análise, entre eles as
famosas expectativas de inflação.
Ninguém com alguma substância
neurológica entre as orelhas decerto
acredita que as expectativas de mercado sejam previsões pontuais de
inflação futura. Ainda assim, recordar é viver. Pouco antes de o Banco
Central dar implicitamente como
encerrado o ciclo de corte de juros,
em setembro, as melhores medidas
de expectativas de inflação para
2008 flutuavam em torno de 4%.
Mais importante, reagiam de modo
lento e disperso a ruídos inflacionários. Até março havia marcadas divisões até sobre a necessidade de um aperto de juros, e ainda mais sobre o
tamanho do arrocho.
Considere-se ainda o caso das
equipes econômicas de grandes
bancos -nenhuma das que serão citadas a seguir têm detonado o BC, ao
menos para esta Folha. Ressalte-se
ainda que há uma grande diferença
entre operadores de mercado e economistas da pesquisa. Isto posto,
até março, pelo menos, havia economista de banco a acreditar em
queda de juros lá pelo final do ano.
Entre os economistas mais pessimistas à respeito da inflação, estavam os do Real/Santander e os do
Morgan Stanley. Os do JPMorgan e
alguns do Unibanco eram mais
"neutros", digamos. Os do Itaú, os
do Bradesco e os do Credit Suisse
eram mais otimistas. No Real/Santander, no Unibanco e no Itaú, há
ex-diretores recentes do BC. Difícil
acusar os economistas de todos esses bancos de lassidão monetária.
Em alguma medida, porém, todo
mundo foi surpreendido pela intensidade da alta de preços a partir de
fevereiro (notada em março, abril) .
Embora todo mundo reconheça que
o caldo entornou, e muito, o pessoal
de grandes bancos não parece muito agitado -há mesmo declarações
animadas sobre a maior efetividade
da política monetária neste ciclo de
alta de juros. Pode ser. Mas o fato é
que todo mundo foi pego de calças
curtas, que ninguém sabe como os
dissídios vão reagir à alta de preços
e, pior ainda, ninguém sabe nada sobre o destino da política monetária
lá fora e dos preços internacionais.
vinit@uol.com.br
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