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BC prevê inflação acima do centro da meta
Banco eleva estimativa do IPCA deste ano para 6%, e o de 2009, para 4,7%, e indica que manterá alta dos juros por mais tempo
Autoridade monetária admite em relatório risco
de 25% de que inflação
ultrapasse o teto da
meta deste ano, de 6,5%
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central elevou a
projeção de inflação para este
ano de 4,6% para 6%. A expectativa para 2009, de 4,7%, também ficou acima do centro da
meta -que é de 4,5% nos dois
anos. As novas perspectivas foram divulgadas ontem no Relatório de Inflação.
Segundo os analistas ouvidos
pela Folha, o documento, divulgado trimestralmente, não
traz surpresas, porque essas já
eram as previsões do mercado
financeiro. Mas indica que o
BC vai manter a trajetória de
alta dos juros pelo menos até o
fim do ano.
Mesmo depois de elevar a taxa básica de juros (Selic) em
um ponto percentual desde
abril, para 12,25%, o BC admitiu que existe a probabilidade
de 25% de a inflação medida
pelo IPCA ultrapassar o teto da
meta deste ano. No relatório de
março, a probabilidade era de
apenas 4%.
Embora a meta seja de 4,5%,
existe um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais.
Caso o reajuste de preços ultrapasse 6,5%, o presidente do BC,
Henrique Meirelles, será obrigado a justificar em carta aberta as razões para o descumprimento de uma meta.
Durante a divulgação do Relatório de Inflação, o diretor de
Política Econômica do BC, Mário Mesquita, sinalizou diversas vezes que o ciclo de aumento da taxa básica de juros será
longo. Citou, por exemplo, que
a instituição vai atuar "em um
período razoável de tempo".
"O importante, especialmente neste momento ante pressões inflacionárias que se acumulam, é que a sociedade tenha claro que o BC fará o necessário, enquanto for necessário, para manter a inflação alinhada à trajetória das metas
definidas pelo CMN [Conselho
Monetário Nacional]."
Mesquita não indicou, porém, se o BC deve acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,75
ponto a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Nas últimas duas reuniões, a taxa subiu 0,5 ponto.
Joel Bogdanski, economista
do Itaú, acredita que o Copom
vá continuar elevando o juro
em doses de 0,5 ponto. Ele lembra que o aumento do superávit primário do governo será
uma contribuição do governo
ao trabalho do BC. E aposta
que o aperto fiscal será superior a 4,3%, como divulgado.
"O governo entendeu a seriedade da situação e resolveu atacar com mais armas, não só os
juros. Mas, de fato, o BC vai
precisar de altas adicionais de
juros. Acho que nem o BC sabe
agora qual será o momento de
parar de subir a Selic."
José Luciano da Costa, analista do Unibanco Asset Management, acredita que a Selic
possa chegar a 14,5% neste ano.
Ele avalia que, se a inflação se
aproximar mais do teto da meta, o BC pode subir os juros para até 15%, o que significa aumento até o início de 2009.
O Relatório de Inflação, assim como a ata da última reunião, mostra a preocupação do
BC sobre o aumento da demanda, que gera a chamada "pressão inflacionária interna".
Mesquita, diretor do BC, admitiu que a inflação brasileira
sofre com as pressões externas,
de reajuste dos preços dos alimentos, das outras commodities e de energia. Mas lembrou
que a demanda doméstica cresceu 8,5% no primeiro trimestre
deste ano, contra crescimento
do PIB de 5,8%. A projeção para o crescimento da economia
foi mantida em 4,8%, a mesma
previsão do relatório do primeiro trimestre.
"A utilização da capacidade
instalada continua em níveis
elevados e não mostra nenhum
retorno. Continua operando
com pouca ociosidade." Ele rebateu as críticas dos empresários sobre a alta dos juros. Disse que a melhor contribuição
para os investimentos é o compromisso de manter a inflação
sob controle.
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