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OMC convoca reunião para "salvar" Rodada Doha ainda neste ano
Ministerial será em Genebra, no dia 21; Brasil e Uruguai concordam com fórmula proposta, mas a Argentina não
Com a fórmula, o Mercosul pode proteger até 14% das linhas tarifárias dos cortes de tarifas de importação aplicados a outros produtos
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, convocou
ontem uma esperada reunião
ministerial para o dia 21 de julho, em Genebra, no que pode
ser a última chance de destravar as negociações da Rodada
Doha ainda neste ano.
O Mercosul irá à reunião dividido. A Argentina não concorda com a fórmula proposta
pela OMC -e aceita pelo Brasil- para calcular flexibilidades
para as indústrias de uniões
aduaneiras. A fórmula, que usa
como base o valor do comércio
exterior do Brasil, permitiria ao
Mercosul proteger até 14% de
suas linhas tarifárias dos cortes
de tarifas de importação aplicados a outros produtos.
A Folha apurou que, na reunião com embaixadores ontem
na sede da OMC, Lamy testemunhou a discordância entre
Brasil e Argentina em relação
ao encontro de ministros do
dia 21. Depois que o negociador
indiano manifestou insatisfação com vários pontos da proposta industrial, o subsecretário de Assuntos Comerciais argentino, Nestor Stancanelli,
aproveitou para dizer que também considerava a discussão
sobre o Mercosul aberta.
O embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney retrucou que
o Itamaraty aceitava a proposta e que o problema era da Argentina, não do Mercosul. Foi
apoiado pelo Uruguai.
A idéia de realizar um encontro de ministros enquanto ainda persistem divergências significativas entre os negociadores, sobretudo na área industrial, é considerada arriscada
por muitos. Mas Lamy concluiu que adiar uma reunião de
alto nível representaria um risco ainda maior, deixando pouco tempo para que uma decisão
fosse tomada pela atual administração americana, que deixa
a Casa Branca em janeiro.
Chance acima de 50%
Segundo um negociador presente às discussões de ontem,
Lamy calculou que as chances
de sucesso do encontro de julho são "maiores do que 50%".
Trinta ministros dos principais
países negociadores se reunirão durante três dias, em busca
de um acordo sobre a abertura
de mercados nos setores agrícola, industrial e de serviços.
Lançadas em Doha em 2001,
as negociações na OMC para a
redução das barreiras ao comércio mundial tinham como
meta a obtenção de um acordo
até 2004. Mas o impasse entre
países ricos e emergentes nas
questões relacionadas aos subsídios agrícolas e às tarifas industriais jamais foi superado.
Agora, sofre a ameaça do calendário político.
Com a sucessão americana,
os negociadores temem ter que
esperar até o fim do primeiro
semestre de 2009 para que a
equipe de comércio do novo
presidente retome o processo.
A incerteza política aumenta
devido às eleições nacionais na
Índia, em maio, e para o Parlamento Europeu, em junho.
Além disso, a rejeição da Irlanda ao Tratado de Lisboa tornou
tenso o ambiente na UE.
Na semana passada, durante
a cúpula do Conselho Europeu
em Bruxelas, o presidente da
França, Nicolas Sarkozy, atribuiu o "não" irlandês às concessões agrícolas feitas pela
União Européia na OMC. Disse
ainda que considerava impossível um acordo na Rodada Doha
sem o Tratado de Lisboa.
De passagem ontem por Genebra, o chefe de Relações Exteriores da UE, Javier Solana,
minimizou a controvérsia e
ressaltou a importância de um
acordo na OMC. "Doha é a medida mais importante para a redução da pobreza. Se conseguirmos uma acordo, será uma notícia fantástica para o mundo em desenvolvimento."
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