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Acordo na OMC avança com nova proposta
Soluções para desbloquear negociação comercial global têm apoio de EUA, UE e Brasil, mas ainda enfrentam resistência
Oposição de países como Índia, Argentina e Indonésia se torna desafio à liderança brasileira entre o grupo
de emergentes, o G20
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Um pacote de soluções para
as divergências que bloqueiam
um acordo global de comércio,
apresentado ontem em Genebra, foi considerado um avanço
ontem por Brasil, EUA e União
Européia. Para o chanceler brasileiro, Celso Amorim, foi "um
grande passo" para colocar fim
a sete anos de impasse na Rodada Doha. Mas o consenso ainda
não foi atingido, com resistências principalmente de Índia,
Argentina e Indonésia.
A proposta de Pascal Lamy,
diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio),
foi apresentada aos integrantes
do grupo de sete países que há
quatro dias tentam obter abrir
caminho para a mais ambiciosa
tentativa de abertura comercial
já feita. O pacote inclui fórmulas para a redução do protecionismo agrícola dos países ricos
e para os cortes nas tarifas industriais dos emergentes.
Brasil, EUA, União Européia,
Japão, Austrália e China aceitaram a exigência de Lamy de
acatar o pacote como um todo.
A Índia, porém, se manteve irredutível em sua exigência de
impor tarifas mais altas para
frear surtos de importação
agrícola em tempos de preços
baixos. Como já havia ocorrido
no dia anterior, quando a negociação quase naufragou, a intransigência indiana continua
sendo o maior entrave.
Em seguida o pacote foi levado ao fórum ampliado de negociação, de pouco mais de 30 ministros, quando a Índia ganhou
a companhia de Argentina e Indonésia. A negociação formal
na OMC só será retomada amanhã, mas hoje as diferenças começarão a ser discutidas dentro das alianças entre os países.
O G20, grupo de países emergentes, se reunirá no fim da
manhã e o Brasil deve ter enorme trabalho para vencer a resistência de Argentina, Índia e
Indonésia, que fazem parte da
aliança. "Com essa proposta
não há acordo", disse Jorge
Taiana, chanceler da Argentina, que exige mais cortes nos
subsídios agrícolas dos países
ricos e rejeita a fórmula de cortes tarifários para a indústria
dos emergentes.
Entre os europeus também
há atritos, apesar de o comissário de Comércio da UE, Peter
Mandelson, ter manifestado
otimismo. A Folha apurou que
pelo menos quatro países
-França, Itália, Irlanda e Portugal- não aceitam a proposta,
exigindo mais acesso a mercados industriais de emergentes.
Celso Amorim confirmou
que o Brasil aceita o pacote de
salvação de Doha e disse que as
concessões feitas pelos países
desenvolvidos justificaram a
contrapartida dos emergentes
de abertura na área industrial.
"Falei com o presidente Lula
ontem [quinta-feira] e a instrução que recebi foi a de que, desde que os outros fossem flexíveis e que o resultado fosse favorável aos mais pobres, eu
também poderia ser flexível",
disse. "E posso dizer que o primeiro país que aceitou o documento foi o Brasil."
O esboço de acordo apresentado por Lamy prevê que o teto
dos subsídios agrícolas dos
EUA seja fixado em US$ 14,5
bilhões, uma concessão de US$
500 milhões em relação à primeira oferta americana, apresentada na terça-feira. A contrapartida exigida com mais insistência pelos americanos, de
acordos setoriais para eliminação de tarifas, foi incluída como
cláusula não obrigatória.
Ainda não há acordo, principalmente pela relutância da Índia em abrir mão de uma proteção elevada pelo Mecanismo
Especial de Salvaguardas. Se
aplicado, o mecanismo poderia
ser um obstáculo significativo
para os principais exportadores agrícolas, como o Brasil,
pois dificultaria a entrada nos
maiores mercados emergentes,
sobretudo Índia e China.
Apontado como o maior responsável pelo impasse, o ministro do Comércio da Índia,
Kamal Nath, deixou a OMC ontem mantendo uma posição
dura. "Não aceitaremos um
acordo que sacrifique a segurança alimentar e a sobrevivência de milhões de agricultores indianos", disse. A representante do Comércio dos
EUA, Susan Schwab traçou um
quadro de confronto. "Um punhado de países emergentes
ameaça a Rodada", disse.
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