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Para Lula, Rodada Doha está "mais perto de um ponto de equilíbrio"
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Depois de conversar por celular com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse que a negociação
da Rodada Doha está "mais
perto de um ponto de equilíbrio". A posição otimista contraria os resultados das negociações mais recentes, mas Lula afirmou que "o que o meu
ministro disse para mim, ele
não disse para vocês".
"Nós não podemos aceitar
um acordo que implique frear a
indústria dos países em desenvolvimento. Mas sempre existirá um ponto de equilíbrio. Por
isso a negociação é importante.
Aquilo que parecia ser fácil fica
difícil, aquilo que parecia difícil
fica fácil. E vocês vão perceber
que tudo o que parecia impossível fica possível", disse, em entrevista na varanda da imensa
residência do embaixador do
Brasil em Portugal.
Sorrindo, o presidente brasileiro afirmou que continua
"otimista" e que não pode nem
mencionar a possibilidade de
fracasso. "Se eu disser que não
pode acontecer, como as pessoas que fazem manchetes dos
jornais são muito inteligentes,
a manchete vai dizer: presidente reconhece que pode não
acontecer. Para evitar essa
manchete, eu até o último milésimo estarei acreditando que
vai acontecer o acordo da Rodada Doha", disse Lula. Antes, havia dito que, "se não acontecer
[um acordo], valeu o sacrifício".
O presidente rejeitou a mais
recente oferta de alguns países,
de criar cotas para a entrada do
álcool em troca de uma abertura do mercado brasileiro. "Nós
não queremos privilegiar um
setor contra outro setor. O que
nós queremos é um pacote que
envolva agricultura, que possa
ajudar a flexibilização do mercado agrícola europeu para os
países pobres e para os países
emergentes", afirmou Lula,
que confia que "a inteligência
humana obrigará os governantes do mundo inteiro a ter consciência de que é preciso um
acordo". Lula aproveitou ainda
a entrevista para mandar uma
bronca bem clara ao ministro
da Agricultura, Reinhold Stephanes, que havia minimizado
a importância das negociações:
"A fala do Stephanes não tem
nenhuma influência na negociação da Rodada Doha".
Fome
Antes, em discurso para os
integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), Lula havia dito que as
"práticas desleais do comércio
internacional" têm ligação direta com a fome no mundo, em
um de seus mais duros ataques
contra os subsídios "intoleráveis" dos países desenvolvidos.
Ele deixou claro que a disputa em Doha é por um "acordo
que deixe de tratar o comércio
agrícola como uma exceção às
regras" do livre comércio e defendeu "um entendimento que
não ignore as populações que
sofrem no estômago com as
práticas desleais do comércio
internacional".
No mês passado, em Roma,
na Cúpula sobre Segurança Alimentar, Lula já havia discursado que um "fator decisivo para
a alta dos alimentos é o intolerável protecionismo com que
os países ricos cercam a sua
agricultura, atrofiando e desorganizando a produção em outros países, especialmente os
mais pobres".
Ontem, em reunião fechada
dos oitos integrantes da CPLP,
o presidente brasileiro falou
que, "após anos de dependência e de lutar contra o protecionismo das economias desenvolvidas, muitos países abandonaram suas agriculturas e,
com a alta de preços e diminuição dos estoques, suas populações sofrem com a falta de alternativas".
O discurso foi passado por
um integrante da comitiva presidencial em Lisboa.
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