São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Moinhos brasileiros querem antidumping contra argentinos

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A indústria nacional de trigo mudou de estratégia e promete entrar com um pedido de antidumping contra os moinhos argentinos. A idéia inicial era buscar medidas contra a aplicação de subsídios pelo governo argentino no setor.
Uma medida contra os subsídios envolveria o governo argentino, que é o fornecedor de recursos para o setor. Já a medida antidumping visa as empresas que, nesse caso específico, seriam acusadas de vender farinha de trigo ao Brasil com valores inferiores aos praticados na Argentina.
Tanto a prática de subsídios como a de dumping distorcem o mercado, afetando os concorrentes. A opção pelo antidumping foi para evitar o envolvimento dos governos e, conseqüentemente, não criar sensibilidades entre Brasília e Buenos Aires. Esse recurso antidumping, além de ser prática comercial regular, terá uma resposta mais rápida, na avaliação das indústrias.
A relação comercial no setor de trigo não é boa para o Brasil nem para a Argentina, na avaliação de Sergio Amaral, embaixador e ex-ministro do Desenvolvimento, agora presidente da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).
Os argentinos sempre tiveram no Brasil compradores fiéis, mas o cenário atual gerou muitas incertezas. Com isso, o Brasil está incentivando a produção, retirou temporariamente a TEC (Tarifa Externa Comum) e pode ficar menos dependente dos argentinos, que perdem um mercado cativo.
Os moinhos brasileiros querem ter, no entanto, um último diálogo com os argentinos antes de entrar com uma medida antidumping. Na próxima viagem de Lula à Argentina, em agosto, o trigo poderá ser um dos itens das conversações dos dois presidentes.
A situação não pode ficar como está, na avaliação da indústria brasileira. Os moinhos argentinos pagam US$ 107 por tonelada de trigo e ainda recebem US$ 57 de devolução de impostos se comprovarem que a venda da farinha foi feita no mercado interno.
Sendo que essas empresas são dos próprios moinhos, elas em seguida repassam a farinha para o mercado externo, com preços bem menores do que os de produção no Brasil.
Os moinhos brasileiros importam o trigo da Argentina -quando o governo libera as exportações- por US$ 320 por tonelada. Os subsídios dados pelo governo argentino fizeram com que a participação da farinha de trigo do país, que era de 3,5% há dois anos, subisse para 10% do mercado brasileiro.

Desoneração
Além dos problemas externos, os moinhos brasileiros buscam, também, uma desoneração da farinha de trigo internamente. A queda temporária da PIS/Cofins já permitiu uma redução de 10% nos preços da farinha, o que deve permitir um recuo de 4% nos preços do pãozinho, segundo Amaral.
Após uma safra difícil no abastecimento de trigo, a Abitrigo quer uma integração de toda a cadeia produtiva.
Em outubro, o setor discutirá oferta de produto, qualidade, desoneração, logística e busca de uma elevação de consumo de pães e massas.
Se o mercado de trigo ainda traz algumas incertezas, inclusive porque existem dúvidas sobre a nova safra argentina, os próximos meses deverão ser um período de menor turbulência no abastecimento interno de trigo.
As indústrias importaram 5,4 milhões de toneladas neste ano. A produção brasileira poderá ficar entre 5 milhões e 5,5 milhões. O consumo anual de trigo gira em torno de 10 milhões de toneladas.


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