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Moinhos brasileiros querem antidumping contra argentinos
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A indústria nacional de trigo
mudou de estratégia e promete
entrar com um pedido de antidumping contra os moinhos argentinos. A idéia inicial era
buscar medidas contra a aplicação de subsídios pelo governo
argentino no setor.
Uma medida contra os subsídios envolveria o governo argentino, que é o fornecedor de
recursos para o setor. Já a medida antidumping visa as empresas que, nesse caso específico, seriam acusadas de vender
farinha de trigo ao Brasil com
valores inferiores aos praticados na Argentina.
Tanto a prática de subsídios
como a de dumping distorcem
o mercado, afetando os concorrentes. A opção pelo antidumping foi para evitar o envolvimento dos governos e, conseqüentemente, não criar sensibilidades entre Brasília e Buenos Aires. Esse recurso antidumping, além de ser prática
comercial regular, terá uma
resposta mais rápida, na avaliação das indústrias.
A relação comercial no setor
de trigo não é boa para o Brasil
nem para a Argentina, na avaliação de Sergio Amaral, embaixador e ex-ministro do Desenvolvimento, agora presidente
da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).
Os argentinos sempre tiveram no Brasil compradores
fiéis, mas o cenário atual gerou
muitas incertezas. Com isso, o
Brasil está incentivando a produção, retirou temporariamente a TEC (Tarifa Externa Comum) e pode ficar menos dependente dos argentinos, que
perdem um mercado cativo.
Os moinhos brasileiros querem ter, no entanto, um último
diálogo com os argentinos antes de entrar com uma medida
antidumping. Na próxima viagem de Lula à Argentina, em
agosto, o trigo poderá ser um
dos itens das conversações dos
dois presidentes.
A situação não pode ficar como está, na avaliação da indústria brasileira. Os moinhos argentinos pagam US$ 107 por
tonelada de trigo e ainda recebem US$ 57 de devolução de
impostos se comprovarem que
a venda da farinha foi feita no
mercado interno.
Sendo que essas empresas
são dos próprios moinhos, elas
em seguida repassam a farinha
para o mercado externo, com
preços bem menores do que os
de produção no Brasil.
Os moinhos brasileiros importam o trigo da Argentina
-quando o governo libera as
exportações- por US$ 320 por
tonelada. Os subsídios dados
pelo governo argentino fizeram
com que a participação da farinha de trigo do país, que era de
3,5% há dois anos, subisse para
10% do mercado brasileiro.
Desoneração
Além dos problemas externos, os moinhos brasileiros
buscam, também, uma desoneração da farinha de trigo internamente. A queda temporária
da PIS/Cofins já permitiu uma
redução de 10% nos preços da
farinha, o que deve permitir um
recuo de 4% nos preços do pãozinho, segundo Amaral.
Após uma safra difícil no
abastecimento de trigo, a Abitrigo quer uma integração de
toda a cadeia produtiva.
Em outubro, o setor discutirá
oferta de produto, qualidade,
desoneração, logística e busca
de uma elevação de consumo
de pães e massas.
Se o mercado de trigo ainda
traz algumas incertezas, inclusive porque existem dúvidas
sobre a nova safra argentina, os
próximos meses deverão ser
um período de menor turbulência no abastecimento interno de trigo.
As indústrias importaram 5,4
milhões de toneladas neste
ano. A produção brasileira poderá ficar entre 5 milhões e 5,5
milhões. O consumo anual de
trigo gira em torno de 10 milhões de toneladas.
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