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Apesar de juro alto, crédito vai a 37% do PIB
Segundo analistas, financiamentos de prazos mais longos reduzem efeito do aumento dos juros promovidos pelo BC
Proporção crédito/PIB atinge maior patamar desde Plano Real; era de 32,4% há um ano e deve passar de 40% em dezembro, diz BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros cobrados nos empréstimos bancários subiram
pelo terceiro mês seguido e
atingiram, em julho, o nível
mais alto em 20 meses. O movimento, porém, não impediu
que o volume de crédito disponível no país continuasse a
crescer, chegando, no mês passado, ao nível mais alto já registrado desde o Plano Real (94).
Segundo o Banco Central, a
taxa média praticada nos financiamentos subiu de 39,4% ao
ano entre junho e julho. O aumento foi mais forte nos empréstimos a pessoas físicas, em
que os juros passaram de 49,1%
ao ano para 51,4%.
Mesmo assim, a oferta de
crédito se manteve em alta.
Ainda de acordo com o BC, o total de empréstimos bancários
existentes no país no final do
mês passado era de R$ 1,086
trilhão, valor que corresponde
a 37% do PIB (Produto Interno
Bruto). Em junho, era 36,6% do
PIB. Em julho de 2007, era
32,4%. Desde o início da série
estatística do BC, em julho de
1994, essa proporção não atingia valor tão elevado.
"O que estamos observando
ainda é um crescimento forte
do crédito, tanto para pessoa física quanto para pessoa jurídica", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes.
Segundo Lopes, a relação entre crédito e PIB pode passar de
40% até o final do ano. O resultado, se alcançado, representaria um recorde para os padrões
brasileiros, embora continue
abaixo para a média observada
em outros países emergentes,
em que essa relação costuma
chegar a mais de 70%.
Para Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial
de São Paulo, os grandes prazos
embutidos nos financiamentos
concedidos pelos bancos minimizam os efeitos que a alta das
taxas poderia ter sobre a procura por crédito. "O impacto da
elevação dos juros na prestação
é muito pequeno. Se pensarmos num empréstimo de R$
1.000 a ser pago em 24 meses, a
alta dos juros faz com que a
prestação passe de uns R$ 49
para algo próximo de R$ 51. A
diferença é pequena."
Na opinião de Istvan Kasznar, economista da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e professor
da FGV-RJ, o bom momento da
economia também faz com que
a alta dos juros tenha um efeito
menor, no curto prazo, sobre a
procura por financiamentos.
"A taxa pode subir, mas as
pessoas não entendem isso como algo que deva inibir o consumo", afirma, ressaltando que
a queda no desemprego e o aumento da renda ajudam a sustentar um certo otimismo nos
consumidores, contribuindo
para manter também o crescimento do crédito.
Juros altos
Já a alta dos juros dos empréstimos, por sua vez, reflete
tanto a elevação da taxa Selic
promovida pelo BC nos últimos
meses quanto o aumento do
chamado "spread" bancário
-diferença entre a taxa paga
pelo banco para captar dinheiro no mercado e os juros cobrados nos financiamentos concedidos a seus clientes.
De março para cá, a Selic subiu de 11,25% ao ano para 13%.
Já o "spread", que em junho estava em 24,5 pontos percentuais, passou para 25,6 pontos
em julho. Isso significa que, dos
39,4% anuais cobrados, em média, num empréstimo concedido no mês passado, 25,6 pontos
correspondiam ao "spread", e o
restante ao custo de captação
das instituições financeiras.
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