São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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Desaceleração de empréstimos fica para 2009, dizem bancos

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mesmos bancos que previam uma desaceleração na expansão do crédito ao longo de 2008 revisaram suas projeções e agora aguardam esse crescimento menor apenas em 2009. Os motivos são os mesmos que inspiraram cautela no início do ano -crise externa, aumento da inflação e dos juros- e que parecem assustar menos no segundo semestre que em 2009.
Bradesco, Itaú e Unibanco disseram que suas carteiras de crédito vão crescer bem mais do que o previsto no início do ano. Se a previsão anterior era de crescimento de 25% em relação a 2007, a expectativa agora é que o ritmo de expansão seja mais próximo de 30%. No ano passado, o crédito aumentou 27,7% em relação a 2006. Em julho deste ano, a expansão anual era de 32,7%, mesmo com o aumento nas taxas cobradas pelos bancos.
Para Nicola Tingas, economista-chefe da Febraban, o aumento nas taxas não foi suficiente para diminuir o interesse nos financiamentos porque o ciclo atual de crescimento do crédito é resultado de um aumento na confiança do consumidor e das empresas, que absorveu uma "demanda reprimida" no consumo. "Você deu renda maior, estabilidade de crescimento, inflação baixa e emprego. Sinalizou confiança. O sujeito passou a acreditar que poderia tomar empréstimo e depois pagar. E foi o que aconteceu. O crédito antecipa renda futura e supre essa demanda reprimida de consumo", disse.
A maior surpresa foi a reação do crédito para as empresas, que cresceu 40,9% nos últimos 12 meses. A crise nos mercados restringiu a possibilidade de novas emissões externas, levando as empresas a procurarem financiamento no país.
O analista de bancos Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings, avalia que o aumento dos juros terão seus efeitos de contração sentidos mais em 2009. "As estatísticas mostram que a inflação está caindo. Houve um aumento do emprego, a inflação deu uma acalmada, a crise americana não obrigou o BC a jogar os juros lá para cima. Então, não está tendo essa retração. O que questionamos é se esse efeito vai chegar em 2009, após as eleições", disse.
Para Tingas, haverá uma desaceleração no crédito e no PIB só em 2009, o suficiente para reequilibrar demanda e oferta na economia, mas com uma "recuperação sustentável" a partir de 2010. "A taxa de investimento cresceu. Você aumentou a produtividade da economia e deu condições de sustentar um crescimento mais longo. É uma surpresa boa porque a economia está com uma capacidade de investimento maior do que se supunha", disse.
Santacreu lembra ainda que os bancos, especialmente os de médio porte, fizeram caixa no ano passado com os IPOs [aberturas de capital] para manter o crédito em 2008. Ele acredita que, se o mercado internacional de crédito não se estabilizar até o início de 2009, haverá um aumento dos custos de captação capaz de reduzir o crédito inclusive no Brasil.


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