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Depois de renegociarem dívidas, Estados gastam mais com pessoal
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Impedidos de tomar novos
financiamentos até o ano passado, os governadores usaram
os gastos de custeio como válvula de escape para aumentar
despesas desde que refinanciaram suas dívidas com a União.
Entre 1998 e 2006, esses gastos
quase quadruplicaram.
Em compensação, os acordos
com o governo federal, que já
custaram R$ 106 bilhões em
subsídios, tiveram impacto positivo ao reduzir o endividamento, estabilizar os gastos
com pessoal, além de aumentar
o superávit primário, resultado
da soma de receitas e despesas
estaduais. Essas conclusões estão no estudo feito pelo economista Marcelo Piancastelli, do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) sobre os
dez anos de refinanciamento
das dívidas dos Estados.
"O efeito da renegociação e
da Lei de Responsabilidade
Fiscal foi muito positivo. Mas
não poderiam ter deixado os
gastos de custeio sem um teto",
diz Piancastelli, que negociou
23 dos 25 contratos de refinanciamento quando era secretário-adjunto do Tesouro.
O economista mostra que em
1998 o custeio -que inclui diárias, material de consumo, passagens, pagamento a terceirizados, contratação de mão-de-obra, entre outros- somava
1,63% do PIB (Produto Interno
Bruto). Em 2006, haviam aumentado para 6,1% do PIB. Já
os investimentos caíram de
4,042% do PIB em 1998 para
0,943% do PIB em 2006.
Essa troca de investimentos
por custeio implica piora na
qualidade dos gastos dos Estados. O aumento dos investimentos é o componente da despesa que mais tem impacto nas
contas estaduais. A estimativa
de Piancastelli é que um aumento de 1% dos gastos de investimento dos Estados reduz
o resultado primário em 7,8%.
Dessa forma, o incentivo para que os governadores aumentem o investimento é muito
menor do que para despesas
em outras áreas.
O secretário de Fazenda do
Rio Grande do Sul, Aod Cunha,
diz que o crescimento dos gastos com custeio não reflete só
decisões dos Estados. Mecanismos como o Fundeb, que obriga um gasto mínimo com educação, e aumento das vinculações com a Saúde contribuíram
para aumentar essas despesas.
Juros baixos
A renegociação com a União
permitiu aos governadores trocar dívida cara por juros subsidiados. Pelos cálculos de Piancastelli, a comparação entre a
taxa de juros de mercado e
aquela cobrada dos governadores (IGP-DI mais 6% ao ano ou
9% ao ano) mostra que o estoque da dívida é hoje R$ 106 bilhões inferior. Quando foram
renegociados, os Estados deviam ao sistema financeiro R$
100,4 bilhões, dos quais R$
50,388 bilhões eram dívidas de
São Paulo. Em 2006, o balanço
era de uma dívida de R$ 336 bilhões e São Paulo respondia por
R$ 124,882 bilhões.
Em troca de juros mais camaradas e 30 anos para pagar,
os governadores aceitaram repassar mensalmente 13% da receita à União. Isso fez com que
o resultado dos Estados, que
era deficitário em R$ 20,7 bilhões em 1998, se transformasse num superávit de R$ 13,295
bilhões em 2006.
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