São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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SOCIAIS & CIA.

Empresas fazem ação social sem gastos

Em vez de dinheiro, entram a expertise das empresas em suas respectivas áreas de atuação e os conhecimentos de gestão

Dados sobre administração, tecnologia e infra-estrutura são repassados a órgãos e a projetos sociais apoiados ou geridos pelas empresas

Patricia Stavis/Folha Imagem
Liriane Adami (esq.), revendedora da Avon, que informa os seus clientes sobre câncer de mama

ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O investimento social privado que não envolve o aporte direto de recursos para organizações e projetos vem ganhando cada vez mais espaço no setor empresarial. Em vez de dinheiro, entram a expertise das empresas nas respectivas áreas de atuação, os conhecimentos de gestão, administração e tecnologia, além da própria infra-estrutura, que são repassados às organizações e projetos sociais apoiados ou geridos pelas empresas e até mesmo a programas do setor público.
Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de atuação é o do Instituto Avon, que há anos apóia a causa do combate ao câncer de mama entre as mulheres e utiliza seu universo de revendedoras dos produtos para disseminar informações sobre a doença e seus métodos de prevenção, tanto no contato direto com as consumidoras como em espaços reservados ao tema nos 5 milhões a 6 milhões de folhetos de venda distribuídos a cada 19 dias.
"Desde o início do projeto, com nosso apoio ao Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer, descobrimos que tínhamos uma força muito grande e pouco usada de disseminação com nossa equipe de revendedoras", diz o diretor-executivo do Instituto Avon, Lírio Cipriani.
Com o advento do marketing associado a causas no terceiro setor, a Avon decidiu, anos depois, associar essa campanha com a venda de seus próprios produtos, direcionando parte dos recursos obtidos com as vendas para a causa do combate ao câncer. "Temos uma rede com uma capilaridade incrível. Seria um grande desperdício não a utilizarmos."
Outro exemplo de transferência de expertise é o da Fundação Itaú Social, que desenvolveu um método de avaliação econômica de projetos sociais e se tornou a principal referência sobre o assunto no país. O objetivo é avaliar de maneira precisa os resultados e a eficiência dos projetos sob o ponto de vista da gestão dos recursos e do retorno que eles geram para a população beneficiada.
"Esse foi um programa formulado em parceria com a área de risco financeiro do banco, com o intuito de levar a experiência econômica da instituição para as organizações e projetos sociais", diz a superintendente da Fundação, Ana Beatriz Patrício. "Após uma certa resistência inicial, pois o tema econômico era quase profano na área social, temos hoje uma demanda enorme de interessados em participar desse tipo de formação, tanto na iniciativa privada como nos governos."
Mais do que a utilização ou não de recursos, a tendência de transferir mais capital humano e tecnológico por parte das empresas é também uma maneira eficiente de ganhar escala nos projetos sociais, sobretudo quando essa transferência de expertise envolve o setor público. Atualmente, no Brasil, existem centenas de casos, em diversas escalas de tamanho e abrangência, em que o setor público se "apropria" dos métodos e práticas na área social repassados pela iniciativa privada, especialmente os relacionados à gestão dos projetos.
"Essa é a melhor combinação que podemos ter na área social, uma vez que a educação, a saúde e a cultura para a população cabem afinal ao Estado. O que o setor privado faz é uma espécie de modelo de franquia: primeiro desenvolve uma metodologia para um projeto e, depois de amadurecida, repassa isso para ser multiplicada por outras instâncias interessadas. Quando essas instâncias são governos, secretarias, todo mundo sai ganhando", diz Jorge Moraes, vice-presidente do Oi Futuro, que hoje tem projetos sociais na área de tecnologia replicados em diversas esferas de governo, inclusive fora do país.

Problemas também
Essa relação entre setor público e privado na área social, obviamente, não é sempre um mar de rosas. Há poucos meses, por exemplo, representantes do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), que reúne os maiores investidores sociais privados do país, vieram a público reclamar do que seria uma espécie de patrulhamento ideológico de alguns setores do governo federal em relação às organizações, apoiando apenas os projetos alinhados com a orientação estatal e enfraquecendo, assim, a liberdade de atuação dessas organizações.
"É claro que existem ruídos e diferença de visões entre os dois setores, assim como também há diferença de visões entre as fundações empresariais e as organizações. O importante aqui é que, apesar de pensarem de maneira diferente, existem possibilidades muito ricas de convergência, na qual cada esfera tem muito a aprender com a outra", afirma Patrício.
O presidente do conselho da GMK (Associação George Mark Klabin), Edgar Gleich, lembra que também é relevante o modelo de parcerias entre diferentes empresas do setor privado, como instrumento de ganho de escala para os projetos sociais por elas geridos ou apoiados. "Ainda temos muitas ações dispersas, isoladas, no setor privado. Somar as pessoas dá sempre melhor resultado."


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