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Agrofolha
Cortador de cana entra em confronto com PM Confronto entre canavieiros e PM fere 6
Três trabalhadores rurais foram presos e seis
ficaram feridos com balas de borracha na cidade de Pontal,
interior de SP
Trabalhadores reivindicam
reajuste de 10% no piso
salarial e aumento no valor
pago pelo metro de cana
cortada, para R$ 0,20
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Três trabalhadores rurais
presos, seis feridos com balas
de borracha, comércio fechado,
moradores aterrorizados.
Esse foi o resultado do confronto ontem de manhã, na
principal rua de Pontal (SP),
entre cortadores de cana que
estão em greve há uma semana
e policiais militares que foram
chamados para cumprir liminar dada na última sexta-feira a
usinas. A decisão garantiu a saída dos ônibus para os canaviais
com os trabalhadores que não
aderiram à paralisação.
Foi o segundo confronto entre PMs e bóias-frias em três
dias -o primeiro ocorreu no
sábado em Cruz das Posses,
distrito de Sertãozinho, quando os trabalhadores da usina
Albertina tentaram fechar a
rua para impedir a saída dos
ônibus com trabalhadores.
Quatro grevistas foram feridos.
O conflito de ontem começou por volta de 9h30 quando,
após a saída de 60 ônibus de rurais com escolta de policiais,
cerca de 150 cortadores de cana
das usinas Bazan, Bela Vista e
Carolo, todas em Pontal, apoiados pela Feraesp (Federação
dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo),
decidiram protestar em frente
à sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontal, que
não apóia o movimento.
Do outro lado da rua, 16 homens da Tropa de Choque da
PM de Sertãozinho e Jaboticabal mandaram os trabalhadores recuarem. Não foram atendidos e passaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta e balas de borracha.
As lojas da rua e o restaurante da rodoviária fecharam as
portas. A diretora de uma escola pública que mora em frente à
rodoviária, Reginalva de Lourdes Negrão de Carvalho, 46, se
agarrou a uma imagem de Santo Expedito -a reportagem
acompanhou o conflito da varanda da professora-, rezando
para que o confronto, que durou cerca de 20 minutos, acabasse. "Fiquei apavorada. Isso
nunca aconteceu aqui", disse.
"A polícia se utiliza primeiro
do diálogo, depois dos meios
não-letais dos quais dispomos
e, se preciso, de outros meios
legais para evitar o dano do patrimônio público e privado",
disse o tenente Eduardo Martins Ribeiro.
Os trabalhadores reivindicam reajuste de 10% no piso salarial, que chegaria a R$ 500, e
aumento no valor pago pelo
metro de cana cortada para R$
0,20 -hoje varia entre R$ 0,08
e R$ 0,13.
Querem também que as usinas criem comissões, com representantes dos patrões e dos
trabalhadores, para a aferição
da medição da cana, por meio
da qual as usinas calculam o valor do adicional de produtividade pago aos cortadores -na
edição do último domingo, no
caderno Mais, reportagem da
Folha revelou que documentos
mostram não ser incomum
fraudes ou erros na medição
provocarem um pagamento aos
trabalhadores abaixo do previsto nos acordos salariais.
Os três trabalhadores presos
são indígenas. Sidnei Pereira
das Neves, 22, Júlio Marcos da
Silva, 28, e José Alípio Guimarães, 32, pertencem à tribo Xacriabá, de São João das Missões, norte de Minas Gerais. O
trio foi solto no final da tarde.
Segundo o delegado de polícia de Pontal, Maurício José
Furtado Nucci, os trabalhadores detidos participaram da invasão da sede do sindicato e,
por esse motivo, foram indiciados pelo crime de dano.
A reportagem tentou localizar os representantes das usinas. Só duas se pronunciaram.
A Bela Vista e a Bazan informaram não reconhecer a Feraesp
como parte legítima da negociação e afirmaram que o acordo fechado com o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Pontal vale até abril de 2009.
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