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PÚBLICO X PRIVADO
Recursos de R$ 8 bilhões por ano são geridos por empresários e sustentam rede em mais de 2.000 cidades
Governo quer ampliar poder no sistema S
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Governo e trabalhadores estão
de olho nos R$ 8 bilhões arrecadados anualmente pelo chamado
sistema S (Sesi, Senai, Sesc, Senac
e Sebrae), quase três vezes mais o
que a União pretende gastar com
saneamento básico neste ano.
Dizem querer mais transparência na utilização desses recursos,
recolhidos de forma compulsória
sobre a folha de pagamento de 1,9
milhão de empresas no país.
Os empresários controlam o
uso desse dinheiro há mais de 60
anos. Governo e trabalhadores
entendem que é preciso abrir o
que chamam de "caixa-preta" do
sistema S -o TCU (Tribunal de
Contas da União) já encontrou irregularidades em unidades dos S
no país. Os problemas apontados
pelo tribunal vão desde ausência
de licitação para execução de
obras e contratação de pessoal
sem realização de concursos até
desvios de recursos e concessão
irregular de bolsas de estudo.
Para representantes de centrais
sindicais e do governo, os recursos do sistema são públicos porque são recolhidos compulsoriamente das empresas -como um
imposto qualquer-, além de ter
finalidade pública: servem para
dar formação profissional e assistência social ao trabalhador.
O que está em jogo na reestruturação desse sistema, fora o orçamento bilionário, é uma estrutura
de atendimento social em mais de
2.000 municípios do país.
Ampliar a participação nas decisões do sistema significa, além
de aumentar o poder político, utilizar uma estrutura que, segundo
especialistas, deu certo do ponto
de vista social.
A acirrada disputa pelo comando da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
uma das mais importantes entidades empresariais do país, é prova de que administrar esses recursos é sinônimo de poder.
Ao assumir a presidência da federação amanhã, Paulo Skaf vai
tomar conta de um orçamento
anual de R$ 750 milhões, quase
todo proveniente do sistema S. A
entidade é responsável pela administração dos recursos do Sesi e
do Senai no Estado de São Paulo.
Para discutir a reforma no sistema S, o governo criou neste ano
um fórum com representantes do
governo, dos trabalhadores e das
empresas. Jair Meneguelli, ex-sindicalista, foi nomeado pelo presidente Lula para presidir o conselho nacional do Sesi e comandar a
reestruturação dos S.
"O governo quer democratizar
a administração dos recursos do
sistema S, unificar as estruturas
para que os S não disputem entre
si e usar as unidades já instaladas
no país para viabilizar políticas
públicas", diz Meneguelli.
Mudar a administração do sistema S não será tarefa fácil. "O
que o governo chama de democratizar o sistema S nós chamamos de "estatizar" o sistema S",
afirma Rodolfo Tavares, vice-presidente da CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil).
Não há o que mudar no sistema
S, na opinião de Antônio Carlos
Brito Maciel, superintendente
corporativo da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
"Esse sistema vem dando certo
há 60 anos. Tem sido submetido a
auditorias ao longo desse período, que têm mostrado que esse dinheiro é muito bem empregado.
Ensino profissional no Brasil só
tem no sistema S. O próprio presidente Lula já disse que a melhor
coisa que aconteceu na vida dele
foi o Senai", afirma.
O dinheiro que os S arrecadam e
a infra-estrutura de que eles dispõem são expressivos. De janeiro
até agora, o Sesc, que oferece assistência social ao empregado do
comércio e do setor de serviços,
arrecadou R$ 799,2 milhões. O
Sesc está espalhado por cerca de
2.000 municípios, atende 17 milhões de pessoas por ano e oferece
mais de 260 mil refeições por dia.
O Senai, que forma trabalhadores para a indústria, atende em
média 2 milhões de alunos por
ano em 20 mil empresas distribuídas em 830 municípios no país.
Um dos mais recentes empreendimentos do sistema S também impressiona. Na semana
passada, o Sesc inaugurou uma
nova unidade em Pinheiros, a
maior do país. Com investimento
de R$ 55 milhões, o prédio, que levou oito anos para ser erguido,
tem 36 mil metros quadrados de
área construída, com capacidade
para atender cerca de 3.000 pessoas por dia.
Para a procuradora-geral do
Ministério Público do Trabalho,
Sandra Lia Simón, a proposta do
governo de discutir mudanças na
gestão e democratização do sistema S é "imprescindível". "É necessário ter controle desses recursos que são arrecadados pelo Estado e repassados para as entidades empresariais. O que nos causa
estranheza é que os serviços que
prestam normalmente não são
compatíveis com o montante que
arrecadam. E ainda muitos dos
serviços oferecidos são cobrados
do usuários, o que rende uma receita ainda maior para essas entidades sociais."
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