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FIM DO SUFOCO?
Encomendas crescem em relação a 2002; ainda que vendas subam no Natal, devem apenas compensar perdas
Lojas fecham pedidos para garantir produto
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento da Folha com indústrias de eletrônicos e eletroportáteis, fabricantes de brinquedos, operadoras de telefonia celular e lojas mostra que as encomendas já feitas para o Natal deste
ano estão de 5% a 20% acima das
do ano passado. Ao contrário de
2002, alguns segmentos do comércio se anteciparam e, neste
mês, já reconfirmaram os pedidos. Até 70% do que será vendido
em dezembro já foi encomendado pelo varejo.
O ritmo acelerado no fechamento de pedidos se contrapõe à
lenta velocidade de retorno dos
consumidores às lojas. No entanto tem razão de existir. "Isso ocorreu porque as redes querem garantir logo o fornecimento como
uma espécie de segurança. Há casos raros de pedidos mais ousados, além da média do mercado,
na tentativa da loja de se proteger
caso a demanda cresça muito",
diz Cláudio Vita Filho, vice-presidente da Philco.
Esse movimento ocorre por diversas razões. Em primeiro lugar,
as indústrias em geral, que atendem principalmente o mercado
interno, reduziram sua capacidade de produção, demitiram pessoal e desaceleraram a compra de
insumos nos últimos meses. Isso
por conta da forte retração do
consumo no país.
O comércio sabe bem que o aumento no nível de produção industrial não ocorre do dia para a
noite. Por isso, se protegeu como
pôde e fechou logo os pedidos.
Além disso, cresceram os rumores de possível falta de determinados modelos de produtos para o
final do ano. Isso ocorreu porque
lojas de celulares e de eletrônicos
solicitaram certos modelos à indústria e não foram atendidas no
prazo. Foi o caso da Lojas Cem,
que não recebeu todos os lotes de
TVs que esperava neste mês.
Essa situação gera um clima de
apreensão no mercado e força as
grandes redes a se precaverem
com os fornecedores.
Para se antecipar a esses possíveis gargalos na produção, neste
mês empresas como Panasonic,
Semp Toshiba e Philco trouxeram
componentes do exterior utilizando aviões para o transporte.
É uma tática rara e cara, mas
que reduz à metade o tempo de
entrega de uma peça que viria por
navio -o prazo chega a até quatro meses. A estratégia dá mais segurança para a fábrica fechar as
encomendas já solicitadas.
Mais celulares
No Extra Eletro, por exemplo,
foram finalizados 70% dos acordos para entrega de mercadorias
no final do ano. É o que eles chamam de "pedido-mãe". "É razoável pensar na expansão dos pedidos em 5%, em média, em relação
a 2002", diz Marcelo Bazzali, diretor de gestão de categoria da rede,
do grupo Pão de Açúcar.
Na área de eletroportáteis, a Arno registra volume de encomendas semelhante ao de 2002 -ano
positivo para o setor. Significa um
volume de pedidos 5% superior,
em média, ao do ano anterior.
Na Philco há a expectativa de
que neste trimestre as vendas fiquem de 10% a 15% acima do volume verificado no ano passado.
Uma taxa inferior, no entanto, à
esperada por empresas do ramo
de celulares -um dos poucos setores que não sentiram o baque
da retração no mercado interno.
Tanto que a Oi, operadora de telefonia celular, fechou encomendas, em média, 20% superiores às
do ano anterior. Para este ano, Alberto Blanco, diretor da Oi, espera
que o número de celulares no país
chegue a 44 milhões. Em setembro, eram 40 milhões.
Para chegar a esse número, será
preciso que as operadoras coloquem no mercado mais 1,3 milhão de aparelhos por mês até dezembro, ou mais do que o dobro
das vendas de um mês normal.
Na Estrela, maior fabricante de
brinquedos do país, ainda é necessário fechar o balanço do Dia
da Criança antes de concluir novos negócios para o final do ano.
"Estamos produzindo com a expectativa de aumento de 10% nas
vendas no final de ano", diz Carlos Tilkiam, presidente da Estrela.
Não é aguardada, pelas indústrias, uma nova dose de pedidos
das lojas porque neste mês aumentou o ritmo das encomendas.
Espera-se basicamente a confirmação dos pedidos.
Analistas alertam que um bom
resultado neste Natal deve ocorrer sobre um resultado fraco (o do
ano passado). As vendas do comércio em dezembro de 2002 caíram 4,9% em relação a 2001, diz o
IBGE. Logo, uma elevação de 5%
neste ano, por exemplo, só compensa as perdas do ano passado.
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