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ENTREVISTA
Ministra alemã afirma que houve oportunidade perdida em Cancún e diz que europeu vê transgênico com ceticismo
Europa acena com a redução de subsídios
DA REDAÇÃO
A ministra alemã da Agricultura, Renate Künast, 47, afirma que
a União Européia está pronta para
fazer concessões na questão dos
subsídios agrícolas. Para Künast,
houve uma grande oportunidade
perdida em Cancún, na reunião
ministerial da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
"Naquela ocasião, em vez de só
fazer exigências, alguns parceiros
ainda não estavam dispostos a negociar verdadeiramente", diz,
sem citar nenhum um país.
Segundo a ministra, não é possível saber se a liberalização da soja
transgênica no Brasil afetaria as
exportações do país para a Europa. Mas diz que os europeus são
céticos em relação aos produtos
modificados geneticamente.
Folha - Apesar das dificuldades,
as negociações para a formação de
uma área de livre comércio nas
Américas estão num estágio mais
avançado que as conversas entre
Mercosul e UE. Por quê?
Renate Künast - O fracasso de
Cancún traz graves consequências para os dois processos de negociação, pois em ambos os casos
a questão de subsídios agrícolas
desempenha um papel decisivo.
Além disso, no âmbito da Alca deverá ser negociada também a
questão das regras do antidumping americano, o que será certamente muito difícil.
As negociações entre a UE e o
Mercosul ultrapassam questões
comerciais. Trata-se da configuração do diálogo político e da cooperação para o desenvolvimento.
O capítulo do acordo de associação está praticamente encerrado.
Para o comércio, a UE já apresentou abrangentes ofertas para todos os setores. Já o Mercosul está
em dívida com alguns setores.
Folha - No Brasil, existe a impressão de que a Alemanha e outros
países parecem concentrar grandes esforços na integração do continente europeu e na aproximação
com o mercado asiático, mas tem
pouco interesse na América Latina.
Essa sensação está errada?
Künast - O intenso intercâmbio
comercial entre a Alemanha, Europa e América do Sul comprova
justamente o contrário. Claro que
as relações econômicas dentro da
UE e com nossos vizinhos da Europa Central e do Leste são mais
estreitas. Isso não significa falta de
interesse pela América Latina,
mas se deve às condições geográficas, históricas e econômicas. Até
a América do Sul está buscando
alianças regionais. Isso é normal.
Folha - O governo brasileiro liberou o plantio da soja transgênica
na safra 2003/ 2004. Um projeto de
lei que está sendo elaborado pode
tornar a liberação definitiva. A Alemanha continuaria importando soja do país? Caso ocorra a liberação,
quais seriam as consequências para o país no mercado europeu?
Künast - Se houver uma liberação, a Alemanha poderá importar
grãos de soja transgênica do Brasil. A UE tem por norma que rações e alimentos transgênicos
precisam ser identificados e etiquetados como modificados geneticamente. Os consumidores
podem decidir se querem consumir produtos transgênicos ou
não. Não posso prever as repercussões que poderia haver sobre
as exportações brasileiras. Mas o
ceticismo com relação a alimentos transgênicos é muito divulgado em toda a Europa.
Folha - Subsídios agrícolas distorcem os mercados, causam superprodução, afetam a formação de
preços e destroem a competitividade de países em desenvolvimento,
que perdem, assim, um importante
fator de geração de renda. Quando
os ricos deixarão de lado as questões políticas e abrirão seus mercados para os produtos agrícolas de
países como o Brasil?
Künast - A redução de subsídios
agrícolas é uma questão central
da rodada mundial de comércio.
Infelizmente não há respostas
muito fáceis, tal como sugeridas
na pergunta. O assunto é bastante
complexo. A UE acabou de reformular sua política agrícola e está
em condições de oferecer amplas
concessões nas negociações da
OMC. Sou da opinião que se perdeu uma oportunidade em Cancún. Naquela ocasião, em vez de
só fazer exigências, alguns parceiros ainda não estavam dispostos a
negociar verdadeiramente.
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