|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Força, que está na oposição, e ala radical da CUT lideram reivindicações; exportadores sofrem pressão maior
Economia e disputa política detonam greve
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
As greves e campanhas salariais
de emergência deflagradas nos últimos dias estão acontecendo
num cenário de preços em alta,
renda em baixa e desemprego
crescente. Ao mesmo tempo,
ocorrem no primeiro semestre de
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), ex-líder sindical que,
no poder, abraçou a ortodoxia
econômica.
A confluência desses fatores faz
com que especialistas divirjam sobre os motivos das paralisações,
que acontecem no Paraná, lideradas pela Força Sindical, e, no interior de São Paulo, pela CUT (Central Única dos Trabalhadores): alguns acham que os motivos mais fortes são políticos, outros, que
são econômicos.
Os que apontam a situação atual
da economia como explicação para o movimento grevista afirmam
que a inflação e a diminuição da
renda real do trabalhador -de
2% em março, segundo o IBGE-
motivaram as paralisações.
Outros vêem motivação política
não só na greve da CUT, em São
José dos Campos, como nas paralisações promovidas pela Força
Sindical, no Paraná. Segundo eles,
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho,
presidente da Força Sindical, pode candidatar-se a cargos hoje
ocupados por petistas e deve beneficiar-se das paralisações sob a
Presidência de Lula. O presidente
da central foi candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS) nas últimas eleições
presidenciais.
Esses especialistas acreditam
também que alguns sindicatos da
ala radical da CUT fazem exigências ambiciosas para se diferenciarem do comando nacional da
central, historicamente ligado ao
governo.
"As divergências dentro da
CUT refletem as diferenças existentes dentro do PT: assim como
no partido, a central tem sua ala
moderada e a radical. Na hora das
reivindicações, os radicais, apesar
de serem minoria, tendem a exigir
benefícios maiores, como reposição ou antecipação salarial. Os
sindicatos mais alinhados com o
governo tendem a pedir abono",
afirmou Antonio Carvalho Neto,
diretor do IRT (Instituto de Relações de Trabalho) da PUC-MG.
Estratégia
O professor José Pastore, da
FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração), afirma que
a movimentação grevista está
sendo realizada por sindicalistas
de setores que estão exportando
mais nos últimos meses por causa
da desvalorização do real.
É o caso dos químicos, que são
mão-de-obra para agronegócios,
setor cuja exportação foi recorde
no ano passado: a categoria, ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), deflagrou campanha
salarial de emergência.
"Outro caso é o setor de automóveis, cujas exportações estão
crescendo nos últimos meses devido à demanda interna menor.
Os sindicalistas sabem quais os
setores que estão em melhor situação, e por isso estão realizando
paralisações. Isso mostra o amadurecimento do sindicalismo ",
afirmou Pastore.
Segundo Carvalho Neto, da PUC-MG, também existe uma
disputa entre as centrais sindicais.
Há um mês, a Força Sindical tomou a dianteira e realizou em São
Paulo a primeira paralisação do
novo governo. Pediu antecipação
salarial de 10% e conseguiu acordos com empresários. A CUT estaria tentando recuperar espaço
perdido.
"Até o governo passado quem
estava na dianteira do movimento grevista era a CUT. Neste ano, a
Força Sindical agiu primeiro, causando mal-estar na CUT", afirma.
Texto Anterior: ...e o governo na 6ª Próximo Texto: Eleição de Lula estimulou racha na CUT, afirma professor da USP Índice
|