|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Eleição de Lula estimulou racha
na CUT, afirma professor da USP
DA REPORTAGEM LOCAL
Os sindicatos estão sendo puxados para as greves pelas bases,
que, apesar da ameaça do desemprego crescente, não estão aguentando o impacto da queda de renda e alta da inflação nos últimos
meses.
A consideração é do professor
Arnaldo Nogueira, professor da
FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e especialista em relações do
trabalho. Apesar de descartar motivos políticos para as paralisações, ele afirmou que as divergências de reivindicações dentro da
CUT (Central Única dos Trabalhadores) estão relacionadas com
o novo governo.
"Durante o governo anterior,
era mais fácil para a CUT agir de
forma unificada pois havia uma
oposição comum, que era o governo de Fernando Henrique
Cardoso. Agora, no governo Lula,
os sindicatos de base estão agindo
com mais independência em relação à central sindical", afirmou o
professor.
Folha - Apesar do desemprego
crescente, nos últimos dias estouraram três greves no país. Por que
esse movimento está acontecendo
neste momento?
Arnaldo Nogueira - As classes
mais baixas e também a classe
média estão tendo dificuldade para pagar contas, já que tanto os
desempregados quanto os que
têm emprego estão vendo sua
renda corroída pela inflação. Essa
panela de pressão está se manifestando agora. Não acredito que essas greves tenham alguma conotação política, a grande causa é o
bolso do trabalhador, que não se
mobiliza apenas por palavras de
ordem genéricas, se mobiliza
também a partir de suas necessidades sociais e econômicas.
Folha - Dentro da CUT existem diferentes setores que pedem abono,
reposição ou antecipação salarial.
Essa diferença de posições indica
que a central pode estar rachando?
Nogueira - Durante o governo
anterior, era mais fácil para a CUT
agir de forma unificada pois havia
uma oposição comum, que era o
governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, no governo Lula,
não há mais essa oposição comum, e os sindicatos de base estão agindo com mais independência em relação à CUT e até ao
pedido de paciência e tolerância
do presidente Lula.
Há fraqueza da CUT em unificar políticas e interesses dos trabalhadores. Se houver racha no
próximo congresso, será ruim para todos, porque tanto a esquerda
quanto a ala mais moderada da
central serão enfraquecidas.
Folha - A Força Sindical falou em
reposição e conseguiu. Isso mostra
uma retomada da força política do
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho?
Nogueira -O Paulinho, como liderança sindical, tem interesses
políticos. O número de lideranças
sindicais que têm ascendido na
política é grande. Ele tem interesse político em mostrar uma certa
diferenciação em relação às conduções do PT, tanto no governo
federal quanto na prefeitura de
São Paulo. Como líder sindical,
tem credibilidade para disputar
cargos políticos, mas sua trajetória é cheia de problemas éticos,
políticos, o que pode jogar contra
ele no futuro.
Folha - Como o sr. vê as afirmações do presidente Lula, que cobrou que o movimento sindical organize a pauta de negociações, pedindo "menos bravata" por parte
dos sindicalistas?
Nogueira - O presidente quer
chamar os sindicatos a assumir
um papel mais político dos sindicatos, mas esse é um papel difícil
de ser assumido: os sindicatos
têm visibilidade política menor
do que a trabalhista e social. Mas
podem agir corporativamente
sem olhar muito para a discussão
mais geral, não se pode pedir que
eles ajam como partidos políticos.
No entanto, Lula está afirmando
dessa forma seu papel de presidente, chamando a sociedade para uma maior compreensão do movimento político. (MP)
Texto Anterior: Economia e disputa política detonam greve Próximo Texto: Frase Índice
|