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CUT X CUT
Para Mancha, líder grevista, governo Lula é frustrante
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Líder sindical que arquitetou a
maior greve de trabalhadores desde o início do governo Lula, Luiz
Carlos Prates, 47, o Mancha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, diz
que a atuação do novo governo já
é "frustrante" e que essa é a melhor hora para iniciar uma greve.
Prates encabeçou o movimento
de paralisação da fábrica da General Motors, em São José -que está em greve desde a terça-feira.
Sem fazer rodeios, ele deixa clara
sua posição contrária àquela defendida por alguns líderes da
CUT, central da qual faz parte.
"Há uma linha de pensamento
majoritária na CUT dizendo que
temos de "maneirar". Sou contra
isso", diz. Na segunda-feira, ele
deve se encontrar com representantes do governo e da GM para
tratar da questão da greve. Na sexta-feira, ele conversou por telefone com Osvaldo Bargas, secretário de Relações do Trabalho, para
marcar a reunião.
Folha - As montadoras registram
queda na produção, o desemprego
no setor cresceu e os salários estão
comprimidos. Esse é um bom momento para iniciar uma greve?
Luiz Carlos Prates - É a hora certa. É preciso deixar claro que,
mesmo num cenário recessivo,
não é possível abrir mão de certos
direitos. Sabemos que é possível
negociar aumento real de salários
e evitar mais desemprego. É tudo
uma questão de sentar e negociar.
Se chegamos a esse ponto, de iniciar uma paralisação em São José
dos Campos, é porque tivemos
várias rodadas de negociação que
não deram em nada. Tivemos 19
dias para achar uma solução e eles
(empresários) não se posicionaram. Só quiseram conversar
quando radicalizamos.
Folha - Mas por que agora? Isso
tem relação com o fato de o sindicato pertencer à uma ala mais radical da CUT e, no momento, querer
adotar uma postura mais crítica ao
novo governo?
Prates - Nós fizemos no final do
ano e, portanto, ainda no governo
de Fernando Henrique Cardoso,
uma campanha forte por reajuste
salarial e redução de jornada. Negociamos com Philips, Solectron
e outras empresas grandes. Com a
GM, conseguimos aumento de
10,26% mais abono de R$ 350. O
índice ficou abaixo do reivindicado pela categoria, que era de 20%.
Se tivessem aceitado naquela época, não estaríamos nesse "pé"
agora. Isso, portanto, não tem nada a ver com o novo governo, mas
com negociação sindical. Queremos o que é nosso direito, seja
num governo de um ex-líder sindical ou não.
Folha - Mas as paralisações só
aconteceram neste ano.
Prates - Há uma linha de pensamento majoritária na CUT dizendo que temos de "maneirar".
Achavam, desde o ano passado,
que era melhor esperar e iniciar
uma campanha forte de reposição
do salário perdido com a entrada
do Lula. Isso caso a inflação não
fosse controlada.
Já temos uma taxa (inflacionária) que ultrapassa 10%. Ou seja, o
governo entrou e os preços continuam lá em cima. Aí não dá para
segurar e é preciso renegociar salários. Sou contra essa maioria
que prefere receber só abonos no
lugar de um reajuste salarial justo.
A idéia é cobrar desse governo
que prometeu e não fez nada até
agora. Até porque a eleição de Lula gerou uma expectativa que começa a se tornar frustrante.
Folha - O senhor defende a implantação de um gatilho salarial?
Prates - A hipótese de um gatilho salarial existe dentro desse raciocínio de proteção ao trabalhador. Toda vez que a inflação acumular 3%, os salários dos trabalhadores seriam reajustados imediatamente, na mesma medida. E
não acreditamos que isso gere inflação, já que ninguém vai sair por
aí gastando esse dinheiro em consumo exagerado, o que poderia
gerar uma inflação de demanda,
por exemplo. Acho até muito estanho que o Palocci (Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda)
diga que os reajustes podem gerar
inflação. Isso é absurdo. Só vamos
reincorporar o que foi perdido.
Folha - Entre os sindicatos ligados à CUT, não há união em torno
das reivindicações salariais. A proximidade com o PT está imobilizando a CUT? Há um racha na central?
Prates - A Federação Estadual
dos Metalúrgicos pleiteou um
abono salarial com as montadoras. Em outros setores, há categorias buscando uma campanha salarial de emergência, para repor
perdas com a inflação. Já nós queremos o gatilho. Não há unidade
total. Há discordâncias naturais,
mas nossa posição não mudará.
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