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CONTÁGIO
Perda pode chegar a US$ 500 milhões se paralisia se prolongar, diz Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China
Sars já afeta negócios entre Brasil e China
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Os negócios do Brasil com a
China já começaram a sofrer os
efeitos da pneumonia asiática,
também conhecida como Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave). Nos últimos dias, várias exportações e algumas missões empresariais foram adiadas diante da proliferação da Sars.
"Os negócios com a China já estão sendo afetados", diz Pedro
Bordon, diretor da Bordon e
membro da diretoria da Câmara
de Comércio e Indústria Brasil-China. Ele está à frente das negociações do Brasil para a venda de
carne para a China.
Na semana passada, Bordon recebeu a informação de seus clientes na China de que as negociações para a compra de carne brasileira estariam postergadas.
O Brasil estava há 18 anos sem
vender carne para a China. O primeiro embarque de carne, depois
de todo esse tempo, ocorreu em
março, de cerca de 400 toneladas.
"Acho que todos os outros setores
devem estar enfrentando essas
mesmas dificuldades", disse.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também adiou,
na semana passada, a ida de uma
missão empresarial à China prevista para junho para negociar diversos contratos na área do agronegócio. A missão, cuja previsão
era contar com cerca de cem empresários brasileiros, iria coincidir com a Expo 2003, em Pequim,
também adiada.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China,
Charles Tang, diz que, se a paralisia da economia chinesa provocada pela Sars persistir por muito
tempo, o Brasil deverá sofrer uma
perda de US$ 500 milhões no saldo da balança comercial com a
China.
Segundo ele, a previsão era que
o Brasil atingisse neste ano um
saldo comercial de US$ 1,5 bilhão
com a China. Pelos cálculos de
Tang, se a duração da Sars for longa, o saldo deverá despencar para
US$ 1 bilhão.
A China é o parceiro comercial
para onde mais crescem as exportações brasileiras. Nos primeiros
três meses deste ano, as vendas
brasileiras para esse país somaram US$ 731 milhões, um crescimento de 149,5% em relação ao
mesmo período de 2002.
Em 1999, o comércio entre os
dois países (exportações mais importações) somava US$ 1,5 bilhão. No ano seguinte, atingiu
US$ 2,3 bilhões. Em 2001, saltou
para US$ 3,2 bilhões. No ano passado, a soma subiu para US$ 4,1
bilhões. A estimativa era que, neste ano, o comércio atingisse o valor de US$ 5,5 bilhões.
A Embraer também já começou
a sentir os efeitos da Sars. Há poucos dias, um cliente da Índia da
Embraer, a Jet Airways, adiou por
um ano (de 2004 para 2005) a entrega da encomenda de dez jatos
da família Embraer 170.
A Embraer diz que não tem como afirmar até que ponto a Sars
teria influenciado nessa decisão,
mas admite que o efeito Sars impacta o mercado como um todo,
incluindo a redução no movimento das companhias aéreas.
De acordo com a Embraer, a
empresa não estava neste momento com uma programação de
exportações para a China. Como
o acordo comercial com o cliente
da Índia estava em fase de negociação para a assinatura do contrato final, o adiamento da encomenda não altera a carteira de pedidos da empresa.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, presidente do grupo
Votorantim, afirma que não é só o
Brasil que irá sofrer com a paralisação econômica da China. "Será
um desastre para o mundo inteiro", disse.
O próprio Ermírio de Moraes
diz que terá de adiar alguns planos com a paralisia econômica da
China. A CBA (Companhia Brasileira de Alumínios) pretendia
neste ano vender alumínio na
China, até para compensar a redução no valor das vendas com a
queda recente do dólar. Os planos
foram adiados.
A BrasilConnects, do Banco
Santos, que trouxe para o Brasil a
exposição "China: Os Guerreiros
do Xi'An e os Tesouros da Cidade
Proibida", em exposição em São
Paulo, também tinha organizado
painel sobre a economia brasileira
durante o Fórum Econômico
Mundial, que se realizaria nos
dias 14 e 15 deste mês, em Pequim.
O Fórum foi adiado.
O empresário Carlos Augusto
Maimberg, diretor da Câmara do
Comércio e Indústria Brasil-China, estava negociando cerca de
dez contratos para a exportação
de produtos de genética bovina
para a China. As conversas foram
postergadas.
O diretor da AEB (Associação
de Comércio Exterior do Brasil),
José Augusto de Castro, não tem
dúvidas de que a pneumonia asiática irá trazer consequências negativas para o comércio com o
Brasil e a China. Só os congressos
e seminários que estão sendo
adiados já vão provocar prejuízos
ao país. "Alguns produtos não se
vendem por e-mail", diz Castro.
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