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ÁGUIA ABATIDA
País não saiu da ressaca pós-bolha, com investimentos retraídos e confiança empresarial ainda debilitada
Retomada dos EUA ainda é incógnita
ALAN BEATTIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
O suspiro de alívio que varreu
Washington quando o regime de
Saddam Hussein caiu quase expulsou das árvores da cidade as
famosas flores de cerejeira de primavera. Mas uma sensação semelhante de conforto quanto à economia talvez tenha de esperar até
que caiam as folhas de outono.
Até agora, o efeito econômico
ficou dentro do que o Federal Reserve (banco central dos EUA) e o
governo poderiam desejar. Larry
Meyer, ex-diretor do Fed e agora
pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais,
em Washington, diz que as probabilidades mais benignas se confirmaram, com uma solução militar rápida do conflito e queda nos
preços do petróleo.
Mas uma sensação de desconforto persiste. "Continua a haver
um certo pessimismo", disse Meyer. "O Fed gostaria de ver um
senso de otimismo renovado depois da guerra, comprovado por
alta na confiança dos consumidores e nos preços das ações."
Algumas anomalias lançaram
dúvida sobre a tese de que o final
da guerra basta como solução para a crise de confiança. Por exemplo, a recuperação nos mercados
não recuperou o terreno perdido
em janeiro e fevereiro, quando a
guerra se aproximava.
Uma coisa é clara: não deve haver mais desculpas. O final da
guerra remove o risco geopolítico
que, segundo indicações circunstanciais e teorias econômicas, vinha restringindo os investimentos e causando preocupação aos
consumidores. "As empresas
compreensivelmente relutariam
em contratar pessoal, no começo
de uma guerra", disse Meyer.
O ônus da prova quanto volta a
caber aos otimistas, como Alan
Greenspan, presidente do Fed,
que passou a maior parte do ano
passado prevendo que a economia estava a ponto de ganhar ímpeto, mas terminou desapontado.
A capacidade utilizada continua
a registrar níveis extraordinariamente baixos. Em março, quando
os índices de utilização voltaram a
cair, os industriais estavam usando proporção menor de sua capacidade do que em qualquer mês
desde maio de 1983.
O investimento é uma parte imprevisível da demanda doméstica.
A surpreendente fraqueza dos
dispêndios de capital ao longo do
ano passado fez com que alguns
economistas usassem razões heterodoxas para explicar por que
os presidentes de empresas continuam entrincheirados.
Desalento
"A maior questão no momento
é desmistificar os líderes de negócios", diz Neal Soss, economista-chefe do Credit Suisse First Boston. Para ele, os efeitos colaterais
da bolha dos anos 90 e dos escândalos empresariais a ela associados assustaram os executivos e os
dissuadiram de assumir riscos.
Se o investimento não se recuperar, o ônus continua a pesar sobre o consumidor. Os indícios
quanto a esse ponto tampouco
são conclusivos.
Uma piada que circula em Washington é que o Fed está realizando um excelente trabalho de estímulo à economia, mas na China,
ao favorecer as importações. Mas
a queda do dólar deve favorecer a
produção doméstica.
Os consumidores continuam a
tomar empréstimos pesados. Parte desses empréstimos está relacionada a uma reorganização de
posição financeira, e não representa garantia de gastos.
Um sinal de cautela é que o índice de poupança norte-americano,
que era de menos de 2% no pico
do boom dos anos 90, subiu para
mais de 4%, e muitos economistas esperam que a alta prossiga.
"Não vejo melhoras em maio ou
junho. Os desequilíbrios da ressaca pós-bolha, continuam a restringir a expansão", disse Meyer.
A história sugere que recuperações de pós-guerra podem ser enganosas, nos meses iniciais.
"Se estudarmos a Guerra do
Golfo, em 1991, houve um período de 90 dias em que tudo parecia
bem, com os mercados e a confiança se recuperando, mas as coisas voltaram a se agravar", disse
Soss. Se a retomada inicial da confiança não se sustentar, a atenção
vai voltar para a atuação das autoridades econômicas.
George W. Bush está determinado a evitar o destino de seu pai,
que venceu a Guerra do Golfo
(1991), mas perdeu a reeleição devido a problemas econômicos. Os
próximos meses podem ser cruciais para a economia e para Bush.
Mas o destino de ambos dependerá mais do otimismo do consumidores e da confiança renovada entre executivos do que do projeto
de corte de impostos em que o
presidente investiu parte tamanha dos esforços de seu governo.
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