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Maior estabilidade não se converte em crescimento
Em dez anos, economia sempre registrou expansão menor que a dos demais emergentes
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil deve encerrar 2004 com
um histórico de dez anos seguidos
de crescimento anual abaixo da
expansão média de seus pares
emergentes. Em comparação
com a economia mundial, a brasileira perdeu em nove dos últimos
dez anos, a partir de 1995.
Uma mistura inflamável de desequilíbrio fiscal, até 1999, juros
altos, renda deprimida, em quase
todo o período, e falta de investimentos impôs limites à expansão
do PIB (Produto Interno Bruto).
Para piorar, a ocorrência de
quatro crises externas e três domésticas fez essa combinação inflamável explodir, levando o crescimento a nocaute.
Essa análise se traduz facilmente em números. Se o Brasil crescer
3,5% neste ano, como prevê o
Fundo Monetário Internacional
(FMI), terá uma média acumulada de expansão de 2,2% entre
1995 e 2004. Para a economia global, essa média será de 3,7% e, para o grupo de mercados emergentes, de 4,9%, no mesmo período,
também considerando estimativas do Fundo para este ano.
O surto inicial de crescimento
com a adoção do Plano Real, em
julho de 1994, foi sustentado pelo
consumo, graças aos ganhos de
renda da população mais pobre.
Mas esse boom durou pouco.
Segundo o economista Jorge
Arbache, professor da Universidade de Brasília, as reformas macroeconômicas -que incluíram,
também a abertura da economia- feitas pelo governo FHC
eram apropriadas, mas foram feitas em um contexto ruim: "A situação fiscal do país era muito
ruim, e o quadro era de estagnação desde a década de 1990. Esperava-se que o país teria um boom
de investimentos que não aconteceu, porque, devido à estagnação
de mais de uma década, a demanda era insuficiente".
De acordo com o economista
Ricardo Carneiro, professor da
Unicamp, a estrutura de investimento público já vinha sendo
desmantelada nessa época, mas
não se criaram políticas ativas que
atraíssem o setor privado.
O pior, segundo o economista
Armando Castelar Pinheiro, do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), é que, além de
não crescer, a taxa de investimento seguiu em queda.
"O crescimento do estoque de
capital foi de 3,2% ao ano no período entre 1981 e 1993 e de 2,2%
entre 1994 e 2002", diz Pinheiro.
Juros altos
Pinheiro ressalta ainda que a
adoção da âncora cambial obrigou a prática de uma política monetária de juros altos. Isso levou a
uma profunda piora da situação
externa do país, com a explosão
da dívida pública.
Essa situação foi se deteriorando ao longo dos anos à medida
que começaram a explodir as crises financeiras nos mercados
emergentes: no México, em 1994;
na Ásia, em 1997; na Rússia, em
1998; no Brasil, em 1999, na Argentina, em 2001, e, novamente,
no Brasil, em 2002. Além disso,
também em 2001, a economia
brasileira enfrentou a crise de
abastecimento de energia elétrica.
"Os choques externos foram
uma constante nos últimos anos.
O país sempre reagiu aumentando a carga tributária e os juros para tentar cobrir o seu buraco de
Estado megagastador e atrair investimento", diz Fernando Ferreira, sócio da GlobalInvest.
Quando passou a perseguir superávits primários (economia para pagar juros), a partir de 1999, a
situação fiscal do governo melhorou. Somada à adoção do câmbio
flutuante, essa mudança tornou o
país, segundo economistas, menos vulnerável a crises externas.
Isso não quer dizer, no entanto,
que o caminho para o crescimento esteja pavimentado. Muito pelo
contrário. Para economistas, o
Brasil ainda enfrenta problemas e
desequilíbrios que atrasam a retomada de investimentos.
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