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Controle da inflação
foi obtido com atraso
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na corrida da estabilização de
preços, o Brasil chegou entre os
últimos. É possível inclusive medir o atraso: no início dos anos 90,
quando a maioria das economias
já havia iniciado processos mais
ou menos exitosos de combate à
inflação, a economia brasileira
ainda registrava taxa anual de alta
de preços de nada modestos
2.700% -taxa de 1990.
Mesmo em 1993, a pouco mais
de seis meses do lançamento do
real, a alta, de acordo com as estatísticas do FMI (Fundo Monetário
Internacional), ficou em mais de
2.000%. Naquele ano, a inflação
argentina, por exemplo, era de
11%, a do Chile, de 13%.
O país chegou atrasado, mas
não perdeu a onda de planos, programas e controles que, pelo menos até agora, varreu a hiperinflação e o descontrole de preços de
quase todas as economias de relativa importância no mundo.
São vários os motivos que fizeram com que todos os países buscassem, com maior ou menor intensidade, estabilizar os preços.
Os processos inflacionários distorcem os preços, corroem as
poupanças da população, ajudam
devedores, mas fazem com que
credores percam dinheiro. Inflação alta também acaba distorcendo as funções de vários agentes
econômicos, como aconteceu no
Brasil com os bancos, que deixavam de emprestar recursos, dados os riscos do crédito em economias com altas inflações.
Já explicar por que um país como o Brasil demorou mais que a
média para matar o dragão inflacionário é mais difícil. As circunstâncias eram diferentes no Brasil,
o que ajuda a entender por que, ao
contrário de períodos anteriores,
a população não saiu às ruas em
passeatas contra "a carestia".
O porquê
Nenhum país desenvolveu, como o Brasil, instrumentos tão sofisticados de indexação de preços.
O Brasil é dos únicos que tinham
opções de investimentos financeiros com rendimentos diários, corrigidos por índices de preços. Isso
ajudava pelo menos a parte da população que tinha acesso ao sistema financeiro a proteger seus rendimentos da inflação.
A inflação também ajuda os governos. Durante processos inflacionários é mais fácil gastar mais
do que se arrecada, e a alta de preços ajuda a financiar o déficit do
governo. "Mas explicar o porquê
do atraso não dá. Não existe hoje
um estudo empírico que mostre
até que ponto os benefícios da inflação superam os custos e quando a pressão social torna-se forte
o suficiente para obrigar o governo a agir", diz o economista Sérgio Werlang, do Banco Itaú.
Os economistas não conseguem
explicar o porquê, mas o fato, todos concordam, é que a população brasileira já não estava mais
disposta a suportar descontroles
de preços a partir da hiperinflação
do início da década de 90.
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