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Hoje vedetes, agricultura e exportação sofreram no início
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Principais motores da economia brasileira, o agronegócio e o
setor exportador foram segmentos sacrificados nos primeiros
cinco anos de adoção do real.
No ano seguinte à implementação da nova moeda, em 1995, a
balança comercial registrou um
déficit de US$ 3,4 bilhões. O saldo
de trocas comerciais do Brasil
com o exterior continuou deficitário até 2001, quando registrou
um superávit de US$ 2,6 bilhões.
Para criar a chamada "âncora
verde", como é chamada a estabilização dos preços dos alimentos
em patamares mais baixos, a renda do produtor agrícola foi enxugada, ao mesmo tempo em que a
política monetária de elevação de
taxas de juros encareceu o crédito.
"Em 1995, a taxa de correção das
dívidas ficou em torno de 80%, e a
queda dos preços agropecuários
ficou em torno de 20% em termos
reais. Esse aumento de encargos
financeiros para o crédito, que
passou a ser corrigido pela TR
[Taxa Referencial] e pela TJLP
[Taxa de Juros de Longo Prazo],
foi problemático no início do
real", diz Getúlio Pernambuco, do
Departamento Econômico da
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Os percalços da agropecuária
nos primeiros anos do real podem ser vistos nas taxas de elevação do PIB (Produto Interno Bruto) do período. Em 1995, houve
crescimento de 1,8% no segmento
agrícola, contra 4,2% do PIB nacional. No ano seguinte, a agropecuária teve uma retração de 3,2%,
ante expansão de 2,7% do desempenho total brasileiro. A recuperação da agropecuária só veio em
1998, com uma taxa de 6,2%.
Mas segundo Carlos Bacha,
professor da USP, ao contrário de
alguns outros setores, as exportações agrícolas no período entre
1994 e 1998 não foram prejudicadas pela valorização cambial por
causa da Lei Kandir. Criada em
1996, a lei isentava as exportações
de produtos agropecuários "in
natura" do pagamento de ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços). Dados
da CNA revelam que o superávit
das exportações do setor agrícola
chegou a US$ 6,3 bilhões.
Estabilidade
"A agricultura viveu dois períodos no Plano Real. Um mais complicado, que durou até 1998, e um
outro, de expansão, a partir de
1999, com a desvalorização cambial", diz Glauco Carvalho, da
consultoria MB Associados.
A virada do setor agrícola também foi propiciada pelo surgimento de linhas de crédito para o
setor mais baratas, como o Moderfrota, do BNDES.
Na avaliação de Mauro de Rezende Lopes, professor da FGV-RJ, esse tipo de financiamento é
um legado da estabilidade monetária do Plano Real.
O maior grau de previsibilidade
do cenário econômico, fruto de
índices mais baixos da inflação
pós-real, também foi considerado
pelo presidente da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness),
Carlo Lovatelli, como um fator-chave para o agronegócio.
Nos últimos dez anos, o índice
de mecanização rural cresceu. O
número de trator de rodas por
hectare plantado subiu de 107, em
1995, para 148, em 2003. Para este
ano, a estimativa do Deral (Departamento de Economia Rural)
do Estado do Paraná é que o número chegue a 159. "Com mais investimento e tecnologia, passamos a ser um dos maiores provedores [de bens agrícolas] do mundo", diz Lovatelli.
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