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ÁGUIA PREPARA VÔO
Para analistas, economia deve ter crescimento lento e gradual, mas sem criação de postos de trabalho
Recuperação dos EUA não inclui emprego
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A economia norte-americana
está fora de perigo de voltar a uma
nova fase de desaceleração. Mas a
recuperação será lenta, gradual e
não terá impacto positivo sobre o
emprego. Essa é a opinião de alguns dos principais economistas
dos EUA ouvidos pela Folha.
A taxa de desemprego atual de
6,4%, a maior em quase uma década, deve se manter elevada por
vários meses, apesar da recuperação dos negócios, da Bolsa e dos
lucros das principais companhias
dos Estados Unidos.
"Não há dúvida de que os últimos dois meses indicam que estamos nos dirigindo a uma recuperação em termos mais tradicionais. A diferença, desta vez, é que
o desemprego vai se manter relativamente alto, na faixa de 6,5%
por mais algum tempo", afirma
Mickey Levy, economista-chefe
do Bank of America.
Para Kenneth Rogoff, economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), a retomada atual pode ser considerada
"morna", mas consistente.
Rogoff diz que mantém as previsões de crescimento de 2,2% para este ano e de cerca de 3,6% para
2004 feitas pelo Fundo em abril.
"Os prognósticos estão de acordo
com o que estamos assistindo."
Quem refez recentemente a previsão de crescimento dos EUA foi
o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central), Alan
Greenspan. A projeção passou de
3,75% para 2,5%. Greenspan sinalizou ainda, no Congresso norte-americano, que poderá reduzir
ainda mais a taxa de juros no país,
que está em 1% ao ano.
A recuperação "morna" é traduzida por alguns indicadores recentes: aumento de 0,4% nas vendas do setor industrial e de 0,5%
nas do varejo em junho.
Nos últimos três trimestres, os
EUA mantiveram o mesmo ritmo, com uma taxa média anualizada de crescimento de apenas
1,5%, o que poderia indicar uma
estagnação prolongada. Outros
indicadores, porém, permitem
vislumbrar uma evolução a partir
da segunda metade do ano.
Já no primeiro trimestre de
2003, o lucro das 500 maiores empresas dos EUA aumentou 11,7%
em relação ao resultado obtido no
mesmo período de 2002. Foi o
melhor resultado desde o estouro
da chamada "bolha de investimentos", em setembro de 2000.
Na Bolsa de Nova York, o índice
Dow Jones subiu 21% a partir do
início da guerra americana no Iraque e o S&P, das 500 maiores
companhias americanas, acumula valorização de 13,4% no ano.
"A não ser que ocorra algum
choque externo não previsto, não
há razões para acreditarmos em
uma deterioração daqui para
frente", afirma Vincent Truglia,
diretor-gerente da agência de
classificação de risco Moody's.
Os resultados positivos do início do ano já começam a se repetir
nos balanços das empresas do segundo trimestre, que começaram
a ser divulgados agora.
O problema é que boa parte do
aumento de lucros foi obtido pelo
enxugamento das companhias,
com cortes de investimentos e,
principalmente, de empregos.
Desde o início da última recessão americana, em março de 2001,
as empresas americanas cortaram
2,7% do total de vagas, o equivalente a mais de 2,6 milhões de empregos desde que George W. Bush
assumiu a Presidência.
No mesmo período, foram incorporados à força de trabalho
americana mais de 3 milhões de
novas pessoas -resultando em
um total de 9,6 milhões de desempregados atualmente no país.
Para absorver esse contingente,
os EUA precisariam crescer pelo
menos 4% ao ano pelos próximos
anos, o que não deve ocorrer, segundo as previsões mais otimistas, nem neste ano nem em 2004.
"O desemprego é apenas um
dos indicadores do todo. O mais
importante é sair do ciclo negativo para o positivo", afirma Truglia, da Moody's.
Quem seguiu empregado, porém, viu sua renda aumentar acima da inflação nos últimos 12 meses. Até junho, os salários tiveram
um ganho de 3%, em média, contra alta dos preços de 2,1%.
A renda é hoje o principal combustível da recuperação. "Gastos
na área de consumo voltaram, e a
demanda cresceu de forma consistente nas últimas semanas",
afirma Levy, do Bank of America.
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