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LUÍS NASSIF
A saga de Oscar Alemán
Comecei a me interessar pelo guitarrista argentino Oscar Alemán ainda nos anos 70,
depois de ler um comentário do
crítico norte-americano Leonardo Feather -considerado o
maior de jazz-, reputando-o
dono de um suingue superior ao
de Django Reinhardt, um dos
maiores da história.
Na minha primeira viagem à
Argentina, em 1985, voltei com
meia dúzia de fitas velhas de
Alemán, a informação de que
ele morrera em 1980 e tinha
uma filha de nome Selva, atriz
de televisão. Todas as vezes que
voltava a Buenos Aires retornava com mais algumas fitas. Em
todas elas, standards da música
internacional e uma profusão
de músicas brasileiras, de
Caymmi à bossa nova e, especialmente, no choro.
No fim de semana passado resolvi tirar três dias para passear
em Buenos Aires e tentar localizar alguma coisa de Alemán e
Eduardo Falú -esplêndido violonista, cantor e compositor argentino.
Não consegui convencer a filha de Alemán, Índia Morena,
de que eu era jornalista querendo informações sobre o pai. Ficou desconfiada, querendo que
eu enviasse e-mails com mais
dados. Não deu tempo de cumprir as exigências.
Na verdade, o que me interessava na visita era saber mais sobre a fase da vida de Alemán em
Santos, que marcaria para sempre sua produção. Seu balanço,
com mistura de choro, ritmos
caribenhos e jazz, forneceu as
bases para o jazz latino -que,
depois, explodiria em Cuba e,
especialmente, no estilo Paquito
de Rivera.
Em um CD lançado na França, que adquiri anos atrás, soube de sua infância em Santos, da
amizade com o violonista santista Gastão Bueno Lobo, de sua
volta a Buenos Aires ainda nos
anos 20, quando criou a dupla
Los Lobos.
O jornalista Alan Romero, radicado em Portugal e minucioso
pesquisador da internet, me forneceu informações adicionais
sobre Alemán.
Oscar Marcelo Alemán nasceu
no Chaco, Argentina, em 20 de
fevereiro de 1909. Foi menino de
rua em Santos. Tomava conta
de carros e se apresentava nos
bares do cais dançando, cantando e tocando cavaquinho. Aliás,
tenho duas versões da música
"D.A. 1925", um tema de jazz de
sua autoria, solado no cavaquinho, sem nenhum acompanhamento, de deixar o Armandinho
de queixo caído.
A mãe de Alemán era a pianista Marcela Pereira, índia da tribo Toba. O pai era o violonista
uruguaio Jorge Alemán Moreira, descendente de espanhóis.
Informações dos biógrafos dão
conta de uma família musical e
feliz, com muitos irmãos, que
constituíam o "Moreira Sextet".
Em 1919 eles se mudaram para
Santos. Em 1920 a mãe morreu
em Buenos Aires. No ano seguinte, o pai se suicidou em Santos. Os irmãos mais velhos sumiram e, aos 12 anos, Oscar se tornou menino de rua. Além da
música, fez de tudo, de palhaço
de circo a boxeador.
Em 1924 conheceu Gastão Lobo -que depois, na Argentina,
virou Gaston-, o qual o iniciou
no choro e no cavaquinho e mudaria sua vida. Voltou a Buenos
Aires, depois passou pelo Rio e
seguiu para uma temporada parisiense. Lá, Alemán foi descoberto pela vedete Josephine Baker.
Ficou até 1940 brilhando na
França, revezando-se com Django no histórico Hot Club, de Paris. Teve inúmeras oportunidades de seguir carreira, uma delas
em um convite de Duke Ellington, o maior nome do jazz norte-americano, para integrar sua
orquestra.
Deixou tudo para trás e voltou
para Buenos Aires. Lá montou
diversas formações, de orquestras a quintetos e trios. Suas
apresentações com o extraordinário violinista chileno Hernán
Oliva nada ficam a dever às históricas gravações de Django
com o violinista Stephane Grapelli.
Há um filme sobre ele, vendido em VHS, "Oscar Alemán - A
Swinging Life" (www.latinjazznet.com/reviews/video-oscar-aleman.htm).
Meu guru Nelsinho Risada,
grande cavaquinho, me contou
que no início dos anos 50 assistiu a uma apresentação de Alemán. Era um "showman", que
gostava de tocar com a guitarra
nas costas.
Mesmo com essas extravagâncias, está sendo redescoberto e
considerado, com toda justiça,
um dos maiores guitarristas do
século. Graças, em parte, a Gastão Lobo e ao choro.
E-mail -
luisnassif@uol.com.br
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