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ANÁLISE
Greenspan, de repente, parece mortal
GRETCHEN MORGENSON
DO "NEW YORK TIMES"
Como as estátuas de ditadores, os ícones do mundo dos
investimentos foram derrubados
um a um de seus pedestais, desde
que os mercados de ações atingiram seu pico, em 2000.
Presidentes de empresas, antes
celebrados por seus acionistas,
agora são encarados com desconfiança. Os analistas de ações, no
passado o equivalente de Wall
Street para astros do rock, agora
são vistos mais ou menos como
vendedores de pamonha.
Mas, em meio a toda essa confusão, Alan Greenspan, o presidente
do Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos),
manteve seu status como uma divindade. Não muito tempo atrás,
um congressista predisse que
Greenspan seria lembrado como
o maior dirigente de banco central de todos os tempos. Mesmo
depois de anos de queda nos preços das ações, o presidente do Fed
era um homem que os investidores continuavam considerando
como digno de admiração.
Isso até a semana retrasada,
quer dizer, quando as pessoas
simplesmente abandonaram as
mesuras e as palmas. De Washington a Wall Street, um profundo ceticismo tomou seu lugar.
Na semana retrasada, Greenspan foi ao Congresso norte-americano para seu depoimento regular sobre a política monetária e a
economia no país. Não tivemos o
habitual clima de festa.
O presidente do Fed foi questionado severamente por alguns dos
congressistas, que aparentemente
estão se cansando de esperar pela
recuperação econômica, que
Greenspan vem encarando como
iminente já há dois anos.
Eco político
Parte da hostilidade tinha fundo
político, evidentemente. A maior
parte das perguntas mais severas
veio dos democratas e de um congressista independente. Os congressistas expressaram preocupação quanto à alta dos déficits e do
desemprego e à baixa remuneração para a poupança. Mas, ainda
assim, a pressão dos congressistas
americanos representou uma virada significativa.
Em Wall Street, os comentários
de Greenspan deflagraram uma
onda de venda de títulos do Tesouro, com significativa elevação
das taxas de juros de longo prazo.
As ações também caíram. Os operadores do mercado de títulos não
gostaram de sua tépida promessa,
durante o primeiro dia de depoimento, de manter frouxa a política monetária pelo tempo que fosse necessário.
Indiretamente, Greenspan deixou claro que, assim que a economia se recuperar, os juros subirão.
E alguns operadores perceberam
o quanto era estranho que ele parecesse não ter nada a dizer sobre
a deflação, um tópico muito popular no Fed até ali. Pronunciamentos de funcionários do Fed
sobre a deflação ajudaram a reduzir as taxas de juros às baixas registradas na metade de junho.
Confiança abalada
Doug Kass, um administrador
de fundos de hedge na Seabreeze
Partners, em Palm Beach, Flórida,
disse que as reações de Wall Street
e de Washington na semana passada representam um marco.
"Greenspan agora oficialmente
perdeu a confiança dos mercados
de títulos", disse. "Os investidores
a partir de agora começarão a
questionar as políticas do Fed no
ciclo passado e no atual."
Greenspan disse que o movimento nos mercados de títulos indicava que os operadores também viam sinal de recuperação
econômica. Mas alguns dos operadores contestam essa avaliação
e dizem que o movimento demonstra a preocupação do mercado com a ascensão dos déficits
comercial e público, além dos riscos inflacionários que resultarão
do bombeamento da base monetária pelo Fed.
Ao reduzir tanto as taxas,
Greenspan criou duas novas manias, uma no mercado de títulos e
outra no de imóveis, disse Kass.
"O Fed não estava disposto a aceitar um ciclo econômico normal",
acrescentou. "Preferiu depender
da prorrogação de ativos supervalorizados a fim de manter o consumo em níveis muito elevados."
Mágica perdida
Agora, as taxas de juros começam a subir, ameaçando uma economia que só está se movendo devido ao alto endividamento dos
consumidores. Por exemplo, o capital dos proprietários de residências como porcentagem de seus
ativos imobiliários é hoje de
55,2%, segundo números do Federal Reserve. Em 1982, era de
69,9%. Os proprietários de residências estão usando o capital representado por suas casas para
consumo. Se os juros hipotecários
subirem, os preços das residências cairão, e essa porcentagem de
capital relativa ao patrimônio se
reduzirá ainda mais.
"Assim que você toma essa caminho de não permitir que o lado
destrutivo do capitalismo funcione, constrói um edifício cada vez
mais alto, e o valor das apostas feitas para impedir que ele caia não
pára mais de subir", afirmou Bill
Fleckenstein, que dirige a Fleckenstein Capital, de Seattle. "Todo o mundo acreditou, por pelo
menos cinco ou dez anos, que
bastava que Greenspan acenasse
com sua varinha de condão e todos os problemas estariam resolvidos. Quando as pessoas começam a se voltar contra ele, é aí que
a confusão se inicia."
Tradução de Paulo Migliacci
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