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TRABALHO
Apesar de acordo, montadora reafirma demissões
Com dois discursos, Volkswagen acirra conflito com sindicalistas
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sindicalistas brasileiros afirmaram ontem que perderam a "confiança" na Volkswagen e podem
suspender as negociações em torno da criação da Autovisão Brasil,
nova empresa do grupo projetada
para realocar um contingente de
3.933 funcionários considerados
excedentes pela montadora.
As declarações foram em reação
às afirmações do presidente do
grupo, Bernd Pischetsrieder, que,
na última sexta-feira, confirmou a
jornalistas alemães que a montadora pretende cortar cerca de
4.000 empregados no Brasil para
compensar a retração nas vendas.
"A Volks tem de decidir o que
ela quer. Não temos condição dar
continuidade a um processo de
negociação [a empresa quer o
apoio dos sindicalistas para formar a Autovisão] porque a nossa
confiança na empresa está prejudicada", disse Wagner Santana,
representante dos trabalhadores
da fábrica de São Bernardo do
Campo e vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores
da Volkswagen.
Pela reação negativa dos sindicalistas, crescem as dúvidas e a
confusão entre os discursos desconexos feitos pela montadora na
Alemanha e no Brasil.
Aos acionistas, a matriz alemã
informa que os lucros da Volkswagen mundial caíram 49% no
segundo trimestre em relação a
igual período de 2002, em decorrência da queda nas vendas mundiais. E reafirma a necessidade de
enxugar postos de trabalho, inclusive no Brasil, para compensar a
retração no mercado. Na Alemanha, a Volks não faz menção ao
projeto de criação da Autovisão
para administrar trabalhadores
excedentes, concentrados em
Taubaté e em São Bernardo.
Na última quinta-feira, o vice-presidente de Recursos Humanos
da Volks no Brasil, João Rached,
afirmou, entretanto, que a montadora vai respeitar acordos assinados com os sindicatos dos metalúrgicos que garantem estabilidade no emprego aos trabalhadores.
No caso de Taubaté, a estabilidade termina em fevereiro de 2004 e
no ABC, em 2006 -o que na prática impede as demissões nas
duas fábricas.
Em reunião com os sindicalistas, o executivo também pediu
"apoio" ao projeto da Autovisão,
empresa que servirá para incentivar funcionários e terceiros a
montarem negócios próprios. A
previsão é de investir inicialmente
R$ 300 milhões na Autovisão.
"Qual é o discurso que está valendo?", pergunta Santana. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo,
disse ontem, durante o 4º Congresso da categoria, que a Volks
não pode tratar o Brasil como
"colônia". A Folha não localizou
ontem a direção da Volks para comentar as declarações. Nova reunião entre trabalhadores e empresa está prevista para quarta-feira
em Taubaté.
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