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Aumento salarial é maior no setor público
Economia mais aquecida e decisões políticas levam salário do funcionalismo a se recuperar mais rápido que o do setor privado
Para sindicalista, rotatividade nas empresas privadas achata rendimento, o que não ocorre no setor público, por causa
da estabilidade no emprego
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O crescimento da economia,
a melhora nas finanças públicas e a decisão política dos governos em conceder reajustes
ao funcionalismo resultaram
em uma recuperação dos salários dos empregados do setor
público nos últimos seis anos
não constatada com a mesma
intensidade no setor privado.
Ao se compararem os rendimentos dos trabalhadores dos
dois setores em maio deste ano
com maio de 2002, há inclusive
perda salarial para quem trabalha na iniciativa privada.
O rendimento médio real do
trabalhador no setor público
cresceu 2,3% nesse período
-passou de R$ 1.824,84 para
R$ 1.866,79. No setor privado,
caiu 2,8% -foi de R$ 1.111,16
para R$ 1.079,69.
Os dados são da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do
IBGE realizada em seis regiões
metropolitanas -São Paulo,
Rio, Belo Horizonte, Salvador,
Recife e Porto Alegre- e levam
em conta os rendimentos de
servidores dos funcionalismos
federal, estadual e municipal.
"Com mais dinheiro em caixa
em razão do aumento na arrecadação pública, o Estado tomou uma decisão política: melhorar a relação com o setor público com a concessão de maiores reajustes", diz Anselmo
Luis dos Santos, economista do
Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp.
Durante o governo FHC
(1995-2002), o trabalhador no
setor público ficou praticamente oito anos sem ter aumento real de salário. O baixo
crescimento do país e o desemprego elevado dificultaram as
negociações salariais, segundo
o economista da Unicamp.
Os ganhos reais nos salários
do setor público começaram a
ficar mais evidentes a partir de
2005, impulsionados pelo crescimento econômico. Desde então, os rendimentos só cresceram mês após mês na comparação com igual período do ano
anterior. O maior aumento real
foi de 12,2% em outubro de
2006 sobre o mesmo mês de
2005. A situação somente se inverteu em maio deste ano,
quando o rendimento médio
real no setor público caiu 0,1%
ante igual período de 2007.
No setor privado, a recuperação dos salários foi mais expressiva a partir de 2006. Em
abril, o aumento real no salário
do trabalhador privado foi de
6,9% em relação a igual mês de
2005. Em maio deste ano, a
queda no rendimento real foi
de 0,9% ante igual mês de 2007.
"O rendimento no setor público está em um patamar mais
elevado do que o no setor privado. Enquanto no setor privado
os rendimentos são de R$ 800 a
R$ 1.100 mensais no emprego
com e sem carteira, no setor
público os rendimentos estão
entre R$ 1.800 e R$ 2.000 por
mês", diz Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME do IBGE.
As perdas no rendimento de
quem trabalha no setor privado
com ou sem carteira assinada
chegaram a 4,7% e 3,1%, respectivamente, na comparação
de maio deste ano com o mesmo mês de 2002. "O processo
de terceirização de serviços nas
empresas tem impacto negativo nos rendimentos dos trabalhadores", diz Azeredo Pereira.
O que pode explicar essa diferença de ganhos entre os trabalhadores da iniciativa privada e
do funcionalismo é a rotatividade adotada pelas empresas,
com a substituição de empregados que ganham mais pelos que
recebem menos, segundo João
Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical.
"A rotatividade que ocorre
nas empresas do setor privado
achata os salários. No setor público, isso não se verifica até
por causa da estabilidade."
Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores),
diz que o governo Lula abriu espaço para as negociações. "As
entidades sindicais de servidores públicos souberam usar esse espaço. Incentivar a formação de mesas de negociação estava no programa de Lula. Mas,
se não houvesse mobilização,
os números obtidos de reajustes reais não seriam esses."
José de Campos Ferreira, diretor da Fenasps (Federação
Nacional dos Sindicatos de
Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social), afirma que o governo Lula abriu espaço para negociação, mas errou ao não estabelecer uma política "global"
de reestruturação das carreiras
e de recuperação do salários.
"As greves [de servidores e
funcionários de estatais] ainda
são instrumentos necessários.
O governo senta à mesa, mas
vem com as propostas prontas.
É surdo para os problemas que
os servidores enfrentam em
suas condições de trabalho, como no caso dos funcionários do
INSS", afirma Ferreira.
Negociações favorecidas
O avanço da economia brasileira e a queda da inflação favoreceram as negociações salariais, avalia o presidente da
CUT. "No ano passado, 87,7%
dos acordos salariais firmados
incorporaram reajustes acima
da inflação. É como negociar
com uma metalúrgica. Se a fábrica está vendendo e lucrando
mais, as negociações tendem a
ter resultados melhores. O nosso argumento também é que o
governo precisa valorizar o servidor e o serviço dele", afirma o
sindicalista.
No setor privado, não existe a
cultura de repassar ganhos para os trabalhadores, ressalta o
presidente da CUT. As empresas preferem complementar
salários concedendo participação nos lucros e nos resultados
-benefício que não é incorporado aos salários. "Nós queremos mais ganhos reais de salários", diz Silva Santos.
Apesar dos aumentos reais
de salários, a participação da
soma da remuneração do trabalhador sobre o PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro continua estabilizada há anos, em
torno de 39% a 40%. "Isso mostra que os ganhos de produtividade não são repassados na totalidade para o conjunto de trabalhadores", afirma o presidente da CUT.
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