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Brasil se distancia de emergentes na OMC
Países de bloco emergente (G20) resistem à proposta que foi aceita pelo Brasil; Argentina fala em "tensão" no Mercosul
União Européia nega
que irá apresentar uma proposta alternativa e afirma que um acordo
na OMC está próximo
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Argentina, Índia e outros
aliados do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) continuam resistindo à
proposta feita na sexta-feira
para destravar a Rodada Doha.
E distanciando-se do Brasil, o
primeiro país a aceitar a oferta.
O impasse também cria problemas para o Mercosul, que já
não tem uma posição unificada
nas negociações.
O Brasil concorda com a fórmula proposta para os cortes
tarifários da indústria nos países em desenvolvimento, que
prevê redução média de 54%. A
Argentina, porém, a considera
excessiva, temendo o impacto
em sua indústria. Além disso,
exige que a proteção aos setores sensíveis se estenda a 16%
das linhas tarifárias, enquanto
a proposta fala em 14%.
O chanceler brasileiro, Celso
Amorim, evitou ontem falar em
crise. "A Argentina sabe que lutamos pelo Mercosul."
À agência France Presse,
contudo, o principal negociador da Argentina, Alfredo Charadia, disse que a adoção do pacote pelo Brasil "criou tensão"
no Mercosul. O chanceler argentino, Jorge Taiana, se limitou a dizer que era uma "opção
do Brasil", não do Mercosul.
Hoje promete ser mais um
dia decisivo para o destino das
discussões em torno de um
acordo global de comércio. Ministros de mais de 30 países
vieram a Genebra no início da
semana para o encontro, cujo
objetivo é reduzir as barreiras
comerciais. Mas as discussões
foram reduzidas a um grupo de
sete países, entre eles o Brasil,
que hoje voltarão a se reunir
para tentar um entendimento
sobre o pacote de soluções
apresentado anteontem.
Amorim reconheceu que o
compromisso com a aliança
dos países emergentes (o chamado G20) tem seus limites
nesta reta final. "O G20 não é
um fim em si mesmo", disse ele.
"O fim é obter um bom acordo
na Rodada Doha. Na hora da
verdade, as avaliações podem
não ser as mesmas. Cada país
terá de tomar a sua decisão."
Embora nenhum dos integrantes admita abertamente
um racha na aliança, os países
que rejeitaram a proposta oferecida por Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, com a condição de que fosse aceita sem alterações, continuam irredutíveis. O ministro do Comércio
indiano, Kamal Nath, foi irônico ao ser indagado sobre a sobrevivência do G20. "Pergunte
ao Celso [Amorim]."
Pedindo para não serem
identificados, negociadores indianos revelaram que a sensação é a de que o G20, sem unidade, perdeu sua razão de ser.
O comissário de Comércio da
União Européia, Peter Mandelson, que enfrenta pressão de alguns membros do bloco para
reduzir as concessões agrícolas
em abertura de mercado aos
emergentes, disse ontem que
um acordo está próximo. Seu
porta-voz, Peter Power, negou
que o bloco apresentará uma
proposta alternativa. "É essa ou
nada", disse Power à Folha.
Um dos principais entraves
para o avanço das conversas é a
insistência da Índia em incluir
no acordo a possibilidade de
aplicar picos tarifários para
proteger seu mercado agrícola
em casos de surtos de importação. Para Nath, a medida é essencial para não colocar em risco a "segurança alimentar" dos
emergentes.
Mas um negociador indiano
disse à Folha que o país tem espaço para manobrar e não será
um obstáculo ao acordo. Como
exemplo da disposição em negociar, disse que Kamal Nath
estendeu até quarta-feira sua
permanência em Genebra.
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