|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inflação menor isola Meirelles em conselho econômico
Críticos do BC dizem em reunião que não há excesso de demanda na economia
Para Delfim e Mantega,
inflação vinha sendo
puxada pela alta das
commodities, que agora
recuam e aliviam pressão
VALDO CRUZ
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ficou
praticamente isolado ontem
durante reunião do conselho
econômico informal do presidente Lula, quando alguns dos
presentes fizeram o diagnóstico de que não há excesso de demanda nem forte pressão salarial na economia brasileira.
Esses dois fatores têm sido
utilizados pelo Banco Central
para justificar o movimento de
alta dos juros iniciado desde
que a inflação apresentou sinal
de elevação, no início do ano.
Em sua última reunião, o BC
subiu os juros em 0,75 ponto
percentual, para 13%.
O economista Delfim Netto,
ex-deputado do PMDB-SP, foi
quem mais tratou do tema durante a reunião do conselho no
Planalto. Crítico dos juros altos, Delfim fez uma avaliação
de que a inflação brasileira estava sendo puxada pelo alta do
preço internacional das commodities, e não por excesso de
demanda interna.
Tanto que, segundo ele, a inflação deu sinais de recuo tão
logo os preços internacionais
começaram a cair. O ex-deputado destacou também não enxergar uma pressão sobre os
preços a partir dos aumentos
salariais, já que eles estariam
subindo abaixo do crescimento
da produtividade registrada na
economia brasileira.
As críticas de Delfim Netto
na reunião com Lula endossam
o diagnóstico do ministro Guido Mantega (Fazenda), que
sempre atribuiu o maior peso
da inflação ao choque externo.
Outro integrante do conselho que tem posição semelhante à de Mantega é o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo. Para
engrossar o grupo dos que têm
posição mais crítica em relação
ao BC, ontem o conselho contou com a participação do representante do Brasil no FMI
(Fundo Monetário Internacional), Paulo Nogueira Batista Jr.
Segundo relato de presentes,
não houve clima de críticas ostensivas ao BC, mas a apresentação de diagnóstico que contraria as teses da política monetária, que devem embasar nova
alta dos juros na próxima reunião do Copom (Comitê Política Monetária), em setembro.
Há uma expectativa no Planalto de que o BC poderia pelo
menos reduzir a dose da alta de
juros, evitando repetir a alta de
0,75 ponto percentual.
Aperto fiscal
Presente à reunião, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que, apesar dos diagnósticos divergentes, é preciso
ter uma sintonia entre BC e Fazenda, acrescentando que, se
houver nova alta das commodities, como prevêem alguns analistas, o governo deveria avaliar
a possibilidade de fazer um novo aperto fiscal (provavelmente corte de gastos) para aliviar a
política monetária.
Em sua fala no encontro,
Mantega citou, por sinal, que "o
pior já passou" na inflação, ressaltando que os preços dos alimentos começaram a recuar
com a queda das commodities.
Durante as discussões sobre
excesso de demanda, Meirelles
limitou-se a ouvir. Mais adiante, como tem conversado com
vários colegas de BCs de outros
países, fez uma avaliação da
conjuntura internacional. Afirmou ainda existir uma variável
de grande incerteza sobre o
ajuste na economia dos EUA
após as eleições presidenciais.
Meirelles acrescentou que a
desaceleração econômica de
EUA, Europa e Japão continuará a ter impacto sobre as demais economias mundiais.
Diante dessa avaliação, Lula
ressaltou que sua equipe precisa evitar tomar medidas além
da dose para não prejudicar o
crescimento brasileiro.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Lá vamos nós outra vez Próximo Texto: Meta de superávit para o ano é cumprida em 7 meses Índice
|