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ENERGIA
Empresas terão de honrar acordos do racionamento e ainda pagar mais R$ 600 milhões com correção por IGP-M
Herança do apagão suga R$ 4 bi de geradoras
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A capacidade de investimento
das geradoras de energia deverá
diminuir no próximo ano, em
consequência de um processo de
transferência de recursos entre o
setor que pune as empresas estatais, principalmente as do sistema
Eletrobrás. Especialistas do setor
estimam que a sangria chegue a
quase R$ 5 bilhões (leia quadro).
Até o dia 22 de novembro as geradoras terão de pagar R$ 2,2 bilhões referentes à compra da chamada "energia livre" comercializada no MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica).
Esse valor corresponde ao período compreendido entre setembro de 2000 e fevereiro deste ano,
segundo estimativa do vice-presidente da Abrage (Associação Brasileira das Grandes Empresas Geradoras de Energia Elétrica), Silvio Areco. "Esse é o saldo líquido
das transações, a diferença entre o
que as geradoras têm a receber e a
pagar no MAE", diz Areco.
O dinheiro será transferido aos
chamados "geradores livres", as
empresas que tinham sobra de
energia durante o racionamento e
a repassaram às grandes geradoras que eram deficitárias. Estão
entre elas a belga Tractebel, as geradoras independentes, como a
CSN, algumas termelétricas -todas privadas- e as estatais Furnas, Cesp e Angra 2.
Também naquela data as geradoras têm de liquidar outra fatura, estimada entre R$ 1,8 bilhão e
R$ 2 bilhões por diretores de empresas e analistas de mercado ouvidos pela Folha. Esse é o total de
recursos que as geradoras -80%
delas estatais- pagarão às distribuidoras -85% das quais privatizadas- pela recompra de energia após o fim do racionamento.
Segundo Areco, o Acordo Geral
do Setor, fechado no final do ano
passado e transformado em lei (nš
10.438 de 26/04/2002), prevê que
de março a dezembro deste ano as
geradoras recomprem a energia
contratada pelas distribuidoras,
nos chamados contratos iniciais
firmados na privatização, que não
chegar a ser consumida.
Como após o racionamento o
consumo nacional caiu em média
12%, as geradoras estão comprando, mensalmente, o equivalente a
esse percentual de seus clientes.
Detalhe: quando vendem a energia, as geradoras cobram em média R$ 50 o megawatt-hora; ao recomprar as sobras, pagam R$ 73.
Segundo Sérgio Tanashiro, analista do setor elétrico do Unibanco, "a recompra provocou perda
de receitas para as geradoras em
2002". Ele calcula que, para recuperar essa perda, as geradoras teriam de aumentar em 7% seus
preços no próximo ano. "Se não
houver o repasse para os preços,
as geradoras serão prejudicadas
em sua capacidade de investimento no ano que vem."
Mordidas
Na última semana, as receitas
das geradoras sofreram novas e
violentas mordidas. A Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica), organismo regulador do
setor, determinou que os débitos
das empresas no MAE sejam corrigidos pelo IGP-M.
Segundo estimativas de dirigentes de empresas, haveria uma
transferência extra de recursos
das grandes geradoras para as distribuidoras e "geradores livres"
de cerca de R$ 600 milhões com a
correção (leia texto abaixo).
Outra dentada foi desferida
contra a Eletrobrás, na quarta-feira. O governo decidiu antecipar a
redução de 15% no preço da energia fornecida por Itaipu às distribuidoras das regiões Sul e Sudeste, prevista para janeiro, e jogar a
conta no cofre da Eletrobrás.
Segundo estimativa de Tanashiro, com base em informações fornecidas pela empresa, a fatura é
de R$ 100 milhões mensais. Neste
ano, ela teria esse desembolso nos
meses de novembro e dezembro.
Mas em 2003 a conta será salgada: segundo analistas, a Eletrobrás deixará de receber R$ 1,2 bilhão com a redução da tarifa de
Itaipu. "Ela tem 50% do capital da
binacional e é sua principal credora, pois foi quem financiou a
construção da hidrelétrica", diz
Marcos Brandão, analista da Fator Doria Atherino.
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