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Microsoft busca caminho sem Gates
Caberá a seus sucessores dominar os desafios da internet ou assistir ao constante desgaste da empresa
Fundador da Microsoft teve ontem seu último dia de trabalho na empresa; agora, ele se dedicará à fundação Bill e Melinda Gates
STEVE LOHR
DO "NEW YORK TIMES"
Bill Gates está se aposentando, mais ou menos. Ele tem somente 52 anos e vai passar mais
tempo conduzindo a instituição filantrópica mais rica do
mundo, a fundação Bill e Melinda Gates. Ele ainda será o
presidente e maior acionista da
Microsoft, mas ontem foi seu
último dia como trabalhador
em tempo integral na gigante
do software, marcando o fim
oficioso de sua carreira como líder empresarial.
E que carreira! Gates foi uma
força propulsora por trás da revolução dos computadores pessoais, ajudando a construir
uma enorme indústria global e
a criar produtos de grande sucesso, como o Windows e o Office, usados em escritórios e residências em todo o mundo.
O desistente de Harvard foi a
pessoa mais rica do planeta durante anos -valendo mais de
US$ 100 bilhões em 1999-,
mas sua fortuna hoje é cerca da
metade desse valor, devido à
queda das ações da Microsoft e
suas constantes doações para
sua fundação, que se concentra
em saúde e educação globais.
Apesar de seu sucesso, Gates
está avançando enquanto a empresa que ele ajudou a fundar
em 1975 luta para encontrar
seu caminho. O centro de gravidade na tecnologia mudou dos
PCs para a internet, alterando
antigas regras de concorrência
que eram tão lucrativamente
dominadas pela Microsoft.
Para milhões de usuários,
equipamentos móveis como os
telefones celulares estão começando a superar os PCs como
ferramentas preferidas para
muitas tarefas de computação.
E o Google, primeiro colocado
na atual onda de computação
pela internet, retirou da Microsoft o manto de líder em alta
tecnologia.
Gates ainda vai passar um dia
por semana na empresa, mas
caberá a seus sucessores, liderados pelo presidente-executivo, Steven A. Ballmer, dominar
os desafios da internet ou assistir ao constante desgaste da riqueza e da estatura da Microsoft no setor. "O legado de Gates são o Windows e o Office, e
essa será uma rica franquia durante vários anos ainda, mas
não é o futuro", disse David B.
Yoffie, professor da Escola de
Administração de Harvard.
Ainda assim, o legado de Gates é impressionante. Além do
software em si, ele e sua empresa fundamentalmente moldaram o modo como as pessoas
pensam em concorrência em
muitos setores em que a tecnologia ocupa um papel central.
Hoje, há mais de 1 bilhão de cópias do sistema operacional
Windows em PCs no mundo.
Especialistas da indústria e
economistas dizem que o Windows não é necessariamente o
melhor ou o mais admirado
software para rodar operações
básicas em um computador
pessoal -o Macintosh, da Apple, pode reivindicar o fã-clube
mais devoto. Mas Gates captou
e utilizou dois conceitos relacionados em uma escala até então inédita: o poder dos efeitos
em rede e o valor de estabelecer
uma plataforma tecnológica.
Colocado de maneira simples, o efeito em rede descreve
um fenômeno em que o valor
de um produto aumenta conforme cresce o número de seus
usuários. As mensagens eletrônicas e os telefones são exemplos clássicos.
Uma plataforma tecnológica
é um conjunto de ferramentas
ou serviços que outros podem
utilizar para construir seus
próprios produtos ou serviços.
Quanto mais pessoas usarem as
ferramentas, mais popular será
a plataforma.
Gates aproveitou as duas
idéias e as combinou para construir o predomínio da Microsoft em PCs, disseminando sua
influência entre fabricantes de
computadores e desenvolvedores de software.
Hoje, há muitos milhares de
aplicativos de software que rodam na plataforma Windows,
não apenas processadores de
texto e planilhas, mas também
programas especializados em
consultórios médicos, indústrias e grandes lojas.
"Gates viu o software como
um mercado separado do hardware antes de qualquer outra
pessoa, mas sua grande visão
foi reconhecer o poder dos efeitos em rede que cercam o software", disse Michael A. Cusumano, professor na Escola de Administração Sloan do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Assumir riscos
Nos primeiros anos, não estava claro o quanto Gates aproveitava cada oportunidade que
aparecia, em oposição a desenvolver uma grande estratégia.
Ele certamente tinha grandes
ambições. Quando estudava
em Harvard, Gates lamentou
que muitos colegas seguissem
"uma trilha estreita para o sucesso" em vez de "assumir
grandes riscos para fazer grandes coisas", lembrou Michael
Katz, um contemporâneo em
Harvard que hoje é professor
na Universidade de Nova York.
Em um estudo de caso da Escola de Administração de Harvard, publicado em 1994, Gates
falou sobre a estratégia da Microsoft em termos de efeitos
em rede e padrões tecnológicos
que, combinados, permitiam
que a empresa comandasse os
mercados. "Procuramos negócios onde podemos conseguir
grandes participações de mercado, não apenas 30 ou 35%."
No passado, a Microsoft superou desafios e venceu adversários mesmo quando chegou
tarde aos mercados, como na
primeira onda de tecnologia da
internet. A hábil decisão de Gates em 1995, de abraçar a tecnologia de navegação da internet e
atacar o líder anterior, a Netscape Communications, iniciou
uma acirrada batalha antitruste com o governo americano.
Mas a Microsoft está muito
atrasada na atual rodada da
competição na internet, e segundo analistas desta vez enfrenta desafiantes mais formidáveis, notadamente o Google.
A participação da Microsoft
em buscas na internet nos EUA
é inferior a 10%, enquanto o
Google detém mais de 60% e o
Yahoo!, cerca de 20%.
Na Microsoft não há grandes
sinais de pânico, apesar de sua
posição atrasada e de sua oferta
fracassada para comprar o Yahoo por US$ 47,5 bilhões como
estratégia de compensação. A
Microsoft vê uma evolução na
computação, e não uma revolução que ponha em risco a empresa, disse Craig Mundie,
principal oficial de pesquisa e
estratégia da Microsoft.
Segundo Mundie, a empresa
se prepara para um mundo
mais amplo de computação em
nuvem e máquinas "clientes",
não apenas computadores pessoais mas também telefones celulares, carros, consoles de games e televisores, tudo com
software Microsoft. "A próxima grande plataforma é a união
dos clientes com a nuvem."
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES
GONÇALVES
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