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EM TRANSE
Equipe econômica pretendia recorrer ao Fundo apenas para tranquilizar transição, mas crise estourou no governo FHC
Tática para a transição com FMI dá errado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o dólar ultrapassando a
barreira dos R$ 3 e a escalada do
risco-país para níveis equivalentes ao de calote, a equipe econômica fechou a semana avaliando
que, se não houver uma melhoria
no curtíssimo prazo, terá de tomar uma atitude a contragosto.
Isto é, prorrogar o atual acordo,
aumentar o pacote de empréstimos desse acordo ou fechar um
novo acerto com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) antes
de 6 de outubro, dia do primeiro
turno das eleições no Brasil.
Esse acordo é visto pelo governo
FHC como a única maneira de superar a turbulência financeira que
o país atravessa. Tal crise, na avaliação da equipe econômica do
governo, é agravada pela liderança de dois candidatos da oposição
nas pesquisas de intenção de voto
para a Presidência da República.
Nas conversas com o FMI, os integrantes da equipe econômica
chegaram a discutir a hipótese de
propor um acordo com o FMI somente depois do primeiro turno
da eleição. O argumento: seria
mais fácil obter um compromisso
com metas de inflação, metas fiscais e respeito aos contratos de
dois candidatos do que de três ou
quatro.
O compromisso dos presidenciáveis é a garantia que o FMI gostaria de ter para evitar que, após a
posse do novo presidente, a atitude do governo mudasse e houvesse o risco de o país não pagar o novo empréstimo. Com a equipe de
FHC não há esse risco. O pagamento de parte dos dois empréstimos do Fundo chegou a ser realizado antecipadamente.
Acordo urgente
Diante da piora do cenário externo, com o aprofundamento da
crise nos Estados Unidos, e da situação interna -a alta do dólar e
o maior nervosismo no mercado
financeiro-, o governo passou a
trabalhar com a hipótese -que já
havia sido discutida antes- de
prorrogar o atual acordo ou fechar um novo com prazo de duração de no máximo 12 meses.
Nesse caso, a idéia é obter um
empréstimo do FMI com valor
entre US$ 5 bilhões e US$ 12 bilhões -a obtenção desse dinheiro pode ser fechada por um acerto
já na semana que vem. Além disso, o piso das reservas internacionais líquidas (que excluem os recursos do Fundo) poderia ser reduzido. O piso está hoje em US$
15 bilhões. Os recursos para as intervenções no mercado vem dessas reservas, atualmente próximas de US$ 27 bilhões.
Apesar de o governo ter intensificado as conversas com o FMI
para fechar um acordo antes de 6
de outubro, uma outra negociação poderá ser feita após a escolha
do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Se o cenário econômico continuar ruim, o que é difícil de prever hoje, poderá ser oferecida ao
novo governo a possibilidade de
assinar um acordo com prazo
mais longo com o FMI.
Nesse caso, o valor do empréstimo e suas condições seriam negociados com o presidente eleito.
Mas tudo dependerá da evolução
da situação econômica e da vontade do próximo presidente.
Futuro econômico
Além da crônica vulnerabilidade externa do Brasil, o que amarrou o crescimento do país nos
anos FHC, a perspectiva de um
presidente de oposição leva o
mercado financeiro a desconfiar
do futuro econômico do país.
Hoje, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, estão
na frente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), entre 32% e 35%, e Ciro Gomes (PPS), na faixa de 25% a 27%.
O tucano José Serra, candidato do
governo, está abaixo dos 15%,
aproximando-se de Anthony Garotinho (PSB), cujo percentual
ronda os dez pontos.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, já obteve do FMI
aval para propor um acerto, mas a
condicionante do Fundo de um
endosso de candidatos de oposição pode dificultar o acordo.
Mais: o Fundo pede a manutenção dos juros em patamares elevados. A vice-diretora-gerente do
FMI, Anne Krueger, não gostou
da queda dos juros básicos da
economia de 18,5% para 18% ao
ano, decidida pelo Banco Central
neste mês, avaliando que não era
o momento de afrouxar a política
monetária. Malan e Armínio negam que Krueger tenha criticado
a redução nos juros.
Segundo a Folha apurou, Malan
teme que a pressão da campanha
presidencial de Serra por boas notícias na economia leve o mercado a duvidar da manutenção do
atual rumo econômico, que combina ajuste fiscal e juros altos.
Apesar de o governo afirmar
que a lógica eleitoral não contaminará a campanha, o presidente
Fernando Henrique Cardoso tem
dado sinais de que pretende socorrer Serra na economia. Uma
evidência disso foi a anunciada
intervenção no mercado de combustíveis, para tentar baixar o preço do gás de cozinha, produto que
mais subiu nos oito anos do Plano
Real (472% nos cálculos do IBGE). O preço do gás foi duramente atacado por aliados de Serra,
que também fez campanha contra a liberdade da estatal do petróleo de fixar os preços da gasolina.
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