São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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Elevação do risco anula efeito do corte nos juros

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise no mercado financeiro impede que o benefício para a economia real obtido pelo corte dos juros básicos (Selic) se confirme, pelo menos no curto e médio prazo. Ou seja, o custo dos financiamentos e dos empréstimos para pessoas físicas e empresas cai muito pouco ou não se altera.
As taxas de juros mais longas -as mais importantes para consumidores e empresas- voltaram a subir e já se aproximam do nível em que estavam na semana retrasada, antes de o BC reduzir em 0,5 ponto percentual a Selic, que passou a 18% ao ano.
O BC controla a taxa de curto prazo (Selic), que é fixada todos os meses pelo Copom (Comitê de Política Monetária). Cortes na Selic costumam influenciar as taxas no mercado futuro, mas isso nem sempre acontece.
"Essa é a graça da política monetária. O BC tem o controle da taxa básica, mas não sabe o efeito da taxa longa", disse à Folha, no mês passado, o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn.
As taxas no mercado futuro acompanham mais de perto o risco-país (diferença entre as taxas pagas pelos títulos da dívida externa do país e as dos papéis do Tesouro americano). São também uma medida de risco, porém do mercado interno.
Quando a percepção de risco sobe lá fora, as taxas dos contratos de DI (depósito de interbancário) -conhecidos como juros no mercado futuro- elevam-se na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Na sexta-feira, a taxa de risco-país, medida pelo índice Embi+, do banco JP Morgan, chegou a quase 2.000 pontos (equivalente a 20 pontos percentuais acima dos juros pagos pelos títulos americanos), recorde histórico.
A taxa Selic é a que o BC usa como parâmetro para emprestar e tomar dinheiro emprestado dos bancos, basicamente em operações de curtíssimo prazo, isto é, de um dia para o outro.
Já as taxas de prazos maiores, como as embutidas nos contratos de DI negociados na BM&F, servem de referência para os bancos cobrarem juros sobre os empréstimos para consumidores e empresas. Daí sua importância para a economia real.
"A taxa de seis meses [hoje, o DI com vencimento em janeiro" reflete muito mais o custo de captação das empresas e o sentimento do consumidor", disse Goldfajn.
No começo do mês, o DI com vencimento em janeiro de 2003 -o contrato de juros futuros atualmente mais negociado na BM&F- passou de 24% ao ano, enquanto a Selic estava em 18,5%.
Com a proximidade da reunião do Copom, quando parte do mercado esperava corte na Selic, o DI de janeiro recuou para 23%. Após a queda da taxa básica, desceu para 21%. Na semana passada, acompanhando a alta do dólar e do risco-país, voltou a subir. Na sexta-feira, fechou em 23,12%.
"Para trazer o benefício [da queda da taxa básica" para a sociedade, a percepção de risco tem de se reduzir. Devido às turbulências no mercado, não temos taxas [de juros futuros" declinantes", afirma o economista-chefe do banco Itaú, Tomás Málaga.
"O alcance da taxa Selic é muito mais para as transações no interbancário -entre instituições financeiras. Para os demais agentes da economia [pessoas físicas e empresas", tem pouquíssimo efeito prático", diz Luis Afonso Lima, economista do BBV Banco.


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