|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Elevação do risco anula efeito do corte nos juros
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise no mercado financeiro
impede que o benefício para a
economia real obtido pelo corte
dos juros básicos (Selic) se confirme, pelo menos no curto e médio
prazo. Ou seja, o custo dos financiamentos e dos empréstimos para pessoas físicas e empresas cai
muito pouco ou não se altera.
As taxas de juros mais longas
-as mais importantes para consumidores e empresas- voltaram a subir e já se aproximam do
nível em que estavam na semana
retrasada, antes de o BC reduzir
em 0,5 ponto percentual a Selic,
que passou a 18% ao ano.
O BC controla a taxa de curto
prazo (Selic), que é fixada todos
os meses pelo Copom (Comitê de
Política Monetária). Cortes na Selic costumam influenciar as taxas
no mercado futuro, mas isso nem
sempre acontece.
"Essa é a graça da política monetária. O BC tem o controle da
taxa básica, mas não sabe o efeito
da taxa longa", disse à Folha, no
mês passado, o diretor de Política
Econômica do BC, Ilan Goldfajn.
As taxas no mercado futuro
acompanham mais de perto o risco-país (diferença entre as taxas
pagas pelos títulos da dívida externa do país e as dos papéis do
Tesouro americano). São também uma medida de risco, porém
do mercado interno.
Quando a percepção de risco
sobe lá fora, as taxas dos contratos
de DI (depósito de interbancário)
-conhecidos como juros no
mercado futuro- elevam-se na
BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros). Na sexta-feira, a taxa de
risco-país, medida pelo índice
Embi+, do banco JP Morgan, chegou a quase 2.000 pontos (equivalente a 20 pontos percentuais acima dos juros pagos pelos títulos
americanos), recorde histórico.
A taxa Selic é a que o BC usa como parâmetro para emprestar e
tomar dinheiro emprestado dos
bancos, basicamente em operações de curtíssimo prazo, isto é,
de um dia para o outro.
Já as taxas de prazos maiores,
como as embutidas nos contratos
de DI negociados na BM&F, servem de referência para os bancos
cobrarem juros sobre os empréstimos para consumidores e empresas. Daí sua importância para
a economia real.
"A taxa de seis meses [hoje, o DI
com vencimento em janeiro" reflete muito mais o custo de captação das empresas e o sentimento
do consumidor", disse Goldfajn.
No começo do mês, o DI com
vencimento em janeiro de 2003
-o contrato de juros futuros
atualmente mais negociado na
BM&F- passou de 24% ao ano,
enquanto a Selic estava em 18,5%.
Com a proximidade da reunião
do Copom, quando parte do mercado esperava corte na Selic, o DI
de janeiro recuou para 23%. Após
a queda da taxa básica, desceu para 21%. Na semana passada,
acompanhando a alta do dólar e
do risco-país, voltou a subir. Na
sexta-feira, fechou em 23,12%.
"Para trazer o benefício [da queda da taxa básica" para a sociedade, a percepção de risco tem de se
reduzir. Devido às turbulências
no mercado, não temos taxas [de
juros futuros" declinantes", afirma o economista-chefe do banco
Itaú, Tomás Málaga.
"O alcance da taxa Selic é muito
mais para as transações no interbancário -entre instituições financeiras. Para os demais agentes
da economia [pessoas físicas e
empresas", tem pouquíssimo efeito prático", diz Luis Afonso Lima,
economista do BBV Banco.
Texto Anterior: Tática para a transição com FMI dá errado Próximo Texto: Frases Índice
|