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Resistência de China e Índia travam OMC
Gigantes emergentes são maiores barreiras para acordo de liberalização do comércio global negociado em Genebra
Divergências dentro do Mercosul após rejeição argentina de redução de tarifa industrial também é entrave para acordo
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
As negociações em torno de
um acordo global de comércio
esbarram na resistência dos
dois maiores países emergentes em aceitar a proposta apresentada na sexta-feira para
romper o impasse.
Índia e China exigem modificações no pacote de soluções
elaborado pelo diretor-geral da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), Pascal Lamy, o que
é rejeitado vigorosamente pelos países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos.
Para a Índia, o maior problema é aceitar a fórmula de limites à importação. Seu argumento é que ela não fornece proteção suficiente aos pequenos
agricultores e põe em risco a segurança alimentar. Paraguai e
Uruguai fazem firme oposição
à medida, em mais um foco do
racha entre os emergentes.
Já a China rejeita a linguagem incluída na proposta de
acordos setoriais para reduções
tarifárias na indústria. Exige
que fique claro o caráter voluntário dos acordos.
Além disso, Pequim retrocedeu nas negociações e agora diz
que não aceita cortar tarifas sobre três produtos -arroz, trigo
e açúcar. O endurecimento chinês preocupa os grandes produtores agrícolas emergentes,
entre eles o Brasil.
Depois de sete dias de intensa barganha, as chances de um
acordo estão entre 65% e 75%,
disse o chanceler brasileiro,
Celso Amorim. "O fato de o barco continuar navegando e não
ter afundado é uma boa notícia
neste estágio." O Brasil, que foi
o primeiro a aceitar o pacote de
Lamy, continua firme em sua
oposição a mudanças no texto,
distanciando-se de aliados como Índia e Argentina.
A insistência argentina em
exigir mais proteção para sua
indústria dos cortes tarifários
para o Mercosul já aceitos por
Brasil, Uruguai e Paraguai causa tensão no bloco e é mais um
entrave para um acordo final.
Hoje serão apresentados novas versões dos documentos
que servem de base para o ambicioso projeto de liberalização
da agricultura e da indústria.
Um negociador disse à Folha
que ainda há outros pontos
pendentes, mas que, se Índia e
China forem dobradas, o caminho estará pavimentado.
A boa notícia do dia foi dada
por Amorim, sobre o provável
acordo de redução das tarifas
de importação de bananas da
América Latina na União Européia. "É um acordo histórico."
A exigência dos latino-americanos em ter tarifas menores,
aproximando-se do tratamento preferencial dado às ex-colônias da África, Caribe e Pacífico, era uma ameaça a um acordo. Mas ainda é preciso convencer alguns africanos.
A Índia tentou mostrar força
em sua defesa de um freio mais
potente às importações em casos de emergência. Apresentou
documento com o apoio de
mais de cem países à idéia de
impor tarifas mais altas que as
propostas por Lamy quando
houver surtos de importação.
Indagado pela Folha se a Índia aceitaria flexibilizar sua posição para destravar as negociações, o ministro do Comércio, Kamal Nath, preferiu escapar da responsabilidade por
um fracasso.
"A Índia não está sozinha",
disse Nath, apontado como o
negociador mais inflexível entre os sete que participam do
fórum reduzido das discussões.
Apesar das dificuldade e das
divisões entre países emergentes, há a sensação de que o preço político de um fiasco seria
mais alto do que o de aceitar
propostas imperfeitas. "Com o
pacote apresentado, passamos
do ponto do não-retorno", disse uma fonte da OMC que não
quis se identificar.
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