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Hollywood pode perder Steven Spielberg
Grupo indiano está mais perto de fechar acordo com diretor, que busca US$ 550 mi após fim de contrato com Paramount
Crise em Wall Street e queda nas vendas de DVD reduzem disposição de americanos para bancar diretor após sua saída da Paramount
BROOKS BARNES
DO "NEW YORK TIMES"
Como Hollywood pode perder Steven Spielberg?
No final de junho, a DreamWorks, o estúdio-butique que
Spielberg fundou com dois sócios em 1994, sinalizou que encontrou uma forma de sair do
casamento infeliz de três anos
com a Paramount Pictures. O
Reliance ADA Group, um conglomerado de Mumbai (Índia),
está perto de um acordo para
dar a Spielberg e sócios US$
550 milhões para a formação de
uma nova empresa de cinema.
Não surpreende que Spielberg e seu sócio David Geffen
tenham encontrado um investidor. Spielberg é um "superstar". Os dirigentes da DreamWorks deixaram claro durante
meses o ódio que sentiam como
parte da Paramount e que deixariam a empresa assim que o
contrato permitisse.
Mas havia ainda um elemento chocante: Hollywood não
poderia oferecer um acordo
polpudo o suficiente para
Spielberg, o mais financiável
diretor em atividade e um "tesouro nacional"? Seu último filme, "Indiana Jones e o Reino
da Caveira de Cristal", já vendeu US$ 743 milhões em ingressos e ainda está em exibição pelo mundo.
Não haveria ninguém em
Wall Street disposto a dar um
cheque em branco ao diretor de
filmes como "Tubarão" e "Jurassic Park" no currículo?
A possibilidade de negócio
com a indiana Reliance ressalta
alguns fatos sobre Spielberg
-principalmente que ele se
tornou tão caro que poucas empresas listadas em Bolsa podem
bancar. O acordo padrão de
Spielberg, em linha com outros
executivos talentosos, é 20% da
receita de um filme a partir do
primeiro ingresso vendido.
E há outro rumor vindo do
topo das fileiras de Hollywood.
É um assunto sensível e visto
como aviltante por pessoas
próximas a Spielberg: Quanto
tempo ainda terá o diretor, aos
61 anos, antes de se tornar jurássico?
Essa conversa revela amargura pela perda do diretor para
a Reliance, dizem seus associados, que ressaltam sua longa
lista de projetos. Entre eles,
"blockbusters" potenciais como "Transformers: Revenge of
the Fallen", que irá produzir.
Ele ainda busca projetos mais
cerebrais como um filme sobre
Abraham Lincoln com roteiro
escrito pelo dramaturgo Tony
Kushner.
Representantes de Spielberg
têm conversado com parceiros
potenciais durante meses, como a Sony e a News Corporation. Bancos próximos a Hollywood como JPMorgan Chase e
Goldman Sachs também participaram. A aparente incapacidade de Hollywood de fechar
um acordo com Spielberg revela como o negócio cinema está
se tornando mais corporativo e
menos gastador.
Agora que os grandes estúdios estão firmemente incorporados a grandes corporações,
margens de lucro se tornaram a
maior obsessão. Acrescente-se
a isso salários de estrelas e custos de marketing cada vez
maiores, que reduziram as
margens de lucro. "Os grandes
nomes não têm mais o peso que
costumavam ter", diz o analista
independente de mídia Harold
L. Vogel.
DVD
DVDs também têm papel de
estrela na aversão maior ao risco. Após anos de enorme crescimento, as vendas de DVD nos
EUA caíram 3,2% no ano passado, para US$ 15,9 bilhões, a primeira queda na história dos
DVDs. E embora ainda signifiquem muito dinheiro, qualquer
queda traz muita preocupação,
porque as vendas de DVD podem representar 70% da receita de um novo filme.
A questão do DVD combinada com outros desafios do setor
-o aumento da circulação de
filmes pela internet é o maior
deles- deixou os estúdios em
tamanho pânico que todos os
executivos só falam de reduzir
riscos. Não parece o melhor
momento para um acordo generoso com Spielberg.
Já em relação a Wall Street, a
crença em Hollywood é a de
que a chegada da indiana Reliance marca o fim do boom do
capital financeiro que alavancou a indústria de cinema. Com
a crise no mercado financeiro,
as condições para financiamento tornaram-se mais rígidas. Os investidores exigem
previsão de retorno mais rápido, mais garantias e mesmo voz
na forma como os filmes são
feitos e vendidos.
Nada disso é aceitável para a
DreamWorks. Spielberg, que
dirigiu mais de 50 filmes, também quer controlar seu destino. Neste ponto de sua carreira,
dizem seus amigos, seus feitos
lhe garantem controle total sobre seus filmes. E neste momento investidores estrangeiros parecem ser os mais dispostos a isso.
O acordo com a Reliance não
está fechado. Envolvidos no negócio dizem que há avanço, mas
nada deve ser assinado nas próximas semanas. Além de investimentos de ao menos US$ 550
milhões, a DreamWorks quer
uma linha de crédito de US$
400 milhões.
E Hollywood ainda terá uma
chance de participar. Se o acerto com a Reliance for fechado,
Geffen e Spielberg começarão a
buscar um distribuidor local
com um dos grandes estúdios
de Los Angeles, mais provavelmente Universal Pictures e 20th
Century Fox.
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