São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Hollywood pode perder Steven Spielberg

Grupo indiano está mais perto de fechar acordo com diretor, que busca US$ 550 mi após fim de contrato com Paramount

Crise em Wall Street e queda nas vendas de DVD reduzem disposição de americanos para bancar diretor após sua saída da Paramount


BROOKS BARNES
DO "NEW YORK TIMES"

Como Hollywood pode perder Steven Spielberg?
No final de junho, a DreamWorks, o estúdio-butique que Spielberg fundou com dois sócios em 1994, sinalizou que encontrou uma forma de sair do casamento infeliz de três anos com a Paramount Pictures. O Reliance ADA Group, um conglomerado de Mumbai (Índia), está perto de um acordo para dar a Spielberg e sócios US$ 550 milhões para a formação de uma nova empresa de cinema.
Não surpreende que Spielberg e seu sócio David Geffen tenham encontrado um investidor. Spielberg é um "superstar". Os dirigentes da DreamWorks deixaram claro durante meses o ódio que sentiam como parte da Paramount e que deixariam a empresa assim que o contrato permitisse.
Mas havia ainda um elemento chocante: Hollywood não poderia oferecer um acordo polpudo o suficiente para Spielberg, o mais financiável diretor em atividade e um "tesouro nacional"? Seu último filme, "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", já vendeu US$ 743 milhões em ingressos e ainda está em exibição pelo mundo.
Não haveria ninguém em Wall Street disposto a dar um cheque em branco ao diretor de filmes como "Tubarão" e "Jurassic Park" no currículo?
A possibilidade de negócio com a indiana Reliance ressalta alguns fatos sobre Spielberg -principalmente que ele se tornou tão caro que poucas empresas listadas em Bolsa podem bancar. O acordo padrão de Spielberg, em linha com outros executivos talentosos, é 20% da receita de um filme a partir do primeiro ingresso vendido.
E há outro rumor vindo do topo das fileiras de Hollywood. É um assunto sensível e visto como aviltante por pessoas próximas a Spielberg: Quanto tempo ainda terá o diretor, aos 61 anos, antes de se tornar jurássico?
Essa conversa revela amargura pela perda do diretor para a Reliance, dizem seus associados, que ressaltam sua longa lista de projetos. Entre eles, "blockbusters" potenciais como "Transformers: Revenge of the Fallen", que irá produzir. Ele ainda busca projetos mais cerebrais como um filme sobre Abraham Lincoln com roteiro escrito pelo dramaturgo Tony Kushner.
Representantes de Spielberg têm conversado com parceiros potenciais durante meses, como a Sony e a News Corporation. Bancos próximos a Hollywood como JPMorgan Chase e Goldman Sachs também participaram. A aparente incapacidade de Hollywood de fechar um acordo com Spielberg revela como o negócio cinema está se tornando mais corporativo e menos gastador.
Agora que os grandes estúdios estão firmemente incorporados a grandes corporações, margens de lucro se tornaram a maior obsessão. Acrescente-se a isso salários de estrelas e custos de marketing cada vez maiores, que reduziram as margens de lucro. "Os grandes nomes não têm mais o peso que costumavam ter", diz o analista independente de mídia Harold L. Vogel.

DVD
DVDs também têm papel de estrela na aversão maior ao risco. Após anos de enorme crescimento, as vendas de DVD nos EUA caíram 3,2% no ano passado, para US$ 15,9 bilhões, a primeira queda na história dos DVDs. E embora ainda signifiquem muito dinheiro, qualquer queda traz muita preocupação, porque as vendas de DVD podem representar 70% da receita de um novo filme.
A questão do DVD combinada com outros desafios do setor -o aumento da circulação de filmes pela internet é o maior deles- deixou os estúdios em tamanho pânico que todos os executivos só falam de reduzir riscos. Não parece o melhor momento para um acordo generoso com Spielberg.
Já em relação a Wall Street, a crença em Hollywood é a de que a chegada da indiana Reliance marca o fim do boom do capital financeiro que alavancou a indústria de cinema. Com a crise no mercado financeiro, as condições para financiamento tornaram-se mais rígidas. Os investidores exigem previsão de retorno mais rápido, mais garantias e mesmo voz na forma como os filmes são feitos e vendidos.
Nada disso é aceitável para a DreamWorks. Spielberg, que dirigiu mais de 50 filmes, também quer controlar seu destino. Neste ponto de sua carreira, dizem seus amigos, seus feitos lhe garantem controle total sobre seus filmes. E neste momento investidores estrangeiros parecem ser os mais dispostos a isso.
O acordo com a Reliance não está fechado. Envolvidos no negócio dizem que há avanço, mas nada deve ser assinado nas próximas semanas. Além de investimentos de ao menos US$ 550 milhões, a DreamWorks quer uma linha de crédito de US$ 400 milhões.
E Hollywood ainda terá uma chance de participar. Se o acerto com a Reliance for fechado, Geffen e Spielberg começarão a buscar um distribuidor local com um dos grandes estúdios de Los Angeles, mais provavelmente Universal Pictures e 20th Century Fox.


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