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Governo gasta R$ 18,8 bi com juros em julho
Valor é novo recorde mensal; de janeiro a julho, gasto sobe 14,9% em relação a 2007 e vai R$ 106,8 bi, ou 6,54% do PIB
Números mostram que essa alta na despesa financeira reflete, em parte, o aperto monetário promovido pelo BC nos últimos meses
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta da Selic e o aumento da
inflação fizeram com que os
gastos públicos com juros batessem recorde no mês passado. Segundo o Banco Central,
essas despesas somaram R$
18,777 bilhões em julho, o
maior valor já registrado pela
série estatística do Banco Central, que começou em 1991.
O valor se refere à soma dos
encargos das dívidas tanto do
governo federal como de Estados, municípios e empresas estatais. Nos primeiros sete meses do ano, os gastos com juros
cresceram 14,9% em relação ao
mesmo período de 2007 e chegaram a R$ 106,803 bilhões, valor que equivale a 6,54% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Os números mostram que esse aumento nas despesas financeiras reflete, em parte, o aperto monetário promovido pelo
BC nos últimos meses.
Do total de juros da dívida
pagos pelo setor público no
mês passado, R$ 7,726 bilhões
se referem à remuneração dos
títulos públicos corrigidos pela
taxa Selic (taxa básica de juros),
hoje em 13% ao ano.
Entre janeiro e julho, esses
papéis responderam por juros
de R$ 43,126 bilhões, 15% a
mais do que nos primeiros sete
meses do ano passado. Esse aumento se deve não apenas à alta
da Selic, mas também à decisão
do Tesouro Nacional de emitir
mais títulos corrigidos por essa
taxa, em substituição a papéis
prefixados. No mês passado, os
papéis atrelados à Selic correspondiam a 60,9% da dívida líquida do setor público, contra
53% em julho de 2007.
Para Bráulio Gomes, economista da LCA Consultores, o
Tesouro Nacional está agindo
certo ao dar mais ênfase à emissão de títulos corrigidos pela
Selic, já que os juros exigidos
pelo mercado para a colocação
de papéis prefixados têm sido
muito altos. "O custo não compensa", afirma.
Já o chefe do Departamento
Econômico do Banco Central,
Altamir Lopes, diz que o maior
gasto com juros no mês passado também pode ser explicado
pelo maior número de dias
úteis de julho -23, contra 21 de
junho. Isso afeta as contas, segundo Lopes, porque os juros
pagos pelos títulos pós-fixados
são calculados diariamente.
Aperto recorde
Para compensar os gastos
com juros, o governo aumenta
o aperto fiscal. No mês passado,
o setor público obteve superávit primário -receitas menos
despesas, exceto encargos financeiros- de R$ 12,109 bilhões, elevando o saldo acumulado no ano para R$ 98,225 bilhões.
Como a economia não foi suficiente para cobrir todas as
despesas com o pagamento dos
juros, a dívida pública aumentou e chegou a R$ 1,192 trilhão
no mês passado. Na comparação com o PIB, o endividamento subiu de 40,4% em junho para 40,6% em julho.
Já o superávit registrado nos
últimos 12 meses equivale a
4,38% do PIB, superando a meta de 4,30% fixada para este
ano. "Estamos caminhando para o cumprimento da meta", diz
Lopes.
Gomes afirma que o aumento do superávit primário é conseqüência do crescimento mais
fraco dos gastos do governo,
num momento em que a arrecadação de tributos atinge níveis recordes.
"O governo poderia anunciar
um aumento formal da meta
deste ano, pois isso não exigiria
nenhum esforço adicional ao
que já está se fazendo hoje", defende.
Um aperto fiscal mais rígido,
segundo Gomes, ajudaria a desacelerar a economia, reduzindo pressões inflacionárias e
ajudando a evitar novos aumentos na taxa Selic.
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