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VAREJO
Primeiro "não-Diniz" a comandar o grupo, Cruz Filho deve chefiar aquisição do Bompreço, rede de R$ 3 bi
Para presidente do Pão de Açúcar, a fase pior já passou
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Augusto Marques da Cruz Filho, 51, o único "não-Diniz" à
frente do grupo Pão de Açúcar,
passou pelo período de três meses
de experiência. "Já completei seis
[meses]. Nem fala nada, ou eles
percebem", brinca. Substituto de
Abílio Diniz na presidência da rede, Cruz Filho começou a mudar
a gestão da empresa. Será sob seu
comando que o grupo deve fazer
sua maior aquisição: a compra do
Bompreço, rede de R$ 3 bilhões.
Representantes do grupo andaram visitando as lojas do Bompreço, no Nordeste, em julho e
agosto, segundo a Folha apurou.
Redes interessadas deveriam encaminhar propostas aos donos do
Bompreço.
Desde maio, caem as vendas
reais na rede -com base nas
mesmas lojas que existiam em
2002. "Em agosto já melhorou
bem", diz Cruz Filho, em entrevista concedida na sala de reuniões que divide com Abílio Diniz. Na esteira da crise, a rede investirá menos neste ano, R$ 400
milhões. Eram esperados R$ 540
milhões. "Fica para o ano que
vem", diz o executivo, que trabalha das 7h às 20h e visita lojas aos
sábados e domingos.
Folha - O grupo Pão de Açúcar teve queda na expansão das vendas.
Como estão os negócios agora?
Augusto Marques da Cruz Filho -
Junho foi um mês complicado.
Julho já foi melhor e agosto, muito bom. No mês passado, as vendas subiram 6,6% em relação a
agosto de 2002. É lógico que, por
conta da retração no mercado,
não nos propusemos a ser tão
agressivos como nos anos anteriores. Reduzimos os investimentos para R$ 400 milhões no ano.
Projetávamos mais de R$ 500 milhões. Em relação à média do
mercado, estamos indo bem.
Folha - O consumidor voltará a
gastar mais no último trimestre?
Cruz Filho - É aquela história: se
todos os agentes econômicos
acharem que o último trimestre
será bom, ele o será. Bancos, indústrias, varejistas com quem tenho conversado dizem o mesmo.
É claro que não vamos chegar aos
resultados de 2000 [o melhor ano
para o comércio desde 1996], mas
o consumidor começa a acreditar
que o fundo do poço já passou.
Há dois meses, a decisão de não se
endividar era clara. Isso mudou.
Folha - O consumidor que abandonou marcas líderes voltará se a
economia aquecer?
Cruz Filho - Volta, sim. Mas
quando, e em que velocidade, impossível dizer. O que não deve
ocorrer é um retorno aos antigos
preços. Açúcar, óleo de soja, café
alcançaram um novo patamar de
preço e vão ficar nisso.
Folha - Eram esperadas 19 novas
lojas novas do grupo neste ano. O
número será menor?
Cruz Filho - Vamos abrir três hipermercados Extra, dez Barateiros e duas lojas Pão de Açúcar.
Portanto, deve dar menos. Mesmo assim, em termos de área de
vendas, devemos ter um aumento
de 6% em 2003. Ainda abriremos
3.000 novas vagas no ano, o que
equivale a 5% dos 60 mil empregados do grupo atualmente.
Vamos chegar, segundo analistas, aos R$ 13 bilhões de faturamento neste ano e manter uma
diferença de 20% no volume em
relação ao segundo colocado.
Folha - O Pão de Açúcar está pronto para adquirir o Bompreço?
Cruz Filho - Há redes interessadas na cadeia e, para nós, é claro
que é interessante. Mas qualquer
aquisição que venhamos a fazer
não será com o aumento no endividamento. Vai ser com equity
[ações] ou algo próximo disso.
Folha - O endividamento é alto?
Cruz Filho - Não, e isso é um mito. Para cada R$ 4 em patrimônio,
temos R$ 1 em dívida. Desde
quando isso é alto?
Folha - O senhor substituiu Abílio
Diniz na presidência. Como foram
esses seis primeiros meses?
Cruz Filho - Olha, nem fala, ou
eles percebem (risos). Não posso
ser um segundo Abílio para a
companhia. Deixei claro para o
comitê executivo como seria meu
jeito de fazer as coisas. No início
foi difícil. Vinham com uma pergunta e eu dizia: "O que você
acha?". Isso foi um choque.
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