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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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VAREJO

Primeiro "não-Diniz" a comandar o grupo, Cruz Filho deve chefiar aquisição do Bompreço, rede de R$ 3 bi

Para presidente do Pão de Açúcar, a fase pior já passou

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Augusto Marques da Cruz Filho, 51, o único "não-Diniz" à frente do grupo Pão de Açúcar, passou pelo período de três meses de experiência. "Já completei seis [meses]. Nem fala nada, ou eles percebem", brinca. Substituto de Abílio Diniz na presidência da rede, Cruz Filho começou a mudar a gestão da empresa. Será sob seu comando que o grupo deve fazer sua maior aquisição: a compra do Bompreço, rede de R$ 3 bilhões.
Representantes do grupo andaram visitando as lojas do Bompreço, no Nordeste, em julho e agosto, segundo a Folha apurou. Redes interessadas deveriam encaminhar propostas aos donos do Bompreço.
Desde maio, caem as vendas reais na rede -com base nas mesmas lojas que existiam em 2002. "Em agosto já melhorou bem", diz Cruz Filho, em entrevista concedida na sala de reuniões que divide com Abílio Diniz. Na esteira da crise, a rede investirá menos neste ano, R$ 400 milhões. Eram esperados R$ 540 milhões. "Fica para o ano que vem", diz o executivo, que trabalha das 7h às 20h e visita lojas aos sábados e domingos.

Folha - O grupo Pão de Açúcar teve queda na expansão das vendas. Como estão os negócios agora?
Augusto Marques da Cruz Filho -
Junho foi um mês complicado. Julho já foi melhor e agosto, muito bom. No mês passado, as vendas subiram 6,6% em relação a agosto de 2002. É lógico que, por conta da retração no mercado, não nos propusemos a ser tão agressivos como nos anos anteriores. Reduzimos os investimentos para R$ 400 milhões no ano. Projetávamos mais de R$ 500 milhões. Em relação à média do mercado, estamos indo bem.

Folha - O consumidor voltará a gastar mais no último trimestre?
Cruz Filho -
É aquela história: se todos os agentes econômicos acharem que o último trimestre será bom, ele o será. Bancos, indústrias, varejistas com quem tenho conversado dizem o mesmo. É claro que não vamos chegar aos resultados de 2000 [o melhor ano para o comércio desde 1996], mas o consumidor começa a acreditar que o fundo do poço já passou. Há dois meses, a decisão de não se endividar era clara. Isso mudou.

Folha - O consumidor que abandonou marcas líderes voltará se a economia aquecer?
Cruz Filho -
Volta, sim. Mas quando, e em que velocidade, impossível dizer. O que não deve ocorrer é um retorno aos antigos preços. Açúcar, óleo de soja, café alcançaram um novo patamar de preço e vão ficar nisso.

Folha - Eram esperadas 19 novas lojas novas do grupo neste ano. O número será menor?
Cruz Filho -
Vamos abrir três hipermercados Extra, dez Barateiros e duas lojas Pão de Açúcar. Portanto, deve dar menos. Mesmo assim, em termos de área de vendas, devemos ter um aumento de 6% em 2003. Ainda abriremos 3.000 novas vagas no ano, o que equivale a 5% dos 60 mil empregados do grupo atualmente.
Vamos chegar, segundo analistas, aos R$ 13 bilhões de faturamento neste ano e manter uma diferença de 20% no volume em relação ao segundo colocado.

Folha - O Pão de Açúcar está pronto para adquirir o Bompreço?
Cruz Filho -
Há redes interessadas na cadeia e, para nós, é claro que é interessante. Mas qualquer aquisição que venhamos a fazer não será com o aumento no endividamento. Vai ser com equity [ações] ou algo próximo disso.

Folha - O endividamento é alto?
Cruz Filho -
Não, e isso é um mito. Para cada R$ 4 em patrimônio, temos R$ 1 em dívida. Desde quando isso é alto?

Folha - O senhor substituiu Abílio Diniz na presidência. Como foram esses seis primeiros meses?
Cruz Filho -
Olha, nem fala, ou eles percebem (risos). Não posso ser um segundo Abílio para a companhia. Deixei claro para o comitê executivo como seria meu jeito de fazer as coisas. No início foi difícil. Vinham com uma pergunta e eu dizia: "O que você acha?". Isso foi um choque.

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