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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Produtividade e investimentos baixos limitam capacidade de expansão sustentada, sem gerar inflação

Potencial de crescimento se limita a 3%

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo alardeia uma nova fase que, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dará início, em julho, ao "espetáculo do crescimento". Mas indicadores da capacidade de expansão da economia mostram que a realidade continua bem distante da retórica. O PIB (Produto Interno Bruto) potencial do Brasil -indicador das chances reais de crescimento- oscila hoje entre taxas nada espetaculares de 2% a 3% ao ano.
Esse indicador mede a velocidade com que uma economia pode se expandir, à plena capacidade, sem gerar inflação. Há métodos variados para calcular o PIB potencial. A Folha ouviu especialistas que utilizam técnicas distintas para estimar o indicador.
Embora os métodos variem, as conclusões, geralmente, convergem. As chances de crescimento sustentado -sem que haja inflação ou escassez de energia- vêm caindo nos últimos anos e se limitam, hoje, a 2% ou 3% anuais.

Revisão
Em abril de 2001, por exemplo, o economista Tito Nícias Teixeira, do Banco Central, publicou um estudo no qual concluiu que o potencial de crescimento da economia brasileira oscilava de 3,3% a 4,5% ao ano para o período de 2001 a 2005. Passados dois anos, Teixeira -que está em licença do BC e faz doutorado na Universidade Oxford, na Inglaterra- está bem mais pessimista.
A frustração das expectativas do economista tem fácil explicação: nem suas hipóteses mais moderadas de melhoria de indicadores, como o crescimento da taxa de investimento e da produtividade, se concretizaram.
"Os pressupostos que considerei não vêm se confirmando. A produtividade tem crescido muito pouco. E o nível de investimento está constante ou até pior", diz o economista.
Hoje, Teixeira não acredita nem na sua hipótese mais conservadora. Ou seja, segundo ele, "é muito provável que o PIB potencial esteja abaixo de 3,3%".
O que para o economista do BC, que não refez suas contas, é uma "forte probabilidade", para outros especialistas que calcularam recentemente o PIB potencial do país trata-se de uma certeza.
"Segundo o modelo que uso, a taxa de crescimento potencial do PIB oscila hoje de 2% a 2,5% ao ano", afirma Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú, que fez parte da equipe que implementou o regime de metas de inflação no BC.
O método utilizado por Bogdanski analisa a tendência de crescimento do PIB no futuro com base em seu comportamento passado. A conclusão do economista é clara: "Se um país passa muitos anos com baixo crescimento, sua capacidade de expansão vai diminuindo. Isso se inverteria se o nível de investimento, por exemplo, aumentasse, mas a tendência do Brasil vai na direção oposta".
Segundo Bogdanski, investimentos minguados em setores como o de infra-estrutura vão cerceando a capacidade de expansão da produção.
"Se você deixa a infra-estrutura das estradas se deteriorar, sua capacidade de escoamento da produção piora. Isso tem impacto negativo sobre o potencial de crescimento da economia", afirma.

Pouco investimento
O exemplo usado para falar de rodovias serve para diversos outros setores. Em um estudo concluído recentemente, o economista Armando Castelar Pinheiro, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), analisou diferentes períodos de crescimento da economia brasileira desde a década de 30. Concluiu que a contribuição dos investimentos para a expansão do PIB nunca foi tão baixa como na fase mais recente que pesquisou: entre 1994 e 2002.
Nesse período, a baixa taxa de expansão do investimento no Brasil foi responsável por apenas 40% do crescimento total do PIB que, em média, ficou em 2,7%. Essa contribuição já havia sido bem maior no passado: a expansão de investimentos chegou a responder por cerca de 57% da expansão média do PIB, que foi de 7,8% no período áureo de 1964 a 1980.
Considerando tudo isso, Pinheiro também é taxativo em relação à atual capacidade de crescimento do país: "O Brasil tem hoje um potencial de crescimento sustentado que não passa de 3% ao ano no médio prazo".


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