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Feijão e carne somem da merenda escolar, e material de construção está mais caro
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO
A secretaria do Colégio Estadual Benedito Cunha Melo, vizinho ao Suvaco da Cobra, não
se lembra mais quando foi a última vez em que feijão constou
do cardápio da merenda dos
seus 2.300 alunos. Nem carne.
No colégio BCM, como é chamado, muitos dos filhos dos
moradores da região fazem a
principal refeição do dia. É do
ensino do colégio que também
depende o futuro desses adolescentes.
Segundo Maria de Fátima
Araújo, coordenadora da secretaria do colégio, a inflação de alguns itens levou a cozinha a
abusar mais de produtos como
salsichas, cuscuz ou mesmo dos
sanduíches.
No BCM, há salas de aula que
chegam a ter mais de 50 alunos.
São 16 salas e 53 professores
para atender três turnos dos
ensinos fundamental e médio.
Na última vez em que a Folha foi ao local, há mais de um
ano, as paredes davam choques
por conta de infiltrações e fios
desencapados em seu interior.
Nas lousas, o giz produzia poucas marcas devido à umidade.
Maria de Fátima conta que o
colégio passou por reforma de
lá para cá, incluindo a troca de
telhados e portas. "O problema
é que os alunos não cuidam do
que têm. Eles destroem tudo,
até as maçanetas."
"Oficialmente" há 420 alunos no BCM cadastrados no
Bolsa Família -e que têm uma
freqüência média de comparecimento ao colégio de 85%.
Mas a secretaria do BCM estima que o número seja maior,
já que muitas famílias acabam
transferindo os filhos para lá
antes de comunicar a coordenação do programa.
Caso de Francisca Santiago,
62. Na quarta-feira, ela foi ao
BCM "atrás da papelada do
Bolsa" de alguns dos seus 11 netos (ela teve sete filhos) para
manter o benefício.
Apesar de ter dito que agendou o encontro para o dia, não
deu certo. O colégio "emendou"
a quarta-feira aos feriados do
início da semana para a comemoração do São João -que foi
só na terça-feira.
Francisca decidiu ir embora
a pé "para não gastar a condução". "Tá tudo muito caro. Daqui a pouco sobe o ônibus."
Ela e 100% de outros entrevistados pela Folha continuam
apoiando o governo Luiz Inácio Lula da Silva (a aprovação
no Nordeste é a maior no país,
de acordo com o Datafolha),
mas se queixam da inflação -e
não só a dos alimentos.
José Carlos Ferreira, 48, dono de uma loja de material de
construção bem suprida e organizada em uma viela que leva
ao Suvaco da Cobra, diz que o
problema atual é o ferro e itens
para novas edificações, como
cimento, brita e tijolos.
"Deu uma escassez, e os preços subiram", diz o dono da Comercial Popular, onde 30% das
vendas são feitas via parcelamento no cartão de crédito.
Questionado se gosta do governo Lula apesar desses problemas, afirma: "Votei duas vezes nele e votaria uma terceira,
com toda a certeza".
(FCZ)
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