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Brasil pedirá "ação concertada" contra a alta de alimentos
Proposta será feita na reunião conjunta, no mês que vem, entre G8, que reúne os mais ricos, e grupo de emergentes
Anfitrião, premiê japonês reduz expectativas de soluções para problemas da economia global, como o aumento dos combustíveis
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro pretende propor aos seus pares do G5
e aos países que compõem o G8
uma "ação concertada" nos
próximos meses para enfrentar
a disparada de preços da alimentação, hoje o grande problema de âmbito planetário.
A proposta será feita na reunião conjunta, no dia 9, entre o
clubão dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia (o G8)
com os parceiros do Brasil no
G5, que são China, Índia, México e África do Sul.
No mesmo dia 9, haverá ainda um encontro das MEs ("major economies" ou grandes economias), um grupo convocado
pelo presidente dos Estados
Unidos, George Walker Bush,
no ano passado, para discutir a
mudança climática, e formado
por Austrália, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Coréia
do Sul e África do Sul.
Essas três reuniões fazem
parte da cúpula anual do G8,
que se realizará neste ano na
ilha de Hokkaido, no norte do
Japão, entre 7 e 9 de julho.
O embaixador Everton Vargas, principal negociador técnico do Brasil para assuntos multilaterais, antecipa a discussão
sobre inflação, mas diz que,
"quanto ao escopo das decisões, se do G8 como grupo ou
dos países individualmente, caberá aos líderes decidir lá".
A julgar pela avaliação que
faz o anfitrião, o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda,
as chances de alguma resolução
forte parecem remotas.
Segundo o "Japan Times",
em recente entrevista, "Fukuda tratou de reduzir as expectativas em torno de soluções para
os vários problemas que a economia global enfrenta, como a
disparada de preços de alimentos e combustíveis, dizendo que
a principal missão [da cúpula] é
enviar mensagens apontando
para soluções".
Parece muito pouco para a
urgência que o tema da "agflação" ganhou. Ainda mais que
uma cúpula anterior, a da segurança alimentar, convocada pela FAO (braço das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação), terminou sem nem
sequer enviar as "mensagens"
agora desejadas pelo primeiro-ministro japonês.
Vargas insiste, no entanto,
que "segurança alimentar e inflação são temas de 2008 e, obviamente, nem o G8 nem o G5
podem ficar alheios à agenda
internacional".
O delegado brasileiro trabalha com gráficos -cobrindo o
período 1970/2005- que mostram "paralelismo entre as tendências globais dos preços das
commodities agrícolas e do petróleo. Preços altos de petróleo
correspondem ao pico dos preços de commodities agrícolas e
vice-versa".
Clima
A cúpula de Hokkaido tinha a
mudança climática como eixo
principal, ao ser anunciada pelo Japão, ao terminar o encontro anterior, na Alemanha.
Mas, entre a reunião na Alemanha e a de Hokkaido, surgiu o
fantasma da inflação, especialmente a de alimentos, e o G8 e
seus satélites não podem ficar
alheios ao tema.
O Brasil sugeriu, na mais recente reunião dos "sherpas",
que a segurança alimentar fosse elevada a papel de destaque
na agenda. "Sherpas" são os altos funcionários que negociam
os documentos que os líderes
assinam quando se encontram.
É uma alusão aos guias do Himalaia, que preparam tudo para que os alpinistas possam
chegar ilesos ao cume.
Se os líderes sairão de Hokkaido com o prestígio ileso ou
não, é questão aberta. Depende
da capacidade de dar um mínimo de respostas a um mundo
francamente incomodado com
o ressurgimento da inflação.
Mas o Brasil não quer que a
disparada de preços sufoque o
debate sobre mudança climática, até porque, diz Vargas, "mudança climática é uma questão
de desenvolvimento. Tem um
grande componente ambiental
e social, mas, antes de tudo, lida
com o perfil de crescimento
que os países terão no futuro".
O embaixador lembra que recente relatório do painel que
estuda as mudanças climáticas
mostrou que, se não for feito
nada, 30% da Amazônia virará
savana até 2100. "Não há dinheiro no mundo que financie
a adaptação a esse quadro",
afirma o embaixador brasileiro.
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