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Investimento de empresas no exterior bate recorde
Setor privado investe US$ 8,6 bi até junho, puxado por bancos, alimentos e metalurgia
Valor total deve chegar a
US$ 18 bi no ano; analistas vêem processo irreversível de internacionalização, embora pouco organizado
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos feitos por
empresas brasileiras em filiais
instaladas no exterior bateu recorde no primeiro semestre
deste ano, segundo dados do
Banco Central. Entre janeiro e
junho, o setor privado nacional
investiu US$ 8,579 bilhões em
outros países, maior valor já registrado no período pela série
estatística, iniciada em 1947.
Segundo o BC, esse número
deve chegar a US$ 18 bilhões
até dezembro, valor que, se
confirmado, será o segundo
maior da história, só atrás dos
US$ 28 bilhões de 2006, cujo
resultado foi inflado pela compra da mineradora canadense
Inco pela Vale do Rio Doce.
No primeiro semestre de
2007, o resultado dos investimentos externos foi negativo
em US$ 3,42 bilhões por causa
da compra da Inco pela Vale,
que envolveu captação de cerca
de US$ 5 bilhões no exterior,
classificada pelo BC como um
investimento desfeito no exterior, o que resultou no saldo negativo apurado no semestre.
Neste começo de ano, esses
investimentos se concentraram em poucos setores da economia. As instituições financeiras lideraram o movimento
de internacionalização, respondendo por 31% dos recursos investidos no exterior.
Os setores de alimentos e de
metalurgia ficaram logo atrás
dos bancos, com investimentos
equivalentes, respectivamente,
a 16% e 13% do total.
Entre os principais destinos
dos investimentos brasileiros,
os EUA se destacam, recebendo
31% do total de recursos aplicados pelo setor privado nacional
no primeiro semestre. Em segundo lugar, ficam as Ilhas
Cayman: o valor investido no
paraíso fiscal, onde várias companhias internacionais mantêm suas sedes por razões tributárias, corresponde a 23% do
total. Países da América Latina
-principalmente Argentina e
Chile- ficaram com 15%.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, o crescimento das exportações brasileiras nos últimos anos ajuda a explicar essa
maior internacionalização das
empresas, que estariam cada
vez mais interessadas em abrir
filiais próximas de seus principais clientes estrangeiros.
"Quase todas as grandes empresas já fizeram isso, e a expectativa é que agora esse processo atinja mais companhias
de menor porte", afirma.
O presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos
de Empresas Transnacionais e
da Globalização Econômica),
Luís Afonso Lima, cita outros
fatores para o movimento. Um
é o aumento dos preços internacionais de algumas commodities, que fortalece as empresas brasileiras que atuam nesse
setor e as prepara para fazer
grandes aquisições no mercado
internacional. É o caso da Vale
e seu minério de ferro.
Outras empresas simplesmente buscam se aproveitar de
questões regulatórias. A construtora de motores Weg, por
exemplo, abriu uma unidade no
México para ter acesso aos benefícios do Nafta (acordo de livre comércio que inclui Canadá
e Estados Unidos). "O Brasil
ainda está engatinhando [no
processo de internacionalização], mas isso é algo que veio
para ficar", diz Lima.
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da
PUC-SP, também afirma que as
empresas brasileiras devem investir cada vez mais em outros
países, mas que esse movimento não é organizado e depende
de iniciativas isoladas de cada
companhia. "Não há uma política de Estado que busque estruturar esses investimentos."
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