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Agrofolha
Consumo em alta preocupa mercado de arroz e feijão
Crescimento de renda leva à necessidade de mais investimentos na produção
Nos próximos dois anos, demanda deve crescer, para 14 milhões de t de arroz e
4 milhões de t de feijão, aponta consultoria
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Se não cuidar bem da produção de arroz e de feijão -os
principais produtos básicos
consumidos no país-, o Brasil
vai ter sérios problemas de
abastecimento nos próximos
anos. Mais emprego, crescimento da renda e programas
sociais do governo vão elevar o
consumo, mesmo com eventuais substituições desses produtos com a chegada de novos
hábitos alimentares a parte da
sociedade brasileira.
Nos próximos dois anos, o
consumo de arroz deve subir
para 14 milhões de toneladas, e
o de feijão, para 4 milhões.
As previsões são de Vlamir
Brandalizze, especialista da
Brandalizze Consulting nesses
dois produtos.
Se confirmados, esses volumes indicam elevações de 17%
e 25% em relação aos patamares atuais -12 milhões e 3,2 milhões, respectivamente.
O Brasil terá de elevar a produção porque a busca externa
desses produtos para complementar o consumo interno será
muito difícil.
O principal feijão consumido
no Brasil, o carioquinha, não é a
opção prioritária de produção
em outros países.
No caso do arroz, a produção
mundial, de 430 milhões de toneladas por ano, fica próxima
do consumo.
Mesmo que haja oferta mundial maior nos próximos anos,
os maiores crescimentos de
consumo estão ocorrendo na
Ásia, exatamente onde também
estão os maiores produtores.
Ou seja, a nova oferta adicional do produto pode ficar nos
próprios países produtores,
afirma Brandalizze.
Produtos "sensíveis"
O governo está atento a esses
problemas. No plano de safra
deste ano, elegeu quatro produtos como "sensíveis" e que merecem tratamento especial do
Ministério da Agricultura.
Entre eles estão o arroz e o
feijão, itens de destaque no bolso dos consumidores e na inflação nos últimos 12 meses.
Brandalizze diz que este final
de ano será o teste de fogo para
essa política do governo.
O preço mínimo do feijão
passou de R$ 48 para R$ 80 por
saca. É remunerador e vai incentivar o plantio. A partir do
final de outubro e do início de
novembro, esse feijão começa a
chegar ao mercado.
Se, com a oferta maior, os
preços recuarem, o governo deverá estar preparado para absorver eventual excesso momentâneo do produto.
De olho no plantio
Se não o fizer, o produtor, desincentivado, vai reduzir o
plantio nas demais safras do
ano e, conseqüentemente, haverá falta de produto -e nova
elevação de preços.
"O governo deve começar a
fazer caixa para não decepcionar o produtor", afirma Brandalizze.
No caso do arroz, os incentivos do preço mínimo não foram
tão significativos. A saca subiu
de R$ 22 para R$ 25,80, valor
que não cobre os custos de produção, diz Brandalizze.
A passagem do segundo semestre pode ter alguns picos de
alta de preço.
Os estoques governamentais
de feijão são de apenas 4.000
toneladas, enquanto o consumo, que foi fraco neste mês, devido às férias, volta a subir em
agosto -deve ficar próximo de
350 mil toneladas.
No caso do arroz, os estoques
para a travessia dos próximos
seis meses -em fevereiro começa a nova safra- são de 5 milhões de toneladas.
O consumo médio mensal é
de 1 milhão de toneladas, segundo Brandalizze. O governo
tem apenas 1,1 milhão de toneladas nas mãos.
Nova alta
Após recuo de preços nos últimos meses, principalmente
devido à compra antecipada do
varejo e às férias deste mês, arroz e feijão voltam a pressionar
o bolso do consumidor.
Romeu Fiod, analista do setor, diz que as vendas recuaram
20% neste mês, mas, com a retomada de agosto, os preços
voltam a subir. Brandalizze
concorda com Fiod. Começa a
entressafra e os produtores estão capitalizados.
"Não se espera explosão de
preços, no entanto", diz Brandalizze. O pacote de arroz, que
já esteve de R$ 10 a R$ 15 em
maio, recuou para R$ 7,50 a R$
10 neste mês, mas volta a subir,
segundo eles.
Já o feijão, negociado atualmente entre R$ 120 e R$ 180
por saca, deve subir para a faixa
de R$ 170 a R$ 240 nas próximas semanas.
No caso do arroz, os preços
vão depender, ainda, das exportações, estimadas em 600 mil
toneladas neste ano.
"A partir de agosto é que vamos ver o fôlego dessas exportações", diz Brandalizze. "Até
agora, os portos estavam ocupados com carregamentos de
soja e de milho", afirma Fiod.
Brandalizze e Fiod dizem
que, mesmo com o recuo nos
preços externos do arroz e com
o câmbio desfavorável, os preços internos ainda são competitivos no exterior.
Havia três meses, a tonelada
de arroz estava entre US$ 350 e
US$ 500 no mercado externo.
O preço subiu para até US$ 900
e depois recuou para US$ 700 a
US$ 800.
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