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Especialista diz que instituições
cobram taxas de forma indireta
DE LONDRES
Apesar da história milenar do
islamismo, sua vertente econômica e financeira é um fenômeno do
século 20. Surgiu para reforçar a
presença dos mandamentos religiosos e proteger a "identidade"
dos muçulmanos. Às vezes, no
entanto, por trás das regras rígidas -que proíbem, por exemplo,
a cobrança e o pagamento de juros-, surgem mecanismos de escape. Embutidos nas taxas dos
serviços pagos aos bancos, podem
estar juros disfarçados.
A explicação é de Timur Kuran,
professor de economia e direito e
de pensamento e cultura islâmicos da University of Southern California (EUA). Kuran, autor do livro "Islam and Mammon: The
Economic Predicaments of Islamism", diz que, ironicamente,
um banco islâmico pode ser mais
fiel ao mandamento da não-cobrança de juros em países do Ocidente, onde há mais confiança
mútua, do que em países árabes.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Kuran à Folha via e-mail.
Folha - Será inaugurado o primeiro banco islâmico da Europa com licença para aceitar depósitos. O que
está por trás disso em termos políticos ou econômicos?
Timur Kuran - Os bancos islâmicos têm sido estabelecidos para
servir muçulmanos que consideram os juros proibidos pelo islã e
agências oficiais que se sentem
pressionadas a fazer negócios "livres de juros". Movimentos e países que tentam revigorar o papel
do islã na vida diária têm apoiado
esse desenvolvimento.
Folha - Esse conceito de banco islâmico, com regras como a proibição dos juros, sempre existiu ou é
um fenômeno recente?
Kuran - O primeiro banco islâmico abriu em 1973. Antes disso,
não havia nada próximo a um
banco islâmico, embora a idéia
date da década de 40. Durante
muito tempo da longa história de
14 séculos do islã, o empréstimo
de dinheiro era um negócio florescente, mas a oferta de crédito
vinha ou de indivíduos ou de parcerias pequenas e temporárias. O
primeiro banco de capital muçulmano foi estabelecido nos anos
20, e ele não dizia que sua inspiração vinha do islã. Mesmo hoje,
muitos bancos no mundo islâmico são convencionais, isto é, não
se dizem "islâmicos". E muitos
muçulmanos não têm problemas
em depositar recursos ou emprestá-los a um banco convencional.
Folha - O sr. diz que bancos islâmicos no Oriente Médio encontraram
uma forma de cobrar juro indiretamente. Isso pode acontecer em instituições islâmicas no Ocidente?
Kuran - Os bancos islâmicos no
Oriente Médio, supostamente,
devem operar como negócios de
risco. Devem dividir lucros e perdas dos seus clientes. Mas os bancos islâmicos são resistentes a se
engajar em atividades de lucros e
prejuízos divididos em um ambiente em que quase todas as empresas mantêm mais de um caixa.
O sistema bancário islâmico deve
ser implementado sobre um pressuposto de confiança generalizada. Confiança mútua é, relativamente, mais forte no Ocidente,
portanto, ironicamente, a possibilidade de um banco operar "livre
de juros" é maior no Reino Unido
ou nos EUA do que no Cairo ou
em Karachi (Paquistão).
(EF)
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