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ARTIGO
Crescem sinais de desaceleração mundial
ANNA FIFIELD
DO "FINANCIAL TIMES"
Os sinais de que o crescimento
da economia mundial está se
aproximando de seu pico foram
reforçados nesta semana, com as
projeções de que o colosso econômico chinês passaria por forte desaceleração no ano que vem, bem
como indicações de desaquecimento nos Estados Unidos. Mas
uma das nuvens mais sombrias
que pendem sobre a economia, os
preços elevados do petróleo, dissipou-se ligeiramente, ainda que
os economistas não descartem a
possibilidade de uma nova alta.
Fator China
A China se tornou importadora
de produtos agrícolas, em termos
líquidos, o que suscita preocupação entre os dirigentes do país
quanto à segurança alimentar do
1,3 bilhão de chineses, devido à escassez de água e de terras aráveis
que pressiona a produção chinesa
de cereais. Hu Jintao, presidente
da China, solicitou estudos urgentes sobre a segurança alimentar
do país, depois que surgiram indícios, em 2003 e neste ano, de que a
produção chinesa de grãos estava
em queda, e a demanda deve aumentar em longo prazo, disseram
funcionários do governo da China e acadêmicos.
A crescente dependência de importações ocidentais, na China,
surge no momento em que o comércio internacional de produtos
agrícolas se torna um dos mais
disputados aspectos da Rodada
Doha de negociações comerciais.
Enquanto isso, o FMI (Fundo
Monetário Internacional) afirma
que a economia chinesa deve
crescer cerca de 7,5% no ano que
vem, à medida que os efeitos dos
controles macroeconômicos impostos recentemente geram desaquecimento da atividade e das
pressões inflacionárias.
Em sua revisão anual da economia chinesa, o FMI disse que esse
ritmo de crescimento em 2005,
caso se confirme, representaria
significativa desaceleração ante o
índice de 9% de crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto) chinês previsto pelo Fundo para este
ano. A projeção foi revisada, de
8,5% em estimativa anterior, e se
compara com a estimativa oficial
chinesa de uma expansão de
9,7%, em termos anualizados, no
primeiro semestre.
Ímpeto do Japão
As exportações japonesas, propulsor essencial da recuperação
econômica do país, aumentaram
pelo oitavo mês consecutivo em
julho, sinal de que conseguiram
resistir, até agora, à desaceleração
nas economias americana e chinesa. Mas os analistas esperam
que o crescimento na exportação
se reduza nos últimos meses do
ano e disseram que não estava claro se a demanda doméstica, que
parece estar oscilando, seria capaz
de compensar as perdas.
Os embarques para o exterior
subiram em 14,3% ante o período
em 2003, de acordo com dados
publicados nesta semana. O alto
preço do petróleo elevou o valor
total das importações, mas o superávit comercial do Japão cresceu em 44%, seu 13º mês consecutivo de expansão.
O país vem desfrutando de sua
mais forte recuperação desde o
estouro da bolha no mercado de
ativos do começo dos anos 90,
mas os números mais recentes sobre o PIB causaram temores de
que o ímpeto esteja se esgotando,
e o consumo começando a cair.
Obstáculo dos EUA
Números mostrando um crescimento insatisfatório nas encomendas à indústria e uma desaceleração na venda de novas residências reforçaram as indicações
de que a economia norte-americana continua a se desaquecer.
As encomendas de bens duráveis pareciam fortes, inicialmente,
com crescimento de 1,7% diante
do total de julho. Mas o número
foi influenciado por aquisições
extraordinárias de aviões civis,
cujo total duplicou durante o mês.
Excetuado o setor aeronáutico,
notoriamente instável, o aumento
nas encomendas foi de só 0,1%.
"É importante reconhecer que
os números de hoje não são tão
fortes quanto o indicador bruto
sugere, porque as encomendas
não estão nem perto de um equilíbrio entre os diferentes setores",
diz Geoffrey Soms, analista da
consultoria Economy.com. "A recuperação da economia americana perdeu, em termos gerais, um
pouco de gás no meio do ano."
Telhado britânico caindo?
A muito antecipada desaceleração no mercado britânico de imóveis residenciais parece finalmente estar se materializando, disseram os economistas, com os bancos registrando surpreendente
queda de 20% no número de hipotecas aprovadas em junho.
Enquanto isso, uma pesquisa da
Confederação da Indústria Britânica constatou que o setor manufatureiro estava apontando para
forte recuperação, com as encomendas mais positivas em seis
anos. Outras estatísticas, estas do
governo, indicavam que, embora
o investimento empresarial total
tivesse caído no segundo trimestre, o investimento em empresas
manufatureiras cresceu pela primeira vez desde 2000.
Déficit alemão
Na Alemanha, o governo deve
reportar nesta semana uma violação das regras fiscais da União
Européia, pelo terceiro ano consecutivo, em 2004.
De acordo com informações
obtidas pelo "Financial Times
Deutschland", Hans Eichel, ministro das Finanças alemão,
anunciará previsão de um déficit
da ordem de 3,7% do PIB, ante a
projeção original de 3,3%. Joaquin Almurria, comissário de Assuntos Monetários da União Européia, deve reabrir seu pedido de
sanções contra a Alemanha por
violação das regras da União. Para
2005, Eichel promete déficit de
menos de 3% do PIB, o que manteria o país no limite das regras.
Na boca do poço
E, evidentemente, a semana
econômica não estaria completa
sem algumas flutuações alucinantes nos preços do petróleo.
Depois de chegar perto da marca de US$ 50 por barril, os preços
caíram em 13% nos últimos cinco
pregões. O contrato futuro de petróleo cru norte-americano negociado na Bolsa Mercantil de Nova
York estabeleceu novo recorde,
cotado a US$ 49,40 na semana
passada, mas caiu acentuadamente nesta semana, com as notícias de uma melhora no suprimento e uma posição de estoque
superior à esperada nos principais países consumidores, especialmente os Estados Unidos, que
causaram uma onda de vendas de
parte de operadores interessados
em realizar os lucros da alta.
A despeito dos preços recorde
do petróleo, alguns dos maiores
países produtores mundiais reduziram seus investimentos em ampliação da capacidade. A Opep
(Organização dos Países Exportadores) revelou nesta semana que
seus membros perfuraram 6,5%
menos poços em 2003, sugerindo
que o baixo suprimento mundial
e os preços elevados do petróleo
talvez se prolonguem por mais
tempo do que se espera.
Tradução de Paulo Migliacci
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