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TRANSE
Transição não terá problemas, diz Fundo; mercado enfrenta amanhã dia dramático devido a dívida em dólar e nova pesquisa
Brasil vai escapar da moratória, diz FMI
DA REDAÇÃO
O diretor-gerente e principal
autoridade do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Horst Köhler, disse ontem que a crise brasileira não deve levar o país à moratória (interrupção e renegociação
do pagamento da dívida pública).
"O Brasil sairá dessa situação
sem a necessidade de moratória",
disse Köhler em uma entrevista
coletiva durante a reunião anual
do FMI e do Banco Mundial, que
acaba hoje em Washington.
O Brasil tornou-se um dos principais temas de conversas no encontro que reúne as principais autoridades financeiras do planeta.
A país é o mais atingido pela instabilidade financeira global, que
se tornou mais aguda a partir de
março, provocada pelo baixo
crescimento nos EUA, Europa e
Japão, por fraudes nos balanços
das empresas americanas, pelo
calote argentino e pelo aumento
da inadimplência das empresas
dos países ricos. A crise é intensificada no Brasil devido ao baixo
crescimento da economia, ao alto
grau de endividamento do setor
público e à incerteza a respeito do
futuro da política econômica,
provocada pela eleição presidencial deste ano.
Na sexta-feira, o risco-país brasileiro, medida de aversão dos investidores a colocar dinheiro numa economia, foi a nível recorde.
O dólar chegou a R$ 3,88 e pode ir
a mais de R$ 4 amanhã, devido ao
vencimento de mais uma parcela
da dívida pública em dólares e ao
resultado da pesquisa Datafolha,
que mostrou ser mais provável
uma vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) no primeiro turno, um
indicativo de possível mudança
na política econômica. Como
amanhã será definido o valor do
dólar pelo qual o governo deve
pagar uma parcela de sua dívida,
o mercado deve especular de modo a elevar a taxa de câmbio.
Um aumento do dólar para R$ 4
amanhã vai elevar também o volume da dívida pública, quase metade dela atrelada à variação da
moeda norte-americana. Em julho, a dívida pública representava
61,9% do PIB (o valor de todos os
bens e serviços produzidos em
um ano no país). Com o dólar a
R$ 4, a relação dívida/PIB deve
chegar a 67%. Em 1998, quando o
governo criou o Programa de Estabilidade Fiscal, o objetivo era estabilizar a relação dívida/PIB em
46,5% a partir de 2001. Essa meta
foi abandonada no ano passado.
Quanto maior a dívida e menor
o crescimento do país, mais os investidores tornam-se incertos
quanto às chances de o débito ser
pago.
Segundo Köhler, no entanto, a
crise brasileira é produto de mercados que estão "nervosos, confusos e irritados" com problemas
que não dizem respeito especificamente ao país: a alta do petróleo
devido ao temor de guerra, as
fraudes nos EUA e a instabilidade
geral nos mercados emergentes.
"Estou confiante de que o Brasil
fará uma transição sem problemas", disse o diretor do Fundo.
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