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EM TRANSE
Mercado elevou taxa do dólar e obrigou o governo a pagar mais caro por parcela da dívida que venceu na terça-feira
Especulação com a dívida dolarizada rende até R$ 600 mi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A especulação em torno da rolagem dos títulos cambiais emitidos
pelo governo deve ter rendido ao
mercado até R$ 600 milhões no
início da semana passada. O valor
equivale à diferença da cotação do
dólar da última terça-feira em relação à média deste mês.
Na próxima terça-feira acontece
um novo vencimento, de US$ 1,2
bilhão. O BC já informou que irá
renovar apenas 70% desse total.
Pretende recomprar (pagar) a dívida restante, o que deve levar o
mercado a jogar o dólar para cima
amanhã -dia em que será definido o preço do dólar pelo qual vai
ser paga a dívida. Como a pesquisa Datafolha divulgada hoje indica que Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) está mais próximo da vitória
no primeiro turno, o que por ora
provoca aversão ao mercado, o
preço do dólar deve sofrer pressão adicional.
Algo semelhante ocorreu na terça-feira passada, véspera do vencimento de cerca de US$ 1,5 bilhão da dívida cambial do governo. Essa dívida, que não foi rolada
pelo Banco Central, é composta
por títulos e outros contratos que
são negociados em reais, mas corrigidos pela variação cambial.
A rentabilidade desses títulos é
definida pela cotação do dólar registrada na véspera de seu vencimento. Na terça-feira passada,
um forte movimento especulativo
levou a uma forte desvalorização
do real. A taxa de câmbio média
medida pelo BC, chamada de
Ptax, fechou em R$ 3,6216, alta de
2,17% naquele dia.
É essa taxa que é usada para corrigir o valor dos papéis do governo. Ela é calculada com base na
média das cotações de todas as
operações feitas ao longo de um
dia de negócios em dólar.
Entre os dias 2 e 20 deste mês, a
taxa de câmbio média calculada
pelo BC ficou em R$ 3,1860. No
dia 2, a cotação estava em R$
3,0286. Se os papéis resgatados na
quarta-feira tivessem usado como
referência uma taxa de câmbio
próxima à média do mês, os investidores teriam recebido R$
4,779 bilhões pelos papéis. Com a
disparada do dólar, esse valor ficou em R$ 5,432 bilhões.
Nas vésperas de vencimentos de
títulos cambiais, é normal observar a ação de investidores que tentam puxar a cotação do dólar para
cima, para que a rentabilidade
dos papéis seja a maior possível.
Num clima em que o mercado já
está propenso ao nervosismo, devido às eleições, esse movimento
especulativo fica facilitado.
Analistas de mercado apontam
como um dos motivos para a alta
do dólar a decisão do BC de não
renovar os papéis cambiais que
estão vencendo, como os da última quarta-feira.
O argumento desses analistas é
que, com a redução na oferta dos
papéis cambiais, os investidores
precisaram recorrer a outros instrumentos que oferecessem proteção ("hedge") contra oscilações
da taxa de câmbio. Muitos teriam
corrido para o dólar, o que pressionou a cotação da moeda.
O BC diz que não renovou a dívida cambial que venceu na semana passada porque essa procura
por "hedge" apontada pelos analistas não existiu. Em leilões realizados nas últimas semanas, o
mercado chegou a exigir juros de
até 50% -além da variação cambial- para comprar os papéis do
governo.
Na avaliação do BC, os investidores que realmente estivessem
buscando "hedge", e não apenas
especulando, não estariam exigindo taxas de juros tão elevadas
para aplicar em títulos ou contratos de "swap" oferecidos pelo governo.
Os contratos de "swap" pagam
ao investidor tudo o que a oscilação do dólar superar a variação
acumulada pela taxa de juros
num determinado período. Eles
têm sido o principal instrumento
usado pelo BC para rolar a dívida
cambial.
Na próxima terça-feira acontece
um novo vencimento, de US$ 1,2
bilhão. O BC já informou que irá
renovar apenas 70% desse total. A
rentabilidade desses papéis será
definida com base na cotação do
dólar de amanhã. Na última sexta-feira, a taxa de câmbio medida
pela Ptax já havia chegado a R$
3,8541.
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